segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A Forma do Batismo


 E assim foi feito, uma enquete rápida entre amigos e este resultado, que de certa forma reflete bem a divisão do Cristianismo em nossas terras. As linhas pentecostal e batista mantiveram sua afirmação de que o batismo deve ser somente pela imersão ao passo que os protestantes históricos, presbiterianos, luteranos, católicos romanos mantiveram a  afirmação de que o batismo pode ser realizado de outras formas.
 Para que se possa resolver tal questão, cabe uma pesquisa então sobre o que seria o ato de batizar, não apenas em seu sentido formal, mas especialmente, como esta palavra era efetivamente entendida na época em que o texto bíblico foi escrito.

O que é batizar? 


Começamos então relembrando que o Novo Testamento foi escrito em um ambiente de cultura grega muito forte, basta ver que a maioria dos nomes citados na Bíblia no Novo Testamento não são nomes gregos, o próprio texto bíblico é originalmente escrito em grego. O que a cultura popular da época falava sobre isto então?

Na época em que o NT estava sendo escrito, na Grécia vivia o filósofo Plutarco, que, com frequëncia usava o termo "baptismon" para o ato de se mergulhar o copo em um odre de vinho. Platão, por outro lado já empregava o termo em sua obra "Eutidemo" no sentido de alguém estar sobrecarregado de perguntas.
Por esta praxe já vemos então que o entendimento histórico da palavra batismo não era exclusivamente de mergulhar algo.

Na leitura do Santo Evangelho segundo Marcos, lemos que os fariseus lavavam as mãos antes de comer. Niptein era comumente usado quando apenas uma parte do corpo era lavada, não o banho total do corpo. Mas nessa passagem o lavar parcial também é chamado de batismo, de maneira que se apenas parte do corpo é lavada temos um verdadeiro batismo: 

Porque os fariseus, e todos os judeus, conservando a tradição dos antigos, não comem sem lavar (νίψωνται) as mãos muitas vezes; Marcos 7:3 
E, quando voltam do mercado, se não se lavarem (βαπτίσωνται), não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal e as camas. Marcos 7:4 

Assim, o texto nos mostra que, muito embora “batismo” seja associado à submersão, o texto bíblico o usa também para expressar o lavar parcial do corpo, sem diferenciar a extensão do corpo em que se aplica a água. O texto de Lucas 11:38 também reforça esta ideia, aplicando a mesma fórmula, portanto, temos que batizar não implica apenas na imersão total do corpo em água, mas de forma parcial também e indistintamente.

Mais adiante, lemos no texto aos Hebreus sobre diversas abluções, ou seja, batismos: 
Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções (βαπτισμοῖς) e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção. Hebreus 9:10 

Cientes então de que abluções são literalmente batismos pelo texto, devemos então conferir, também pelo texto bíblico como estes batismos eram feitos: 

O homem puro aspergirá o impuro ao terceiro e ao sétimo dia e o purificará no sétimo dia. Lavará as suas vestes e a si mesmo, e à tarde será puro. Números 19:19 

Desta forma, o texto bíblico tem mostrado que de acordo com as normas das abluções descritas no capítulo 19 de Números, temos que a algumas formas são pela imersão propriamente, como o purificar das vestes, e outras formas são pela aspersão de água.

O que temos nos texto de Hebreus 9:10 é que tanto a ablução de imersão em água quanto a aspersão são chamadas pelo texto bíblico de “batismo”. Este é um ponto relevante. Não se trata de erro de escrita, ou má colocação de palavras por parte dos autores bíblicos. Se o Cristão reconhece que a Bíblia é a Palavra de Deus e que foi escrita pela inspiração divina, então creremos que toda a Escritura é perfeita em seu ensino. O que temos então é o texto bíblico mostrando que a palavra “batismo” inclui o lavar parcial do corpo e a aspersão tanto quanto a imersão completa, sem fazer diferença entre os termos e na corrente oposta, temos uma corrente que afirma que a palavra “baptizein” no grego significa apenas imergir, e portanto, declarando que somente a imersão completa é válida. Para mim, já me daria por satisfeito entre ter que escolher entre uma tese que é explicada por alguns apegados a um dos sentidos apenas da palavra e de outro lado o texto bíblico mostrando que existe outro uso para o termo. A escolha me parece óbvia. Se o texto inspirado das Escrituras chama de batismo o aspergir e o lavar parcial do corpo, é para mim o suficiente para entender que a palavra tem um significado mais amplo. 

Mas o texto não termina neste ponto, podemos ir mais além: 

E eu, em verdade, vos batizo (βαπτιζω) com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará (βαπτισει) com o Espírito Santo, e com fogo. Mateus 3:11 

Novamente o texto bíblico nos aponta que o Espírito Santo vem com um “batismo”. Então vejamos biblicamente a forma como ele veio: 

Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Atos 2:3 

O batismo não foi uma imersão neste texto, mas um derramamento sobre cada um. 

Desta forma, não há, biblicamente falando, uma única forma de se usar o termo “batismo”, este termo não indica apenas a imersão, mas também indica o lavar parcial do corpo, a aspersão, o derramamento, ainda temos uma forma sui generis, em 1 Coríntios 10.2, um batismo feito por Deus de forma singular: 

todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar; 1 Coríntios 10:2

Ao atravessar a nuvem e o mar todo o povo foi batizado. Neste texto é patente que nenhum do povo foi “submerso” no mar, o texto nos informa que cruzaram com os pés secos, não houve sequer uma pessoa que fosse submersa que seguia com Moisés, mas todos receberam o batismo ao passar pelas águas. 

Temos portanto, pelo texto bíblico, uma exposição clara de que, ao contrário do que querem alguns, batizar não exige uma forma específica e a própria Palavra cita diversas formas como este batismo pode ser realizado. O que temos, de certo sobre o batismo é que ele deve ser feito com água, assim como João batizou com água (Jo 1.33), Filipe batizou o eunuco com água (At 8:36), Pedro batizou Cornélio com água (At 10:47), Paulo chama o batismo de “lavar de água pela Palavra” (Ef 5:26), Cristo diz que devemos nascer pela água e pelo espírito (Jo 3:5). 


Mas o que diferencia o batismo de um banho? 

Ao passo que o banho é mero ato de higiene e é repetido com tanta frequência quanto se sinta necessidade, temos que o batismo é uma instituição divina: 

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém. Mateus 28:19,20 

O batismo de Cristo é aqui colocado de modo completo como deixou sua aplicação definida: 

Alvo: discípulos (portanto pessoas somente, que creem na mesma fé e sua família) de todas as nações 

Modo: “Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (portanto quem batiza deve crer na trindade divina e ensinar de mesmo modo) 

Tempo: “Até a consumação dos Séculos” esta ordenança é permanente para os cristãos. Enquanto durar a missão de fazer discípulos, enquanto houver mundo, o batismo deverá ser praticado. 



O que torna o batismo inválido? 

Sabemos que, uma vez sendo participantes das promessas de Deus, ele nos segura com mão firme: 

Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 8:38,39 

Então, temos uma segurança enorme, podemos até cair, mas aquela união com Cristo na qual fomos revestidos em nosso batismo não se quebrará assim. O batismo testemunha mais da imutabilidade de Deus que de nossa própria constância. Enquanto a Ceia do Senhor é repetida várias vezes “fazei isto todas as vezes...”, Cristo nunca nos direcionou no sentido de necessitarmos de um novo batismo. 

Se sabemos, portanto, que uma vez unidos a Ele temos segurança, logo, apenas uma coisa pode invalidar o batismo: Que ele tenha sido apenas um banho. Se o batismo não nos revestiu de Cristo e não fomos batizados verdadeiramente para dentro de toda a promessa de vida e salvação do Evangelho. 

Vocês receberam o Espírito Santo quando creram? " Eles responderam: "Não, nem sequer ouvimos que existe o Espírito Santo". "Então, que batismo vocês receberam? ", perguntou Paulo. "O batismo de João", responderam eles. Disse Paulo: "O batismo de João foi um batismo de arrependimento. Ele dizia ao povo que cresse naquele que viria depois dele, isto é, em Jesus". Ouvindo isso, eles foram batizados no nome do Senhor Jesus. Atos 19:2-5

Aqui temos o único exemplo bíblico de um banho apenas: um grupo que foi batizado, mas não em Cristo, nem no Espírito Santo, foram batizados fora da fé cristã que confessa e crê num único Deus em Trindade. Eles então, embora tivessem contato com algumas coisas sobre o perdão divino, não tinham recebido as promessas do Evangelho em suas vidas. 

O Apóstolo Paulo, instruído divinamente, percebeu que estes homens não haviam sido batizados validamente, e assim, os batizou conforme Cristo havia deixado.

Portanto, um batismo “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” será sempre válido! Isto é segurança!

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