sábado, 29 de fevereiro de 2020

Entendendo a História da Igreja



Quem deseja saber um pouco da história da igreja tem alguns caminhos a seguir, para facilitar então um pouco as escolhas fica a dica: 



1- Sou iniciante no assunto, o que ler? 

Para quem tem interesse em saber um pouco de como a igreja passou por estes 2000 anos de história, mas não quer se perder em linhas de tempo complexas, e um emaranhado de documentos antigos e confusos, a recomendação é que se leia os livros e história da Igreja. A dica é ler “História Ilustrada do Cristianismo” de Justo Gonzáles: 2 volumes bem completos que narram toda a história da igreja e sua interação com o mundo da política de cada época, reino, etc.... É equilibrado em expor os erros e os acertos da igreja ao longo dos anos. Outra recomendação é ler “Tradição Cristã” de Jaroslav Pelikan: fantástico para se entender a teologia de cada época, em outras palavras: o que a igreja em geral pensava em cada época da história, e o ultio volume, de número 5, reflete sobre a cultura reliriosa moderna em termos muito interessantes. 



2- Conheço a linha histórica básica, quero os detalhes: 

Para quem já tem a linha histórica estruturada, a dica é ler os livros que marcaram a história da igreja e que são respeitados dentro de todo o cristianismo ao longo de toda sua caminhada; ler as versões traduzidas para o português é um ótimo caminho, e por isto mesmo, os 42 volumes da série “patrística” da editora paulus, traz textos preciosos desde escritos pela primeira geração de discípulos que aprenderam diretamente com os Apóstolos até cerca de 400 anos depois. Linguagem fácil de compreender. Depois disso, pode-se buscar aprender o que a igreja começou a fazer e pensar depois desta época, pode-se buscar facilmente a lista na internet dos 36 doutores que marcaram o pensamento medieval. Depois dos doutores, é interessante ler os documentos da época da reforma, e daí por diante, existe abundância de livros, até porque a prensa surge na mesma época e a quantidade de livros então nos permite escolher um ramo e seguir por ele em abundância de material. 



3- Já li o material em português, quero o detalhe do detalhe: 

Neste caso, alguma coisa a mais pode ser achada em línguas modernas como o inglês, e alemão, a maioria dos documentos entretanto, não. Então, sim, se aventurar pela vida da igreja em épocas antigas ainda exige do leitor que ele saiba duas coisas: Latim e grego. 
A boa notícia é que traduções não param de aparecer, e logo todos poderão, esperamos, ter acesso a tudo isto, sem precisar entrar em salas especiais, usando luvas par folhear páginas amareladas em um língua que não é mais corrente. 
Mas cabe a pergunta: que tipo de livro teria o tipo de informação que me interessa? Porque, afinal, não existiam enciclopédias, e os gêneros literários da era medieval e de todo o período chamado de “escolasticismo” é algo bem diferente do que encontramos hoje nas bibliotecas. 

Para simplificar, vamos então explicar alguns, não todos, dos gêneros mais encontrados: 

  1. Svmma: textos escritos em latim, possuem a estrutura de pergunta e resposta de modo que a primeira pergunta propõe um tema, cuja resposta leva a uma pergunta mais detalhada, de modo que quanto mais o texto avança, mais específico será o detelhamento do assunto. Apesar de obras extensas, a summa é o resumo de um pensamento teológico ou filosófico, não diferenciando entre eles. 
  2. Locvs (pl. Loci): literalmente significa “lugar” e trata-se de um ponto que era sempre recorrente no pensamento e nas discussões, por isto, gerava tanta familiaridade quanto um lugar. Os Loci, portanto, tratavam sempre de pontos comuns em um certo meio, onde todos estavam familiarizados com o tema, sua intenção é expor o pensamento do autor. Isto também o difere de uma summa, que podia refletir o pensamento de outro ou de um grupo de pessoas. Pelo fato de o Locus ser escrito como um diário o seria hoje, ele não tem divisão de tópicos e seus assuntos podem ser retomados ao longo do texto várias vezes, conforme o autor se lembrava de algo que julgava relevante. Quando o autor mudava sua opinião, normalmente um novo Locus era publicado, atualizando seus seguidores. 
  3. Enchiridion: É uma obra breve. Contem o resumo de uma certa área do saber. O Objetivo é ser um livro para consulta em caso de dúvidas sobre um determinado ofício. Possui uma cobertura enciclopédica. 
  4. Compendivm: possui estrutura semelhante ao enchiridion, mas em geral feito em latim ou grego, sendo uma versão estendida e completa de um enchiridion. 
  5. Tractvs: muitas vezes não se diferencia de um compendivm. Outras vezes, quando feito sobre um tema específico, leva este nome por ser uma exposição abrangente do tema de modo a abordá-lo por todas as perspectivas possíveis, envolvendo assim outras artes (como eram chamadas as áreas do saber). 
  6. Articulvm: este permanece até hoje. Um breve escrito sobre um tema específico, destinado a circular entre a comunidade acadêmica. 
  7. Postille: Corruptela da expressão “post illa verbi”, ou seja, “sobre estas palavras”, sendo, portanto um comentário do autor sobre um outro texto, via de regra de outro autor. Também sobre este nome se pode encontrar os comentários bíblicos da época. 
  8. Pastoralle: de uso teológico, sermões e mensagens especiais destinadas à igreja 
  9. Tese: as teses eram fequentes no meio acadêmico, sendo uma sequência de breves afirmativas afixadas em local público. Quem desejasse contradizer alguma destas teses, em dia e local combinados encontraria o autor das teses para uma discussão. 
  10. Catena: Citar os antigos era moda, mas os livros eram raros, portanto, as catenas eram coleções de citações, principalmente dos filósofos gregos e romanos que era sempre usada para acrescentar um peso ao argumento em discussão. Quando os livros começaram a ser populalrizados, e o estudo das línguas classicas se tornou mais difundido, inúmeros erros foram apontados nestas catenas por tomarem citações sem que seu contexto fosse avaliado. 
  11. Examen: normalmente publicado em latim e grego (grande ocorrência inclusive de obras bilíngues) não eram destinados ao grande público, sua linguagem é sempre precisa em termos técnicos e filosóficos. O Autor o escreve para que seja um guia de conhecimento destinado aos mais instruídos, fluentes em línguas clássicas, filosofia grega e medieval, e com grandes porções da Vulgata Clementina memorizada. 
  12. Corpvs: feitos em língua latina, são as compilações extensivas das obras de um determinado autor, ou de vários autores agrupados sobre um tema central. Suas coleções facilmente ultrapassam os 100 volumes, algumas compilações chegam a ter mais de 300 volumes, embora muito pooucas bibliotecas pudessem pagar para ter uma coleção deste tamanho, à medida que os livros foram se popularizando, isto passou a ser possível para coleções públicas e algumas instituições religiosas.