sexta-feira, 11 de junho de 2021

TESE 93: Como entender?

 


93ª Tese: Abençoados sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.




    Este parece um texto um tanto confuso de entender, ainda mais se considerarmos que a tese anterior parece dizer exatamente o oposto. Então como podemos entender esta tese de Lutero?

    Antes de qualquer coisa, alguns pontos precisam ser relembrados:

    1- Lutero vai amadurecendo seu pensamento ao longo dos anos, as 95 teses portanto não expressam o auge de seu pensamento, mas o começo dos seus questionamentos

    2- Não existe somente as famosas 95 teses, há outros temas em que Lutero também escreveu teses

    3- Teses não explicam o pensamento do autor, elas são pequenas afirmações destinadas a abrir uma discussão, desta forma, as teses eram divulgadas com antecedência para que os debatedores tivessem tempo de se preparar para defendê-las ou refutá-las, e então, a data do debate público era marcada.

    4- Os escritos de Lutero somam 121 volumes e cerca de 80.000 páginas na edição completa das Weimarer Ausgabe, não se pode conhecer o pensamento de Lutero lendo-se apenas uma página, que são o início da carreira apenas do reformador.

Agora, sabendo-se da natureza do material que representa as 95 teses de Lutero, pode-se tentar entender, pela pena do próprio Lutero o que significa sua tese 93:

Esta carta foi enviada a um irmão agostiniano no dia 15 de abril de 1516. Lutero diz:

"A cruz de Cristo foi dividida em todo o mundo, e cada um se encontra com sua própria porção dela. Portanto, não a rejeite, mas aceite-a como a mais santa relíquia, a ser guardada, não em um cofre de ouro ou de prata, mas em um coração de ouro, ou seja, um coração imbuído de caridade gentil". Pois se, pelo contato com a carne e o sangue de Cristo, a madeira da Cruz recebeu tal consagração que suas relíquias são consideradas supremamente preciosas, quanto mais as feridas, perseguições, sofrimentos e o ódio dos homens, tanto dos justos como dos injustos, ser considerado como a mais sagrada de todas as relíquias que, não pelo simples toque de Sua carne, mas pela caridade de Seu coração mais amargamente provado e de Sua vontade divina, foram abraçadas, beijadas, abençoadas e abundantemente consagradas; pois assim foi uma maldição transformada em bênção, e o dano em justiça, e a paixão em glória, e a Cruz em alegria. ”


Esta expressão um tanto enigmática é ainda explicada diretamente na carta escrita a um Prior da Ordem dos Agostinianos, no dia 22 de junho de 1516:

"Procura e anseia pela paz, mas na ordem errada. Pois procura-a como o mundo a dá, não como Cristo a dá. Não sabeis que Deus é 'maravilhoso entre os Seus santos', por esta razão, que Ele estabelece a Sua paz no meio de nenhuma paz, ou seja, de todas as tentações e aflições'. Diz-se: 'Tu habitarás no meio dos teus inimigos'. O homem que possui a paz não é o homem que ninguém perturba: é a paz do mundo; ele é o homem que todos os homens e todas as coisas perturbam, mas que suporta tudo pacientemente, e com alegria. Com Israel dizeis: 'Paz, paz', e não há paz. Aprendei a dizer antes com Cristo: 'A Cruz, a Cruz', e não há Cruz. Pois a Cruz deixa imediatamente de ser a Cruz assim que se exclama alegremente, na linguagem do hino,

"'Bendita cruz, acima de todas as outras,
Uma e única árvore nobre'".

Por fim, a estranha tese 93 ganha um contorno nobre, com ela, Lutero começou a esboçar a Teologia da Cruz, grande marca do pensamento da reforma na Alemanha.

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