quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

O Que significa a rosa de Lutero?


Este é o símbolo mais famoso que identifica os luteranos, o motivo é simples: ele resume em uma imagem o conteúdo da fé que professamos.

O Significado do símbolo vem do próprio Lutero numa carta a Lazarus Spengler em 8/7/1530, que aqui transcrevemos: 

Graça e paz em Cristo!

Honrado Senhor e respeitável amigo:

Como você deseja saber se o meu selo é correto, dar-lhe-ei mostras de minhas primeiras ideias, pela associação de ouro que tentei gravar em meu selo, com expressão de minha teologia.

O primeiro símbolo teria de ser uma cruz (negra) dentro de um coração, com sua cor natural, para me fazer lembrar que a fé no Cristo crucificado nos salva. “Porque com o coração se crê para a justiça”. Pois ainda que a cruz é preta, mortificadora, e visando causar dor, mas sem modificar a cor do coração, não corrompe a natureza, isto é, não mata, mas conserva a vida. “Porque o justo viverá por fé”, mas pela fé no Salvador.

Este coração repousa sobre o centro de uma rosa branca, para indicar que a fé produz alegria, consolação e paz, não como o mundo oferece paz e alegria. Por esta razão a rosa é branca, e não vermelha, porque o branco é a cor de todos os anjos e espíritos santificados.

Esta rosa, por sua vez está afixada sobre um fundo azul celeste, denotando que tal alegria de fé em espírito é apenas um indício ardente dos prazeres celestiais que nos aguardam, como se antecipam e se sustentam através da esperança, embora ainda não revelados.


Ao redor deste fundo azul está um anel dourado, que significa que tal felicidade no céu não terá fim, e é mais preciosa que todas as alegrias e tesouros, uma vez que o ouro é melhor e mais precioso dos metais.

Cristo, nosso querido Senhor esteja com seu espírito até a vida eterna.


Amém.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

25 de dezembro: é o dia certo para o Natal


Todos os anos nós cristãos somos inundados com alegações de que o dia 25 de dezembro não é o dia certo para o Natal, que o cristianismo aderiu a datas de festas pagãs, que todo o calendário da igreja era um esquema de marketing para puxar os pagãos para diferentes celebrações e convertê-los. Porém tudo isto está longe da realidade.

O dia 25 de dezembro é uma data muito precisa para celebrar o nascimento de Cristo. Os cristãos celebraram inicialmente o nascimento de Jesus na páscoa. Isto se originou de uma prática da igreja primitiva de reconhecer a data da morte de um santo como a mesma data de seu nascimento. Os antigos pareciam gostar da simetria.

Quando o cristianismo começou a reconhecer o nascimento de Cristo como um dia próprio, a data em dezembro apareceu muito rapidamente. Hipólito de Roma defendeu o 25 de dezembro, por volta do ano 200 d.C. São João Crisóstomo parece ter encerrado a discussão, declarando o dia 25 de dezembro como a data certa, em torno do ano 300 d.C.


Há uma quantidade razoável de dados que sustentam esta data:

Zacarias estava servindo no templo com seus parentes. Eles estavam servindo no 8º mês do ano judaico. Nissan, o 1º mês, cai entre março e abril. O 8º mês cai entre meados de outubro e meados de novembro.


Agora, enquanto estava servindo como sacerdote perante Deus, durante este intervalo de meses, de acordo com o costume do sacerdócio, Zacarias foi escolhido por sorteio para entrar no templo do Senhor e queimar incenso... E quando terminou seu tempo de serviço, foi para sua casa. Depois desses dias sua esposa Isabel concebeu, e durante cinco meses ela se manteve escondida, dizendo: "Assim o Senhor fez por mim, nos dias em que me olhou, para tirar minha reprovação entre as pessoas". (Lucas 1:8-9, 23-25)



Depois desses dias, Isabel concebeu. Devemos entender uma data anterior a novembro, dentro da dita janela, como os pais da igreja o fizeram. Assim, Isabel concebeu por volta do dia 25 de outubro. No sexto mês de gravidez encontramos isso no texto:



E o anjo lhe respondeu: "(...) E eis que sua parente Isabel na sua velhice também concebeu um filho, e este é o sexto mês com ela que foi chamada estéril. Pois nada será impossível com Deus". E Maria disse: "Eis que eu sou a serva do Senhor; que seja para mim segundo a tua palavra". E o anjo se afastou dela. Naqueles dias, Maria levantou-se e foi com pressa para a região montanhosa, para uma cidade em Judá, e entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. (Lc 1,35-40)

Maria concebe, portanto, por volta do dia 25 de março. Depois ela visita Isabel, que está no sexto mês. João Batista nascerá por volta do dia 25 de junho. Mais seis meses e chegamos no evento do nascimento de Jesus.

O nascimento de Jesus em 25 de dezembro é uma estimativa completamente razoável. A seleção dos primeiros cristãos da data do nascimento de Jesus parece ter sido influenciada principalmente pelas escrituras e por matemática simples. Agora, a data pode não ser totalmente precisa. Há cerca de 30 dias de espaço de manobra no início do cálculo. Mas, o dia 25 de dezembro é a época certa do ano. Está pelo menos muito próximo do dia certo, se não exatamente correto, o que também é possível.

Mais importante que a data é lembrarmos que aquele bebê é o grande Eu Sou, O mesmo Deus que deu a vida a Maria, nasceu de seu ventre por nós e para a nossa salvação.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

TESE 93: Como entender?

 


93ª Tese: Abençoados sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.




    Este parece um texto um tanto confuso de entender, ainda mais se considerarmos que a tese anterior parece dizer exatamente o oposto. Então como podemos entender esta tese de Lutero?

    Antes de qualquer coisa, alguns pontos precisam ser relembrados:

    1- Lutero vai amadurecendo seu pensamento ao longo dos anos, as 95 teses portanto não expressam o auge de seu pensamento, mas o começo dos seus questionamentos

    2- Não existe somente as famosas 95 teses, há outros temas em que Lutero também escreveu teses

    3- Teses não explicam o pensamento do autor, elas são pequenas afirmações destinadas a abrir uma discussão, desta forma, as teses eram divulgadas com antecedência para que os debatedores tivessem tempo de se preparar para defendê-las ou refutá-las, e então, a data do debate público era marcada.

    4- Os escritos de Lutero somam 121 volumes e cerca de 80.000 páginas na edição completa das Weimarer Ausgabe, não se pode conhecer o pensamento de Lutero lendo-se apenas uma página, que são o início da carreira apenas do reformador.

Agora, sabendo-se da natureza do material que representa as 95 teses de Lutero, pode-se tentar entender, pela pena do próprio Lutero o que significa sua tese 93:

Esta carta foi enviada a um irmão agostiniano no dia 15 de abril de 1516. Lutero diz:

"A cruz de Cristo foi dividida em todo o mundo, e cada um se encontra com sua própria porção dela. Portanto, não a rejeite, mas aceite-a como a mais santa relíquia, a ser guardada, não em um cofre de ouro ou de prata, mas em um coração de ouro, ou seja, um coração imbuído de caridade gentil". Pois se, pelo contato com a carne e o sangue de Cristo, a madeira da Cruz recebeu tal consagração que suas relíquias são consideradas supremamente preciosas, quanto mais as feridas, perseguições, sofrimentos e o ódio dos homens, tanto dos justos como dos injustos, ser considerado como a mais sagrada de todas as relíquias que, não pelo simples toque de Sua carne, mas pela caridade de Seu coração mais amargamente provado e de Sua vontade divina, foram abraçadas, beijadas, abençoadas e abundantemente consagradas; pois assim foi uma maldição transformada em bênção, e o dano em justiça, e a paixão em glória, e a Cruz em alegria. ”


Esta expressão um tanto enigmática é ainda explicada diretamente na carta escrita a um Prior da Ordem dos Agostinianos, no dia 22 de junho de 1516:

"Procura e anseia pela paz, mas na ordem errada. Pois procura-a como o mundo a dá, não como Cristo a dá. Não sabeis que Deus é 'maravilhoso entre os Seus santos', por esta razão, que Ele estabelece a Sua paz no meio de nenhuma paz, ou seja, de todas as tentações e aflições'. Diz-se: 'Tu habitarás no meio dos teus inimigos'. O homem que possui a paz não é o homem que ninguém perturba: é a paz do mundo; ele é o homem que todos os homens e todas as coisas perturbam, mas que suporta tudo pacientemente, e com alegria. Com Israel dizeis: 'Paz, paz', e não há paz. Aprendei a dizer antes com Cristo: 'A Cruz, a Cruz', e não há Cruz. Pois a Cruz deixa imediatamente de ser a Cruz assim que se exclama alegremente, na linguagem do hino,

"'Bendita cruz, acima de todas as outras,
Uma e única árvore nobre'".

Por fim, a estranha tese 93 ganha um contorno nobre, com ela, Lutero começou a esboçar a Teologia da Cruz, grande marca do pensamento da reforma na Alemanha.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Os Versos Adicionais em Ester




Notas rápidas após a leitura

Apenas esclarecendo, devemos fazer uma distinção entre a parte canônica e a não-canônica no livro de Ester. Por incrível que pareça, já fomos acusados de renegar todo o livro. Acusações absurdas e nada honestas, diga-se de passagem. De fato, sempre aceitamos o Livro de Ester como parte inspirada por Deus nas Escrituras sagradas, só não podemos dizer o mesmo do apêndice do livro. 



1 – Foi escrito em Grego 

Jerônimo, grande tradutor da Bíblia, atesta que o apêndice não foi escrito em hebraico, sabemos que Josefo sugere que teria havido um texto hebraico do qual o grego teve origem, mas ninguém sabe, ninguém viu. 

Ok, concedemos então que possa ter havido um texto hebraico, sua autoridade é nula, já que não o temos mais para consulta, e por acaso, Deus não preservaria aquilo que ele teria inspirado os profetas, da mesma forma que preservou o restante do livro de Ester? 



2- Desaparecimento Estranho 

Na verdade o apêndice não é apenas na parte final do livro, mas contém porções no começo do livro, outras no meio, outras no final, mas qual a probabilidade de desaparecer apenas estas porções de texto na língua original, ao passo que o livro em si continuou perfeitamente preservado? 

Se tivéssemos trechos faltantes no texto, poderíamos até considerar a ideia do desaparecimento, mas o texto sem o apêndice é perfeitamente coeso. 

No mais, Josefo também não é a fonte para determinar o cânon, e podemos ler uma série de acusações contra a versão de Josefo em Lyra, Sixtus Senensis e Jerônimo. 



3- O Problema da Autoria 

O apêndice chega a nós pela mão de Lisímaco, Josefo, segundo alguns, foi quem incluiu o texto como parte genuína do Livro de Ester. Bom, sabemos que Josefo não era notável por uma autoridade profética, além de que não é provável que um mesmo escritor tenha feito um livro, e depois uma repetição do mesmo livro, contradizendo a história que acabara de narrar. E se foi escrito por um profeta, por que não segue o mesmo padrão da escrita do livro em si? 

Outro problema, o anexo menciona Ptolomeu e Cleópatra, dois que não viveram na mesma época que Assuero e Ester. Eles vieram depois dos eventos do Livro de Ester e depois de Esdras ter organizado o cânon, então não houve profeta naquela época. 



4- O Problema com o Livro de Ester 

No livro de Ester (2:16), o esquema dos eunucos contra Assuero foi no sétimo ano, mas o suplemento (11:2) afirma que foi no segundo, isto coloca o plano contra o rei antes mesmo do seu casamento, mas o livro canônico de Ester nos mostra que foi após. Além disto, o livro canônico de Ester nos mostra que a causa da ira de Hamã foi o fato de Mordecai não se ajoelhar perante ele (3:5), porém o anexo nos diz que foi a morte dos eunucos (12:6) (ok, este até da pra conciliar, mas mudar a narrativa nos levanta sérias dúvidas sobre a confiabilidade do apêndice). 

Seguindo, em 5:2, o rei olhou favoravelmente para Ester, mas no apêndice em 15:10, olhou com ira, alguns tentam explicar isto dizendo que no primeiro momento ele ficou bravo, mas depois teria se acalmado, mas isto também conflita com o livro canônico que informa que o rei a olhou favoravelmente assim que ela entrou, antes mesmo que houvesse uma explicação para uma entrada não autorizada. 

O livro canônico nos diz que os judeus seriam mortos no dia treze de Adar (3:13, 8:12, 9:1), o suplemento joga isto um dia para frente (13:6). 

No Canônico, Hamã é chamado de Agagita (outro nome para os Amalequitas), mas o apêndice diz que era um macedônio (16:10) 



5- Um Problema Ético 

Em 13:14, Mordecai teria se negado a se prostrar para não transferir a honra que cabe a Deus para um homem, mas o livro canônico nunca informou que Hamã queria ser adorado como um deus, e o próprio povo hebreu tem exemplos de prostrações diante de homens como uma forma de honra civil, esta é uma fala que soa estranha ao livro. 



6- Um Problema Histórico 

Não bastasse o fato de Hamã ser identificado como Macedônio, em 16:14 é dito que ele teria tentado transferir o domínio dos persas para os macedônios. O problema é que naquela época os Macedônios sequer eram uma ameaça ao poder da Pérsia e permaneceram inexpressivos até os dias de Felipe, o pai de Alexandre, o Grande, o que é um evento muito posterior aos eventos do livro canônico de Ester. Tão posterior, aliás, que Mordecai teria vivido quase 300 anos, já que 11:4 chega a afirmar que ele foi levado cativo à Babilônia por Nabucodonozor, sobrevivido aos 70 anos de servidão e 220 anos entre os reinados de Ciro e Artaxerxes. 

Poderíamos até apelar para o argumento da longevidade bíblica, se por um acaso, o apêndice já não estivesse cheio de problemas insolúveis na narrativa. 



7- Tira, Põe, Deixa Ficar 

Jerônimo considerou tirar o apêndice (do livro, claro!), Melito, Atanásio e Gregório de Nazianzo excluem o livro todo. Os dois primeiros seguiram a ideia do cânon judaico, Gregório, talvez (e bem talvez), tenha considerado apenas os capítulos adicionais como fora, chamando o livro de Ester (canônico) de “Esdras” na sua lista, como Isidoro chega a mencionar. 

Atanásio chega a mencionar que os judeus tinham canonizado o Livro de Ester, sem detalhes sobre o apêndice, Nicolau de Lyra tira o apêndice (do livro!), dizendo que o apêndice parece ter sido uma adição posterior cunhada por Josefo e outros escritores 

Dionísio, o Cartuxo, Thomas de Vio Cajetano, Sixtus Senensis consideraram o apêndice como apócrifo, Belarmino escreve contra o apêndice e remete sua opinião a Jerônimo. 

Sixtus Senensis chega a comentar que ele sabe da condenação de “anátema” imposta pelo Concílio de Trento, mas que ela não se deve aplicar ao que não pertence ao livro na sua integridade. 

Nenhuma novidade, Montano desconsidera o livro. 



Considerações finais 

Sobre o argumento de que o Texto foi preservado na Septuaginta, que era a bíblia dos Apóstolos e dos Santos Pais: é verdade que o nesta versão, o livro e o apêndice circulavam juntos, assim também como ninguém ignora o fato de que as escrituras hebraicas eram usadas e bem conhecidas, e, portanto, esta adição era conhecida de todos os Pais e de toda a Cristandade. A tese de que a Septuaginta um dia substituiu as escrituras hebraicas é tão absurda, que até hoje se usa o texto hebraico para resolver dúvidas no AT, não o grego. 

Sobre quem apela para a numeração diferente dos livros na bíblia grega, e que este seria o motivo de não lermos isto nas listas de livros dos antigos Pais, lembramos também que Melito, Hilário, Epifânio, Jerônimo e Rufino não numeravam o cânon de acordo com os gregos, mas seguiam a lista hebraica, e os hebreus não tem um livro chamado de “3ª Esdras”, logo, os dois livros mencionados não servem para o argumento da canonicidade do apêndice. 

Sobre alguns dos Santos Pais chamarem este livro de “Santo” – este argumento é realmente fraco, nós chamamos a Bíblia de Santa, e, no entanto, os Santos Apóstolos encheram suas cartas (até mesmo as canônicas) de citações de Menandro, Aratus, Epimenedes, e tantos outros, mas ninguém ousa canonizar filósofos pagãos. E o que dizer de Judas v.4, que cita o livro de Enoque, que é apócrifo e ninguém discute? Ainda assim, chamamos o conjunto de livros de “Bíblia Sagrada” Os Santos Pais também citaram o Pastor de Hermas, que ninguém chama de Canônico, O mesmo ocorre com 4ª Esdras, amplamente citado pelos Santos Pais, mas mantido fora do Cânon. Os decretos dos concílios também são chamados de “canônicos”, mas nem por isto são incluídos no conjunto de livros canônicos chamado “Bíblia Sagrada”, portanto, este testemunho histórico, não confere autoridade alguma. 

O testemunho de Orígenes: ok, é verdade que ele é um autor patrístico importante e ele atesta que o livro todo era lido, mas devemos lembrar que Orígenes sempre alinha seu pensamento aos judeus e ao que está no cânon dos judeus, e até Eusébio atesta isto 

Com todas essas observações, ainda é um bom livro de ser lido com seu apêndice. O que se deve ter por claro é que sobre esta parte acrescentada, ela é útil para instruir em comportamento, não para confirmar alguma doutrina, e por isto mesmo, a sua leitura acompanha a história de toda a cristandade no ocidente. 

domingo, 3 de janeiro de 2021

O Livro de Tobias

 






Algumas notas rápidas sobre a leitura do livro de Tobias: 


1. Não está contido nas fontes hebraicas. 

É dito que tenha sido originalmente publicado no idioma caldeu, mas isto é incerto, e a versão hebraica que temos é feita a partir da edição grega, então tudo o que temos são duas traduções, uma grega e uma latina, sem a língua original para estudo. Analisar um texto sem a língua original para uma base é complicado por si só, afinal, toda tradução é uma traição. 



2. A versão grega não concorda com a latina. 

Lendo a versão grega e a latina, nos deparamos com outro problema: cada uma afirma uma coisa diferente: 

Diz-se que Sara, com quem o jovem Tobias estava prestes a se casar, viveu em Rages (Tobias 3:7), uma cidade da Média, onde Gabael também teria estado (Tobias 4:1). Por outro lado, quando Tobias deixa Ragüel e está prestes a celebrar seu casamento com Sara (Tobias 9:3), ele envia o anjo “a Gabael em Rages” para tirar dinheiro dele e ao mesmo tempo para convidá-lo para o Casamento. Se Sara e Gabael viviam em Rages na Média, que necessidade havia de enviar o anjo para Gabael? Uma solução seria dizer que a versão latina estava corrompida, mas, como afirmar sem poder ver o texto como fora escrito? 

Tobias 1:1 tem coisas em Grego que não estão no Latim, em 1:4, Tem coisas em Latim que não estão no Grego, em 1:7 tem muito mais coisa em Grego que em Latim, e ainda assim, há coisas no Latim que não se encontra no texto grego, e esta lógica se repete abundantemente pelo livro todo. 

Tobias ficou cego aos 56 na versão latina (14:3) e aos 58 na grega (v.2). Teria ficado cego por 4 anos na versão Latina (14:3); na grega, oito (14:2). Ele teve 6 filhos na grega (14:5); na latina, 7 (14:5). O velho Tobias viveu 102 anos na Latina (14:2); 158 na grega (14:13). O jovem viveu 99 na Latina, (14:16); na grega, 127 (14:16). No Latim, Senaqueribe foi morto 45 dias depois (1:24); na grega, 55 dias. Na grega, Jerusalém será desolada e a Casa do Senhor queimada (1:6), mas no Latim, isto já tinha acontecido. Desta forma, se alguém quiser defender que este livro seja canônico, deveria primeiro saber dizer qual dos dois estaria correto. 


Tem algumas coisas que não concordam com a verdade canônica. 


a) Anjo Mentiroso 

Primeiro, em Tobias 5:18, o anjo, o companheiro do jovem Tobit, diz que ele é parente de Azarias e de Ananias, o Velho. Em Tobias 7:3, Tobit e seu companheiro anjo foram questionados por Ragüel de onde eles vieram, e eles responderam: “Dos filhos cativos de Naftali em Nínive”. O anjo, portanto, está mentindo, dizendo que é dos filhos de Israel, que é filho de Azarias e que pertence à tribo de Naftali. No entanto, em nenhum lugar da Escritura canônica há mentira atribuída aos santos anjos. Na verdade, esse é um pecado muito sério. Ok, concedemos que alguns já tentaram explicar que (1) O anjo diz uma coisa; Tobias entende outra. (2) O anjo não apenas chama a si mesmo de “filho de Ananias”, mas também diz que pertence à tribo de Naftali, mas como explicar - ou melhor, distorcer - o fato de o anjo: 

(3) dizer que ele era do cativeiro de Nínive? Os anjos também foram deportados para o cativeiro assírio? 

(4) Tudo isso para não dizer do fato de que uma etimologia diferente é dada para os nomes “Israel” e “Naftali” em Gênesis 30:8; 32:28. (Toda tentativa de alegorizar a fala para dizer que o anjo não mentiu, acaba dando significados aos nomes que diverge do que o livro de Gênesis já atribuiu) 

(5) Em grego, ele é chamado de “filho de Ananias, irmão de Tobias”. Deus é, então, irmão de alguém? 



b) Fumaça exorcista 

Em segundo lugar, em Tobias 6:8 o anjo diz ao Tobias mais jovem: “A fumaça de um coração tirado de um peixe e colocado sobre as brasas remove todo tipo de demônio de um homem ou de uma mulher para que não aproxime-se deles novamente.” No entanto: 

(1) Em “toda a armadura” contra o diabo que os apóstolos prescreveram (Efésios 6:11; 1 Pedro 5: 8), nenhuma menção é feita a esta fumaça. 

(2) Cristo diz o contrário: “Este tipo de demônio não é expulso, exceto por oração e jejum” (Mateus 17:21). Portanto, é falso que todo tipo de demônio possa ser expulso pela fumaça do coração de um peixe. 

(3) Nem mesmo Cristo expulsou demônios “para que nunca mais voltassem” (Mateus 2:43; Lucas 11:24). Na verdade, o diabo que estava atacando Cristo afastou-se Dele apenas “por algum tempo” (Lucas 4:13). 

Com que aparência de verdade, então, o anjo faz sua declaração sobre a fumaça do coração de um peixe, que faz os demônios fugir, para nunca mais voltar? Se os demônios tivessem corpos naturalmente unidos a eles, não seria impossível que as coisas corpóreas os impressionassem por causa de seus corpos. Mas porque eles são corpos espirituais, nenhuma criação corpórea pode causar algo neles. Se algo assim acontecesse, não seria em virtude de tais coisas corpóreas; em vez disso, os demônios fazem isso voluntariamente para manter as pessoas no erro. 

Ok, concedemos que alguns já tentaram explicar que a fumaça representa a oração, mas o texto é claro em colocar a fumaça física e o exorcismo como causa e efeito, e mais, em Tobias 8:2, o anjo primeiro fala de “o demônio posto em fuga pela fumaça”. Mais tarde, então, “Tobias se levantou para orar”. 



c) Anjo Intercessor 

Terceiro, em Tobias 12:15 o anjo é dito "oferecer nossas orações e súplicas a Deus." Esta honra, entretanto, é própria de Cristo como nosso mediador e intercessor (Rm. 8:34; 1 Tm. 2:5; 1 João 2:1). Veja, existe uma relação entre oferecer orações e aceitá-las ou ouvi-las. Atos 10:4: “Suas orações subiram como um memorial diante de Deus.” Isso é explicado no v. 31 da seguinte forma: "Suas orações foram ouvidas." Mas agora, Deus ouve nossas orações pelo mérito mediador e intercessão de Cristo SOMENTE. Esta honra cabe somente a Cristo: que Ele oferece nossas orações a Deus. A Ele se diz: “Tu és sacerdote para sempre” (Salmos 110:4; Hebreus 7:25). Hb. 13:15: “Por meio dele as orações devem ser oferecidas a Deus”, assim como no Antigo Testamento só o sacerdote tinha permissão para oferecer o holocausto (Ex 30:7), o que denota nossas orações (Sl 141:2) que o Anjo do Grande Conselho, isto é, Cristo, em pé diante do altar como nosso mediador e suplicante, oferece a Deus (Apocalipse 8:3). Aqui, concluímos que Cristo é entendido como “O Anjo” do fato de que O Anjo é apresentado como sacerdote e que Ele obviamente é separado do resto dos anjos quando é dito que outro anjo estava diante do altar. Não devemos estabelecer outros mediadores desse Mediador, porque não vamos ao Pai senão por Ele (João 14:6). Para ter certeza, Platão (o Banquete) estabelece os demônios como "os intérpretes e portadores entre Deus e os homens." Mas Agostinho refuta esta opinião (De civ. Dei, livros. 9-10; Confess., livro 10, c. 42). Sabemos que o grande teólogo Dr. Martin Chemnitz também lista entre os deveres dos anjos que “eles oferecem nossas orações a Deus” (vol. 1, Loci, p. 335). Para apoiar essa ideia, ele traz a declaração do profeta em Zc. 1:12, onde os anjos oram por nós, bem como Jó 33:23; Atos 10: 4; e Ap. 8:3. Se quisermos atribuir tal coisa aos anjos, entretanto, teremos que fazer a distinção necessária entre a simples oferta de orações e a oferta propiciatória delas, por meio da qual nossas orações se tornam agradáveis ​​e aceitáveis ​​a Deus. Este ofício deve ser deixado somente para Cristo. Nenhum altar agrada a Deus, exceto Cristo, Seu Filho. 



d) Sete Anjos 


Quinto, em Tobias 12:15 Rafael diz que ele é "um dos sete anjos que estão diante de Deus". Isso está relacionado às fábulas do Talmud porque apenas sete anjos estão diante de Deus e estes também presidem os sete planetas, eles também colocam um anjo especial encarregado de cada dia da semana: A Escritura canônica, entretanto, nada sabe sobre essa responsabilidade dos anjos e reivindica um número muito maior para aqueles que dizem estar diante de Deus. Dn. 7:10: "Milhares de milhares O serviram, e dez mil vezes cem mil se apresentaram diante Dele." 



Controvérsias

Muitos seguem o que diz o Concílio de Trento e consideram este livro como igualmente canônico com os demais e se apoiam no fato de que alguns dos Santos Pais, como Cipriano, Ambrósio, Basílio e Agostinho chamam este livro de “santo”. Entretanto, devem considerar que o contexto é de dize-lo santo como separado dos livros seculares. Afinal, Ambrósio também chama 4 Esdras de “divino” Embora o mesmo concílio não o tenha considerado canônico. Portanto o testemunho dos Pais não é de atestar a inspiração divina e separar canônicos e apócrifos, mas simplesmente separam os livros que compõem a Bíblia dos seculares. 

Sobre as citações dos Pais com referência ao livro de Tobias, também é de se notar que é recorrente ao comentá-las, valem-se de citações que estão presentes em livros canônicos de igual modo. 

Um ponto interessante de se notar é que Jerônimo o classifica como apócrifo, e em grande parte, os defensores do Concílio de Trento tentam defender que ele é de uma época em que o Cânon não estava decidido, o que justifica seu erro, entretanto, o mesmo grupo tende a usar os Santos Pais anteriores ao próprio Jerônimo como autoridade dizer qual a verdadeira lista de livros da Igreja. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Oração da terça-feira: O Cristão que se alegra em sua Regeneração



Oração da manhã:



Ó Deus poderoso e querido Pai! Como poderei conhecer, elogiar e engrandecer suficientemente o Teu amor, que se compadeceu de minha alma e a salvou da destruição? Que glória não me concedeste no Santo Batismo, recebendo-me como teu próprio filho! Os homens se orgulham de seu nascimento nobre, posição elevada e riqueza terrena. Mas valorizo ​​ainda mais a bem-aventurança que anseia por mim como Teu filho. Pois, se somos filhos de Deus, então somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é que sofremos com Ele, para que também juntos possamos ser glorificados. Visto que sou um filho de Deus, meu Pai celestial me manterá, guiará, apoiará e defenderá, e nunca, sob nenhuma circunstância, por minha causa. Ele não será apenas minha estadia na vida, mas minha alegria na morte. Ele vai me vivificar, fortalecer e confortar. E quando eu partir deste mundo, Ele me levará para a vida de alegria lá em cima. Ó querido Pai, conceda-me o Teu Espírito Santo, para que Ele possa me lembrar constantemente desta bem-aventurança que é minha. Ainda estou no mundo e habito entre os filhos dos homens. Ó, guarda-me, para que eu não possa seguir o exemplo mundano e viver em pecado, ou de qualquer forma arriscar minha salvação por me conformar com seus caminhos. Se eu vir outros fazendo coisas erradas, ou ouvi-los falando mal, deixe-me lembrar que sou um filho de Deus e que tais pecados e vícios são inadequados para mim. Capacita-me, por Tua graça, para dizer ao mundo: “Minha filiação divina e herança celestial não serão trocadas por teus prazeres e vaidades.” Ó meu Jesus! Tu sabes que Te amo e que fico cheio de genuína tristeza sempre que deixo de Te amar como gostaria e deveria. Ó, aceite os desejos do meu coração e capacite-me a levar uma vida de fé e santidade e devoção e pureza e humildade como de uma criança. Deixe-me amar, honrar, temer e seguir a Ti, para que eu possa viver e morrer com Teu filho, e que possa, como Teu filho, compartilhar das alegrias do céu. Amém. 







Oração da noite na terça-feira. 




O Senhor está do meu lado; Eu não temerei: o que pode o homem fazer comigo? Com estas palavras, venho a Tua presença, ó gracioso e amoroso Deus, nesta hora da noite, e Te rendo humildes agradecimentos, porque Tu permitiste que eu passasse este dia sob Tua proteção paterna, Teu amoroso cuidado, Tua graciosa orientação e Tua bênção abundante. Senhor, grande é a tua bondade e as tua compaixão não falha. O Senhor está perto de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele cumprirá o desejo daqueles que O temem; Ele também ouvirá seu clamor e os salvará. Oh meu Deus! Com que rapidez um dia passa! Como uma flecha disparada do arco, nossos anos voam tão rapidamente. Portanto, faze-me saber o meu fim e a medida dos meus dias, o que é; para que eu saiba como sou frágil. Eis que fizeste meus dias como um palmo; e a minha idade é como nada diante de ti. Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo; para que cada um receba o que por meio do corpo fez, conforme o que fez, seja bom ou mau. Portanto, entro em julgamento comigo mesmo e pergunto: Minha alma, como passou este dia? Você se ocupou com pensamentos de bem? Deus permaneceu unido a você ou você O entristeceu por pecado deliberado e intencional? Disse o que era honesto, puro e de bom? Você espalhou o louvor de Deus? Ou transbordou de sujeira e conversas tolas? Para onde vocês foram, pés? O que vocês fizeram, mãos? O que vocês ouviram, ouvidos? O que vocês viram, olhos? Qual tem sido teu desejo, objetivo e esforço hoje, meu coração? Oh meu Deus! Se devo responder a todas essas perguntas, como ficarei à Tua vista? Ó Senhor, com o passar do dia tira também as minhas transgressões. Ó Jesus, purifica-me dos meus pecados com o Teu sangue precioso. Ó Espírito Santo, sela-me o perdão de todos os meus pecados antes de adormecer, para que, se esta noite for a minha última, eu não pereça eternamente. Se eu for assim absolvido de meus pecados, então, ó Deus Triúno, dormirei em paz; e amanhã evitarei com maior diligência tudo o que Te desagrada. Meu Pai, espalhe a cobertura do Teu amor sobre mim e sobre os meus. Meu Jesus, permita-me repousar em paz e segurança pelas tuas chagas. Ó Espírito Santo, faze com que o último suspiro com que adormeço seja uma entrega de minha alma em tuas mãos. Amém.


Fonte:  Retirado do livro de devoção de  John Frederick Starck

terça-feira, 27 de outubro de 2020

O que temos é a Sucessão Apostólica





Por Rev. Dr. Korey D. Maas


Uma vez mais a crise de abuso clerical na Igreja Católica Romana voltou a destacar a questão da sucessão apostólica. Precipitando uma série de deserções públicas de Roma, também levou muitos católicos a articularem publicamente as razões para a sua permanência. Provavelmente, a justificativa mais ouvida foi que, embora a Igreja Romana esteja moralmente danificada, Cristo não pode ser encontrado em nenhum outro lugar na Eucaristia. Embora tal afirmação seja indefensável, mesmo na base da própria teologia católica que reconhece a presença real de Cristo também nos altares das Igrejas Ortodoxas Orientais), tem o potencial de persuadir qualquer que um que considere a possibilidade de buscar comunhão, mesmo em uma igreja luterana confessional.


Para o luterano que poderia responder: "Mas nós não somos como os outros protestantes! Nós também cremos que o corpo e o sangue de Cristo estão verdadeiramente presentes em nossos altares!" O apologista católico responderá: "Por mais piedosas que sejam suas crenças, está errado; "Porque o seu clero não está na sucessão apostólica, suas ordenações são inválidas, e, portanto, não pode realizar a presença de Cristo no sacramento."

Mas a crise de abuso é apenas o contexto mais recente em que se ouve sobre a rejeição das ordens luteranas. Por ter sido expresso com certa regularidade desde a própria Reforma, os teólogos luteranos não negligenciaram as respostas articuladas à acusação. No entanto, algumas dessas respostas, como apontou Heath Curtis, são menos úteis do que outras. Portanto, vale a pena rever o que é a tradicional objeção romana às ordens luteranas, e qual é a resposta confessional luterana a essa objeção. Gostaria apenas de acrescentar alguns pontos para reforçar ainda mais a credibilidade contemporânea dessa resposta confessional.

Curtis notou que a tradicional rejeição romana das ordens luteranas poderia ser reduzida a um silogismo conciso. Somente bispos podem colocar homens no ofício ministerial; Luteranos não têm bispos; Logo, os luteranos não podem colocar homens no ministério. Como essa formulação torna evidente, as referências romanas à "sucessão apostólica" são frequentemente sinônimas de "sucessão episcopal"; a sucessão é mantida pela ordenação episcopal e somente episcopal.

Com referência ao Tratado sobre o Poder e Primado do Papa, Curtis nos lembra que

As Confissões não atacam a premissa principal. Antes, as Confissões atacam a premissa menor, afirmando com veemência que temos muitos bispos; porque todos os ministros são bispos porque existe apenas um Ofício do Ministério por direito divino.

Em outras palavras, o problema com a objeção romana não é sua insistência em que somente os bispos podem ordenar pastores. O problema está em qualquer afirmação de que o ofício episcopal é, por direito divino, um ofício distinto daquele do pastorado. Nas palavras do Tratado (§65) "já que por autoridade divina os graus de bispo e pastor graus não são diferentes, afirma-se que a ordenação administrada por um pastor em sua própria igreja é válida por direito divino."

Para a confirmação patrística da unidade do direito divino do ofício ministerial, o tratado apela especialmente a Jerônimo. Mas, como observado por Arthur Carl Piepkorn, muitos outros pais primitivos, com base no testemunho bíblico, concluíram de maneira similar que presbíteros e episkopos se referem ao mesmo ofício, e até mesmo no século XI poderia confessar que "a suma total do sacerdócio está está estabelecida nos presbíteros". Neste caso, também observa que durante a Idade Média, as ordenações de sacerdotes não episcopais e até mesmo os abades dos mosteiros frequentemente eram reconhecidas como válidas. (para os interessados, este "intercâmbio" refere-se às obras de estudiosos católicos contemporâneos que reconhecem que o Novo Testamento não distingue entre os ofícios pastorais e os episcopais).

À luz do exposto, é evidente que uma reivindicação luterana de sucessão apostólica através de ordenação episcopal pode ser mantida, desde que a função episcopal seja entendida em termos bíblicos, isto é, simplesmente como sinônimo de ofício pastoral. No entanto, por outro lado, Curtis Heath adverte que "é simplesmente uma loucura afirmar, como afirmam os anglicanos, que realmente temos uma sucessão apostólica no âmbito da definição dos termos de Roma".

É a esta afirmação que eu gostaria de oferecer uma classificação amigável, mesmo porque "a definição de Roma sobre os termos", neste como em muitos casos, tende a mudar (ou "desenvolver") sempre que necessário ou conveniente. E algumas dessas mudanças, com a intenção ou não de fazê-lo, dão mais crédito à reivindicação luterana de confissão de sucessão apostólica.

Respondendo, por exemplo, ao tipo de argumento que Curtis chama de “cinismo histórico”, que questiona se mesmo a própria Roma pode reivindicar de forma convincente a sucessão apostólica, o teólogo católico Mats Wahlberg recentemente tentou voltar atrás no tradicional argumento “sem bispos, sem sucessão”. Ele oferece, em vez disso, que “se os apóstolos autorizaram algumas pessoas a sucedê-los como líderes e lhes deram um mandato para autorizar seus próprios sucessores, o que temos é uma sucessão apostólica” (ênfase acrescentada). Ele prossegue: “Não importa se alguns dos que foram autorizados pelos apóstolos fossem chamados de 'presbíteros' em vez de 'bispos'. Também não importa se os apóstolos transmitiram sua autoridade não para 'bispos governarem seus rebanhos como monarcas'. "mas aos corpos dos anciãos".

Portanto, até presbíteros (em vez de bispos de maneira específica ou exclusiva) foram autorizados a suceder os apóstolos em seu ministério, e até presbíteros (em vez de bispos de maneira específica ou exclusiva) tiveram que autorizar seus próprios sucessores neste ministério "o que temos é a sucessão apostólica." É bom saber. Ou melhor, é bom ver que mesmo os teólogos romanos estão finalmente reconhecendo o que os luteranos têm conhecido e dito durante cinco séculos.

Tampouco Wahlberg é uma voz solitária. De fato, ele enfatiza o que simplesmente resume o cardeal Joseph Ratzinger. Ratzinger, claro, em 2005, se tornaria o Papa Bento XVI. Antes de sua ascensão ao papado, enquanto era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, se dirigiu à doutrina da sucessão apostólica no que ele chamou de um "manual de eclesiologia católica" chamado à comunhão.

Como o principal oficial de doutrina e futuro pontífice de Roma tratou do tópico à luz da “eclesiologia católica”? Ao reconhecer francamente que, de acordo com as Escrituras, os “termos presbítero e episcopoi se identificam”, eles são “equacionados e definidos como um único ofício de sucessão apostólica” (enfase nossa). Como o ofício pastoral e episcopal é de fato o mesmo ofício apostólico, Ratzinger pode até permitir que referências específicas ao episcopado se retirem de sua discussão sobre a sucessão apostólica. Ele pode notar, por exemplo, que o Novo Testamento “teologicamente identifica o ofício apostólico e o presbiterado”, e que “toda a teologia do apostolado… é assim aplicada ao presbiterado”. E, finalmente, que “esta ligação do conteúdo dos dois ofícios [i.e, apóstolo e presbítero] ... é, por assim dizer, o ato consumado da sucessão apostólica.”

Em outras palavras, já que por autoridade divina os graus de bispo e pastor não são diversos", mas compreendem um ofício apostólico, "a ordenação administrada por um pastor em sua própria igreja é válida por direito divino". Quando e onde isso é feito? mesmo de acordo com os teólogos contemporâneos de Roma, e contra os seus populares polemistas e apologistas, "o que temos é a sucessão apostólica".

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Korey D. Maas é professor associado de história no Hillsdale College, em Hillsdale, Michigan.

Publicado Originalmente em: https://www.gottesdienst.org/gottesblog/2019/3/7/a-sneak-peek-inside-the-trinity-2019-issue
Tradução: Apostolado SJEP

texto publicado nesta tradução em http://justosepecadores.blogspot.com/2019/03/o-que-temos-e-sucessao-apostolica.html?m=1 consultado em 27/10/2020.