segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Deus e a existência do mal






O ser humano não é apenas criatura física; também é criatura moral. De sorte que devemos distinguir entre os atos físicos e sua qualidade moral. Duas pessoas podem realizar fisicamente o mesmo ato, mas esse ato moralmente não precisa ser o mesmo. 

Um toma uma nota de R$5,00 e a guarda, e é honesto, porque o dinheiro pertence. Outro faz a mesma coisa e é ladrão, porque sabe que dinheiro pertence a outra pessoa. Em ambos os casos há participação divina na realização do ato físico. Mesmo o ladrão não poderia mover a mão sem a mão de Deus que o sustenta, mas Deus absolutamente não tem parte com o pecado do ato pois ele não tem prazer na iniquidade (Salmo 5.4). 

Deus que coopera na parte física, mas não na depravação moral. Porque Deus não deixa de cooperar na realização física de Atos que moralmente contrariam sua vontade não sabemos, contudo é blasfêmia considera-lo o responsável por nossos atos imorais, em razão de sua obra na parte física. 

Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. Não erreis, meus amados irmãos. Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. Tiago 1:13-17 

No que diz respeito à qualidade moral das boas obras que os seres humanos praticam, sabemos que, no caso dos gentios, Deus os incita através da consciência à prática das obras da Lei (Romanos 2.14-15). 

E no caso dos crentes, ele efetua o seu por seu Espírito Santo o querer e o realizar, segundo a sua boa vontade (Filipenses 2.13). Assim Deus concorre não só na realização física, mas também fornece o motivo e a direção às boas obras dos cristãos. 

O fato de que em Deus vivemos e nos movemos e existimos, não reduz o ser humano autômato sem liberdade de querer e agir. O ser humano muitas vezes pensa, quer e faz o que Deus não quer que ele pense, queira e faça, o que mostra claramente que o ser humano tem vontade própria. Consequentemente, segundo o testemunho de sua própria consciência (Romanos 2.14-15) e segundo o testemunho da Escritura (Mateus 12.36), o ser humano, e não Deus, é responsável por seus pensamentos, suas palavras e ações. A ideia do fatalismo é contrária ao ensinamento bíblico. 

Por isso nossas confissões negam que tudo o que o ser humano faz, mesmo em coisas exteriores, ele o faça compulsoriamente, e que seja corrigido a prática do mal: 


(Fórmula de Concórdia, Epítome, art 2, 8, Livro de Concórdia) 

A vontade humana é livre na escolha de obras e coisas que a razão humana compreende por si mesma. 


O mal moral também está sob o controle de Deus: 

De vez em quando, Deus permite que o mal aconteça e que as pessoas andem em seus caminhos perversos (Salmo 81.12, Atos 14.16, Romanos 1.24). 

Outras vezes, quebra o mau conselho e à vontade das pessoas, como no caso de Saul (Atos 9, Salmo 33.10), ou impede e frustra o seu propósito ímpio. 

É como José disse seus irmãos: Vós, na verdade intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gn 50.20). Defende-nos contra perigos como defendeu Ló em Sodoma e Israel no Mar Vermelho. Sem sua vontade, nenhum pardal cai e não cai nenhum cabelo de nossa cabeça (Mateus 10.29-30). Ele nos guarda e proteje de todo mal (Salmo 91.10-12). 

Até o mal que o ser humano pratica está sujeito ao seu controle e deve servir aos seus propósitos: fez uso da traição de Judas e do assassínio judicial de Cristo para levar a efeito o seu plano de salvação, conforme também Gn 50.20. Determina até onde podem ir os ímpios, regulando e limitando os resultados de suas ações de modo tal que. no fim, tudo deve contribuir para o bem de seus filhos (Romanos 8.28).