sábado, 20 de junho de 2020

A Tradição e as Escrituras


É claro que para que se fale adequadamente da relação entre a tradição e as escrituras, há que se ler muitas páginas e muitos temas devem ser analisados com a devida cautela. Portanto, não há uma intenção de que este pequeno comentário seja exaustivo, mas definitivamente, um comentário de Gerhard em seu Loci Theologici levanta um ponto relevante sobre a questão: A palavra de Deus, seja oral ou escrita deve transmitir a mesma mensagem, no demais, deixo que o próprio Gerhard exponha seu argumento: 



Não há diferença real entre a Palavra de Deus e as Escrituras.

Da regra da lógica: "Um acidente não muda a essência de uma coisa". É um acidente [accidit] à Palavra de Deus, ser enunciado oralmente ou consignado à escrita. É uma e a mesma Palavra de Deus, quer nos familiarizemos com ela por meios orais ou escritos, porque nem a principal causa eficiente, nem a material, nem a forma interna, nem o seu fim mudaram.

Pelo contrário, apenas os meios de revelação no uso instrumental [in usu organico] variam. Em Ex. 20:13 está escrito: "Não matarás". Essa afirmação é idêntica àquela que foi posteriormente falada e repetida oralmente por Cristo (Mt.5:21).

Da consequência absurda: Se a Palavra fosse dupla, escrita e não escrita, o Evangelho seria duplo e a promessa da graça, dupla. O apóstolo dá testemunho do contrário (Gl.3:15-16). Se houvesse uma divisão da Palavra em escrita e não escrita, não seria a divisão de um sujeito em seus próprios acidentes, mas uma divisão de genus em espécies; assim, envolveria a própria essência da Palavra. A conseqüência seria que, uma vez declarada, a Palavra de Deus desapareceria e, quando os livros fossem destruídos, a Palavra de Deus seria destruída. Existem muitos outros absurdos desse tipo. Cristo dá um testemunho oposto em Lucas 21:33 e Is. 40: [9].

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