Assim como na ultima reflexão na quaresma, esta nos leva a
continuar a refletir sobre o mal cometido voluntariamente, especiamente contra
Deus.
Por muitas vezes o grande problema do ser humano é este:
querer a todo custo fugir do sofrimento. Somos o tempo todo levados a procurar
alívio rápido para todo tipo de sofrer. Qualquer incômodo físico e a solução
está sempre à mão, ou no máximo em uma farmácia próxima. Para o sofrimento da
sobrecarga de obrigações, a solução está num final de semana que sempre
esperamos. Para um amor que termina, outro começa. Para um sentimento ruim,
palavras de encorajamento, amigos, ou até os livros de auto-ajuda.
Tudo parece ter aquela resposta rápida e pronta: Seus
problemas se acabaram! Pare de Sofrer!
Ouvir a voz de Deus, por outro lado nos leva ao oposto: às
vezes ela vem suave e nos envolve maravilhosamente com o evangelho. Mas também
ela vem áspera, forte como um trovão que nos assusta, puro anúncio de sua
implacável lei.
De fato, não posso falar em sofrimento se minha vontade
coincide com a de Deus perfeitamente. Sempre que quero o mesmo que Deus quer, não
há sofrimento algum.
O problema é que, como cristãos neste mundo, somos chamados
a carregar uma cruz, e isto é sofrer.
Sempre que a vontade de Deus aponta em uma direção e a minha
vontade em outra levemente diferente, temos o dilema: alívio rápido de
satisfazer a minha vontade, ou caminhar para o sofrimento de fazer algo que, no
meu íntimo, não gostaria, e até poderia evitar.
Como é difícil sofrer! Mais difícil ainda é escolher sofrer
sabendo que a saída está sempre ao alcance!
É uma bonita reflexão quando isto fica apenas naquele campo
de idéias abstratas, mas algo apavorante quando se olha para o viver diário.
São Paulo, o Apóstolo em sua última viagem missionária
caminhava para sua morte. De cidade em cidade, homens o avisavam da parte de
Deus de que ele teria um destino amargo ao chegar em Jerusalém, ainda assim,
cidade após cidade ele confirmava iria percorrer todas as cidades, e já ia se
despedindo das igrejas por onde passava, avisando que não o veriam mais.
Lutero também dizia que o diabo é o melhor professor de
teologia que há, justamente por nos tentar a dar as costas à voz de Deus.
Então temos apenas duas saídas na tentação: santificar o nome
de Deus, e isto significa escolher sofrer, ou aliviar a dor.
É neste ponto que a voz de Deus vem como um trovão da lei,
incendeia os montes e faz a terra tremer: cada tentação que já caí na vida, e,
agora me lembro de muitas, é um lembrete: Não quiz ouvir!
Cada palavra inoportuna que disse, cada desejo impuro, cada
vez que me coloquei em lugares escorregadios.
Ah! Diz a consciência: “mas a carne é fraca!”
Sim! Diz o Espírito, mas o espírito, não!
Então se agi mal, o fiz exclusivamente por não querer ouvir
a voz de Deus. Se não a ouví, é porque não meditei em sua Palavra o suficiente.
E assim, um abismo chama a outro abismo...
A grande dádiva da quaresma, não é apenas sentir a miséria
da lei. A dádiva verdadeira é nos lembrarmos o quanto somos fracos. É por esta
lei implacável que sei que preciso do evangelho!
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
reino dos céus; Mateus 5:3
É justamente porque minha alma deseja um alívio ao
sofrimento, justamente porque sei que não posso me redimir de quem sou, é que
posso confiar nos méritos infindáveis de Cristo.
É justamente porque em vários momentos eu não quiz ouvir a
voz de Deus, é que sei que não poderia nunca ser justo por mim mesmo. Por isto
eu clamo a Cristo, minha justiça e perfeição!
A quaresma nos lembra: somos culpados, mas a mensagem não
pode parar ai. Ela continua: O que fazer com a culpa?
Caminhamos, de cabeça erguida, plenamente perdoados por Deus
até mesmo da terrível culpa de tamparmos os ouvidos e escolher não sofrer. Um dia,
poderemos dizer, como Santa Maria cantou: “Minha alma engrandece ao Senhor, meu
espírito se regozija em Deus, meu Salvador”
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