segunda-feira, 18 de março de 2019

Quinta reflexão na Quaresma: Se tua doce voz não quiz ouvir.



Assim como na ultima reflexão na quaresma, esta nos leva a continuar a refletir sobre o mal cometido voluntariamente, especiamente contra Deus.

Por muitas vezes o grande problema do ser humano é este: querer a todo custo fugir do sofrimento. Somos o tempo todo levados a procurar alívio rápido para todo tipo de sofrer. Qualquer incômodo físico e a solução está sempre à mão, ou no máximo em uma farmácia próxima. Para o sofrimento da sobrecarga de obrigações, a solução está num final de semana que sempre esperamos. Para um amor que termina, outro começa. Para um sentimento ruim, palavras de encorajamento, amigos, ou até os livros de auto-ajuda.
Tudo parece ter aquela resposta rápida e pronta: Seus problemas se acabaram! Pare de Sofrer!

Ouvir a voz de Deus, por outro lado nos leva ao oposto: às vezes ela vem suave e nos envolve maravilhosamente com o evangelho. Mas também ela vem áspera, forte como um trovão que nos assusta, puro anúncio de sua implacável lei.

De fato, não posso falar em sofrimento se minha vontade coincide com a de Deus perfeitamente. Sempre que quero o mesmo que Deus quer, não há sofrimento algum.

O problema é que, como cristãos neste mundo, somos chamados a carregar uma cruz, e isto é sofrer.
Sempre que a vontade de Deus aponta em uma direção e a minha vontade em outra levemente diferente, temos o dilema: alívio rápido de satisfazer a minha vontade, ou caminhar para o sofrimento de fazer algo que, no meu íntimo, não gostaria, e até poderia evitar.

Como é difícil sofrer! Mais difícil ainda é escolher sofrer sabendo que a saída está sempre ao alcance!
É uma bonita reflexão quando isto fica apenas naquele campo de idéias abstratas, mas algo apavorante quando se olha para o viver diário.

São Paulo, o Apóstolo em sua última viagem missionária caminhava para sua morte. De cidade em cidade, homens o avisavam da parte de Deus de que ele teria um destino amargo ao chegar em Jerusalém, ainda assim, cidade após cidade ele confirmava iria percorrer todas as cidades, e já ia se despedindo das igrejas por onde passava, avisando que não o veriam mais.

Lutero também dizia que o diabo é o melhor professor de teologia que há, justamente por nos tentar a dar as costas à voz de Deus.
Então temos apenas duas saídas na tentação: santificar o nome de Deus, e isto significa escolher sofrer, ou aliviar a dor.

É neste ponto que a voz de Deus vem como um trovão da lei, incendeia os montes e faz a terra tremer: cada tentação que já caí na vida, e, agora me lembro de muitas, é um lembrete: Não quiz ouvir!
Cada palavra inoportuna que disse, cada desejo impuro, cada vez que me coloquei em lugares escorregadios.

Ah! Diz a consciência: “mas a carne é fraca!”
Sim! Diz o Espírito, mas o espírito, não!

Então se agi mal, o fiz exclusivamente por não querer ouvir a voz de Deus. Se não a ouví, é porque não meditei em sua Palavra o suficiente. E assim, um abismo chama a outro abismo...
A grande dádiva da quaresma, não é apenas sentir a miséria da lei. A dádiva verdadeira é nos lembrarmos o quanto somos fracos. É por esta lei implacável que sei que preciso do evangelho!

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; Mateus 5:3

É justamente porque minha alma deseja um alívio ao sofrimento, justamente porque sei que não posso me redimir de quem sou, é que posso confiar nos méritos infindáveis de Cristo.
É justamente porque em vários momentos eu não quiz ouvir a voz de Deus, é que sei que não poderia nunca ser justo por mim mesmo. Por isto eu clamo a Cristo, minha justiça e perfeição!
A quaresma nos lembra: somos culpados, mas a mensagem não pode parar ai. Ela continua: O que fazer com a culpa?

Caminhamos, de cabeça erguida, plenamente perdoados por Deus até mesmo da terrível culpa de tamparmos os ouvidos e escolher não sofrer. Um dia, poderemos dizer, como Santa Maria cantou: “Minha alma engrandece ao Senhor, meu espírito se regozija em Deus, meu Salvador”

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