terça-feira, 14 de julho de 2020

Podemos fazer pactos com Deus?



Quando o sol se pôs e houve densas trevas, eis que um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo passaram entre aqueles pedaços dos animais. Naquele mesmo dia, o Senhor fez aliança com Abrão, dizendo: — À sua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates: Gênesis 15:17,18 



Um fenômeno interessante dos dias atuais é que vemos pessoas por ai dizendo que fizeram um pacto com Deus. Bem comum nos dias de hoje no meio gospel / evangelical. 

Basicamente vemos isto de duas formas, uma, é “oficial”, o crente procura seu pastor e fala que quer fazer um pacto com Deus. Então estes termos são discutidos como um contrato: o que você quer que Deus te faça X o que você terá que fazer. “Se o Senhor melhorar a minha situação, eu vou ajudar a todos que puder” 

Outro jeito, é aquele pacto velado: “preciso ir 7 sextas-feiras no culto para receber a bênção”, “preciso semear no reino de Deus para colher bênçãos”, “vou jejuar para Deus me dar um emprego” 

A beleza desta pasasgem, por mais que pareça estranha, trata-se de um pacto com Deus. Basicamente era um costume antigo: os pactuantes caminhavam por entre os animais mortos, e isso significava: aquele que não cumprir sua parte, acaba como um deles: morto! 

Mas quem passou por aquele caminho? Ao fazer o pacto, Deus passa sozinho. 

O que significa isso? 

A beleza toda desta passagem é que Deus não está negociando suas bençãos, veja com atenção o texto: Deus decide sobre o que ele está obrigado a fazer, não foi Abrão, Deus passa pelo caminho sozinho, assumindo o pacto, não Abrão, Deus repete tudo o que ele havia prometido, confirmando o pacto, já Abrão, não acrescenta nada. 

Existe um verdadeiro evangelho aqui. Deus não está interessado em negociar suas bênçãos, muito pelo contrário, Ele não quiz que nenhuma condição o segurasse de ser aquilo que Ele é: Bom! 

A questão não é se podemos fazer um pacto com Deus, mas sim, por que faríamos isso? Por que insistir em colocar uma condição para sermos abençoados, se Ele quer fazer isso livremente? 

Dar “uma mãozinha” para Deus, no final, mostra que ainda não entendemos o quanto Deus nos ama, e como sempre, nós bagunçamos nossa vida tentando negociar com Deus. Abrão bagunçou bastante sua vida tentando “ajudar” Deus a lhe dar um filho, não precisava! Por fim, ele aprendeu a não tentar “ajudar”, teve uma velhice em paz, e uma morte tranquila, e da parte de Deus, tudo o que ele jurou, foi feito. 

Antes de tentarmos negociar bênçãos de Deus, vale a lembrança: O que Deus nos dá em amor não exige pegamento.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

A Divina Liturgia - Um Modelo Bíblico para o Culto


Sobre a liturgia, devemos entender esta máxima latina: lex orandi, lex credendi, que significa que a forma como oramos, reflete a forma como cremos. Tudo o que fazemos, cada ação, como louvamos, irá refletir em como acreditamos. Se oramos e louvamos como os cristãos sempre fizeram em todas as eras, é bem provável que também compartilhemos a mesma fé. Se oferecemos culto como os entusiastas e sectários, também começaremos a pensar como eles. Talvez, mais triste que isto, ao abandonar a liturgia, nos colocamos em risco de perder de vista o relacionamento integral que esta tem com o Evangelho na Palavra e nos Sacramentos.
Por que não abolimos a missa e suas cerimonias públicas, as orações escritas, vestimentas e outras coisas? Porque a missa é a entrega da Palavra e dos Sacramentos e da liturgia que a acompanha, proclamando a história de todas as eras - o Santo Evangelho. Mas a Liturgia não é estática. Existe uma multiplicidade de ritos. Temos as grandes tradições Ocidentais e Orientais, a Igreja da Confissão de Augsburg recai sobre a primeira, mas isto não faz da segunda menos venerável. Mesmo no rito ocidental, há uma gama de variações. Existe o rito romano, o qual fornece suas bases ao nosso culto. Há também o rito anglicano, que em muito contribuiu para a formação do rito luterano comum dos sínodos americanos, mesmo assim, acrescentamos o Nunc Dimittis ao final de cada divina liturgia.
É bem verdade que a liturgia não nos veio dada em um livro da Bíblia, mas a encontramos por todo o texto sacro: O Kyrie (Salmo 123:3, S. Lucas 18:13). O Gloria in Excelsis (S. Lucas 2:14). O Sanctus (Isaías 6:3, Apocalipse 4:8). O Benedictus (Salmo 118:26; S. Mateus 21:9; 23:39; S. Marcos 11:9; S. Lucas 13:35; 19:38; S. João 12:13). O Agnus Dei (S. João 1:29, 36), e o Nunc Dimittis (S. Lucas 2:29-32). Estes são os textos que são combinados com a liturgia da Palavra e a liturgia dos Sacramentos, que, junto com outras leituras, formam a histórica liturgia, que nos é própria a cada novo dia.
A Apologia da Confissão de Augsburg dedica um grande capítulo explicando a importância de se manter a liturgia. Não abandonemos esta tão antiga e útil escola do Evangelho, assumindo um caminho diferente, não provado pelo tempo, antes, confessemos a mesma fé uma vez dada aos Santos, oremos, louvemos e anunciemos a Palavra da mesma forma, no amor de Cristo, na Unidade do Espírito.