sexta-feira, 24 de abril de 2020

Podcast - O Milênio


Tempos atrás (e eu nem tinha entrado ainda no seminário) decidimos juntar 3 luteranos para debater sobre um tema famoso do Apocalipse: O Milênio. Como entendemos isto? Como estas diferentes interpretações começaram ao longo da história da igreja? Em forma de Podcast, fica ai o registro daquela célebre conversa de amigos sobre um tema que sempre gera dúvidas:





sábado, 11 de abril de 2020

Wayne Grudem – uma avaliação crítica parte 2 (Batismo)





Wayne Grudem – uma avaliação crítica à luz da teologia bíblica luterana. Breve comentário sobre leitura de TEOLOGIA SISTEMÁTICA, Wayne Grudem, p. 814 a 833.


Este é um breve comentário sobre a leitura deste famoso livro de Teologia Sistemática de linha reformada no objetivo único de expor as diferenças teológicas, especialmente tendo-se em vista que a reforma luterana e a calvinista foram movimentos não apenas separados, mas antagônicos entre si desde o início.

Em uma leitura da obra de Grudem, alguns erros essenciais podem ser identificados, mas em especial, o capítulo referente ao batismo já se inicia com uma exegese inadequada do texto, diz o livro: 
A palavra grega baptizo significa “mergulhar, afundar, imergir” algo na água. Isso é normalmente reconhecido, sendo esse o significado padrão do termo na literatura grega antiga tanto na Bíblia como fora dela.
(2) O sentido “imergir” é adequado e provavelmente exigido para a palavra nos vários textos do Novo Testamento. Em Marcos 1.5, o povo era batizado porjoão “no riojordão” (o texto grego traz en,“em”, e não “ao lado” ou “próximo” ou “perto” do rio).6 Marcos também nos diz que quandojesus foi batizado “ele saiu da água”(Mc 1.10). O texto grego especifica que ele saiu “para fora da” (ek)água, e não que ele veio da água (mais bem comunicado pelo gr. apo).O fato de quejoão ejesus entraram no rio e saíram dele sugere enfaticamente imersão, já que a aspersão ou a afusão de água poderiam muito mais facilmente ter sido feitas junto ao rio, especialmente pelo fato de que multidões estavam vindo para o batismo. O evangelho de João nos diz depois q u ejo ão Batista “estava também batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas” (Jo 3.23). Novamente, não era necessário muita água para batizar pessoas por aspersão, mas isso seria preciso para batizar por imersão. (Grudem, p.814) 
Em que pese este argumento, uma correção é necessária neste ponto. 

Platão já empregava o termo em sua obra "Eutidemo" no sentido de alguém estar sobrecarregado de perguntas. Por esta praxe já vemos então que o entendimento histórico da palavra batismo não era exclusivamente de mergulhar algo. 
Na leitura do Santo Evangelho segundo Marcos, lemos que os fariseus lavavam as mãos antes de comer. Niptein era comumente usado quando apenas uma parte do corpo era lavada, não o banho total do corpo. Mas nessa passagem o lavar parcial também é chamado de batismo, de maneira que se apenas parte do corpo é lavada temos um verdadeiro batismo: 
Porque os fariseus, e todos os judeus, conservando a tradição dos antigos, não comem sem lavar (νίψωνται) as mãos muitas vezes; Marcos 7:3 E, quando voltam do mercado, se não se lavarem (βαπτίσωνται), não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal e as camas. Marcos 7:4 
Assim, o texto nos mostra que, muito embora “batismo” seja associado à submersão, o texto bíblico o usa também para expressar o lavar parcial do corpo, sem diferenciar a extensão do corpo em que se aplica a água. O texto de Lucas 11:38 também reforça esta ideia, aplicando a mesma fórmula. 
Mais adiante, lemos no texto aos Hebreus sobre diversas abluções, ou seja, batismos: 
Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções (βαπτισμοῖς) e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção. Hebreus 9:10 
Cientes então de que abluções são literalmente batismos pelo texto, devemos então conferir, também pelo texto bíblico como estes batismos eram feitos: 
O homem puro aspergirá o impuro ao terceiro e ao sétimo dia e o purificará no sétimo dia. Lavará as suas vestes e a si mesmo, e à tarde será puro. Números 19:19 
Desta forma, o texto bíblico tem mostrado que de acordo com as normas das abluções descritas no capítulo 19 de Números, temos que a algumas formas são pela imersão propriamente, como o purificar das vestes, e outras formas são pela aspersão de água. 
O que temos nos texto de Hebreus 9:10 é que tanto a ablução de imersão em água quanto a aspersão são chamadas pelo texto bíblico de “batismo”. Este é um ponto relevante. Não se trata de erro de escrita, ou má colocação de palavras por parte dos autores bíblicos. Se o Cristão reconhece que a Bíblia é a Palavra de Deus e que foi escrita pela inspiração divina, então creremos que toda a Escritura é perfeita em seu ensino. O que temos então é o texto bíblico mostrando que a palavra “batismo” inclui o lavar parcial do corpo e a aspersão tanto quanto a imersão completa, sem fazer diferença entre os termos e na corrente oposta, temos uma corrente que afirma que a palavra “baptizein” no grego significa apenas imergir, e portanto, declarando que somente a imersão completa é válida. Se o texto inspirado das Escrituras chama de batismo o aspergir e o lavar parcial do corpo, bem sabe o Espirito Santo como deseja se comunicar, logo, restringir o termo para uma forma específica do derramar de água, será uma exegese que manca em identificar o termo, ou, a expressão dos que desejam retorquir a Deus. 
Como o texto não termina neste ponto, podemos ir mais além: 
E eu, em verdade, vos batizo (βαπτιζω) com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará (βαπτισει) com o Espírito Santo, e com fogo. Mateus 3:11 
Novamente o texto bíblico nos aponta que o Espírito Santo vem com um “batismo”. Então vejamos biblicamente a forma como ele veio: 
Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Atos 2:3 
O batismo não foi uma imersão neste texto, e desta forma, não há, biblicamente falando, uma única forma de se usar o termo “batismo”, este termo não indica apenas a imersão, mas também indica o lavar parcial do corpo, a aspersão, o derramamento, ainda temos uma forma sui generis, em 1 Coríntios 10.2, um batismo feito por Deus de forma singular: 
todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar; 1 Coríntios 10:2 
Ao atravessar a nuvem e o mar todo o povo foi batizado. Neste texto é patente que nenhum do povo foi “submerso” no mar, o texto nos informa que cruzaram com os pés secos, não houve sequer uma pessoa que fosse submersa que seguia com Moisés, mas todos receberam o batismo ao passar pelas águas. 
Em contra-partida, Grudem, em sua obra demonstra que este batismo realizado mesmo no texto bíblico de variadas formas, apenas encontra sua validade se na forma específica que lhe apraz ao afirmar: 
Mesmo o lavar é muito mais eficazmente simbolizado pela imersão do que pela aspersão ou afusão, e a morte e ressurreição com Cristo são simbolizados apenas pela imersão e de modo nenhum pela aspersão ou pela afusão. (Grudem, p.816) 
Temos portanto, pelo texto bíblico, uma exposição clara de que, ao contrário do que querem alguns, batizar não exige uma forma específica e a própria Palavra cita diversas formas como este batismo pode ser realizado. O que temos, de certo sobre o batismo é que ele deve ser feito com água, assim como João batizou com água (Jo 1.33), Filipe batizou o eunuco com água (At 8:36), Pedro batizou Cornélio com água (At 10:47), Paulo chama o batismo de “lavar de água pela Palavra” (Ef 5:26), Cristo diz que devemos nascer pela água e pelo espírito (Jo 3:5). 
O batismo é corretamente ministrado a todas as crianças que sejam filhas de pais cristãos. Essa posição é muito comum em muitos igrejas protestantes (especialmente luteranas, episcopais, metodistas, presbiterianas e reformadas). Essa posição é às vezes conhecida como o argumento da aliança em favor do pedobatismo. E chamada argumento da “aliança” porque depende de interpretar que os filhos dos cristãos fazem parte da “comunidade da aliança” do povo de Deus. O termo “pedobatismo” significa que o costume de batizar crianças (o prefixo paidoexpressa a idéia de “criança” e é derivado da palavra grega pais,“criança”). Estarei interagindo principalmente com os argumentos de Louis Berkhof, que explica com clareza e defende bem a posição pedobatista. (grudem, p.821) 
Outro problema na exposição de Grudem se constitui o problema intrínseco dos sistemáticos em referenciarem-se entre si, com pouco ou nenhum conhecimento de causa da teologia de outras áreas. Na presente citação, o autor repete o argumento de Berkhof sobre um ponto-de-vista protestante, e nisto ecoa a voz de Strong também, entre outros notáveis deste campo. Nesta área o autor realmente cumpre o papel de ser sistemático apresentando construções de grandes grupos, mas não se pode dizer que houve uma construção mais dogmática, afinal, Cristo declara sobre crianças pequenas, Mt 19:14; Mc 10:14: De tais é o reino do céu, ou o reino de Deus. E ninguém que nasce da carne pode entrar no reino de Deus a menos que renasça, Jo 3:3. E esta regeneração e renascimento ocorre pela água e pelo Espírito, Jo 3:5. O batismo é a lavagem da regeneração do Espírito Santo, Tt 3:5. Uma vez que, então, Cristo quer que as criancinhas se tornem participantes do reino do céu, o que deve ocorrer através do batismo, é certamente intenção de Cristo, vontade e comando, que as crianças pequenas sejam batizadas. 
A promessa do reino de Deus deve ser aplicada através de um certo meio ou instrumento instituído pelo próprio Deus. Portanto, também a promessa do reino do céu, que é dada aos bebês (Mc 10:14) deve ser aplicada a eles através de um certo meio. Agora, as Escrituras declaram que isso significa o batismo. Jo 3:5; Tt 3:5. 
Em segundo lugar, Cristo também quer que as crianças sejam salvas, pois Ele diz: Não é a vontade do Pai celestial que um desses pequeirinhos pereça, Mt 18:14. Mas o Pai Celestial salvou-nos pelo lavar regenerador, Tt 3:5. É, portanto, a vontade de Deus que os bebês sejam batizados e que não pereçam, mas sejam salvos. 
Em terceiro lugar, os bebês são concebidos e nascidos em pecados, de modo que por natureza eles são filhos de ira, Sl 51:5; Ef 2:3. Portanto, eles devem obter o perdão dos pecados, para que eles não pereçam, mas sejam salvos, Lc1:77; Rm 4:7. 
Sobre o ingresso no corpo de Cristo, Grudem declara: 
Mas como alguém se torna membro da igreja? O meio de ingresso na igreja é voluntário, espiritual e interior. Alguém toma-se membro da verdadeira igreja através do novo nascimentoe da fé salvadora,e não de um nascimento físico. Isso ocorre não por um ato externo, mas pela fé interior do coração. Com certeza é verdade que o batismo é o sinal de ingresso na igreja, mas isso significa que este deve ser ministrado aos que dão provade serem membros da igreja, somente os que professam fé em Cristo. (Grudem, p.823) 
Is 49:22 profetiza que no Novo Testamento não só os adultos seriam implantados na igreja, mas eis que, diz ele, eles vão trazer seus filhos em seus braços e suas filhas em seus ombros. E Pedro diz (Atos 2:39) depois que ele tinha batizado adultos: Esta promessa foi feita para você e para seus filhos. Dessa forma, também os apóstolos batizaram domicílios inteiros, Atos 16:33; 1 Co 1:16. Onde uma casa ou família é mencionada, bebês certamente não são excluídos. E quando os adultos são convertidos pela primeira vez, o ensino precede e segue o batismo. Atos 2:41; 8:12, 35-38; 10:44-48. Mister se faz salientar que o Batismo não é apenas símbolo da presença de Cristo, mas que por ele, Cristo se faz verdadeiramente presente. Ef 5:25-26: Cristo deu-se para a igreja, para que Ele pudesse santificá-la, limpá-la com a lavagem de água pela Palavra. Da mesma forma, ele diz que somos batizados na morte de Cristo (Rm 6:3) e na ressurreição de Cristo (I Pe 3:21). Na verdade, no batismo vestimos Cristo (Gl 3:27). E é isso que se diz nos Atos: ser batizado em nome de Cristo. 
Na verdade, há outros exemplos em que o batismo não é mencionado, nos quais vemos testemunho explícito do fato de que uma família inteira demonstrou fé. Depois que Jesus curou o filho de um oficial, lemos que o próprio pai “creu e toda a sua casa ” (Jo 4.53). Semelhantemente, quando Paulo pregou em Corinto, “Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa (At 18.8). (Grudem, p. 824) 
A problemática deste ponto se apresenta justamente no fato de considerar o autor a “fé”, dom sobrenatural de Deus, como um sinônimo de “fé reflexa”, ou a consciência de se haver fé. As palavras da instituição do batismo e muitas outras passagens das Escrituras nos mostram isso, por exemplo, Mc 16:16; Atos 2:38; 22:16; Ef 5:25-26; Tt 3:5, 7; Jo 3:5; 1 Pe 3:21. Daí Lutero justamente diz em seu catecismo: 
O batismo opera o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá salvação eterna a todos os que crêem nisso, como declaram as palavras da promessa divina. 
Se Cristo é separado do batismo, ou batismo de Cristo, então, de fato, a lavagem de água de si mesma não pode operar ou conferir qualquer dessas coisas, mas é e continua a ser apenas um sinal simples. 
Mas como Cristo está no e com o ato do batismo, para que sejamos batizados em Sua morte e ressurreição (Rm 6:3; 1 Pe 3:21), no batismo nos revestimos de Cristo (Gl 3:27), e ele mesmo nos purifica por essa lavagem (Ef 5:25-26), da mesma forma, como Deus o Pai dá, apresenta e sela aos crentes o mérito de Cristo através de Seu Espírito Santo no Batismo e através do batismo (Tt 3:5-6). 
Finalmente, os que defendem o batismo de convertidos com freqüência expressam preocupação diante das conseqüências práticas do pedobatismo. Eles argumentam que a prática do pedobatismo na igreja de hoje muitas vezes leva pessoas batizadas na infância a presumir que foram regeneradas, e assim não sentem a urgência da necessidade que têm de virem a ter fé pessoal em Cristo. Em alguns anos, essa tendência provavelmente resultará em número crescente de membros não convertidosna “comunidade da aliança”, os quais não são verdadeiramente membros da igreja de Cristo. Naturalmente, isso não fará de uma igreja pedobatista uma falsa igreja, mas a tomará uma igreja menos pura, que com freqüência estará enfrentando tendências doutrinárias liberais ou outros sinais de incredulidade trazidos para a igreja pelos membros não regenerados. (Grudem, p.826) 
Neste ponto, ao meditar sobre os efeitos do batismo, Grudem esbalha não apenas na doutrina do batismo, mas em sua doutrina sobre a igreja, desconsiderando-a como um corpus permixtus. Nem todos são praticantes da Palavra, e nem todos os que ouvem a Palavra a mantém (Lc 8:15; 11:28; Mt 7:26). As parábolas dos evangelhos também mostram isso claramente (Mt 13:24-30, 47-48; 22:1-14). Portanto, Onde há pessoas que usam os Sacramentos (Mc 16:16; 1 Co 10:17; 11:33), ouvem a Palavra de Deus (Jo10:27, recebem-a (1 Ts 1:6; 1 Co 15:1, confessam Cristo (Mt 10:32), seguem-o (Jo10:27), invocam a Deus,como ele ordenou na Palavra (Lc19:46; 1 Co 1:2; Sl 79:6). E esses sinais às vezes estão mais em evidência, às vezes menos evidentes. Pois neste fundamento alguns constroem o ouro, algums restolho (1 Co 3:12-13). E, no entanto, se a fundação permanece intacta, Deus tem Sua igreja lá (1 Rs 19:18). 
Justamente por ser a verdadeira igreja este corpo misto, e entendendo-se a questão do Simul na natureza humana, a resposta a Grudem precisamente escriturística deve ser que a regeneração de fato, isto é, adoção e o perdão dos pecados é ato completo e terminado nos crentes imediatamente após o batismo, e ainda assim se estende por toda a vida de um homem. Mas a renovação é de fato iniciada no batismo e cresce diariamente, é finalmente concluída na vida que está por vir. Pois nesta presente vida a renovação ainda é imperfeita e deve crescer e aumentar dia após dia. 2 Co 4:16; Ef 4:22-23; Cl 3:10; 1 Pe 2:1-2.



Por que Jesus? (Johann Arndt)

Por que voce quer me mudar? Eu sou uma pessoa boa! Eu não mato, eu não roubo, você acha que eu mereço ir para o inferno?



Da Queda De Adão. 


Por: Johann Arndt
In: Cristianismo Verdadeiro, Livro I

“Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos.” Romanos 5:19 


Parte I - A Lei 

A queda de Adão foi uma desobediência a Deus, pela qual o homem se afastou do Ser Divino para si mesmo, e roubou a Deus a honra devido a ele somente, na medida em que ele próprio pensava ser como Deus. Mas enquanto ele assim se esforçava para avançar, ele foi despojado daquela imagem divina, que o Criador havia lhe conferido tão livremente; despojado da justiça hereditária; e enlutado daquela santidade com a qual ele foi originalmente adornado; torna-se, no que diz respeito à sua compreensão, obscura e cega; quanto à sua vontade, teimosa e perversa; e quanto a todos os poderes e faculdades da alma, totalmente alienados de Deus. Esse mal infectou toda a massa da humanidade, por meio de uma geração carnal; e foi herdado por todos os homens. A consequência óbvia resultante disso é que o homem se torna espiritualmente morto e filho da ira e da condenação, até ser redimido desse estado miserável por Jesus Cristo. Não se enganem, então, os que se chamam cristãos, em relação à queda de Adão. Sejam cautelosos, como tentam atenuar ou diminuir a transgressão de Adão, como se fosse um pequeno pecado, uma coisa de pouca importância e, na pior das hipóteses, o mero comer de uma maçã. Que eles tenham certeza de que a culpa de Adão era a de Lúcifer, ou seja, ele seria como Deus: e que era o mesmo pecado grave, hediondo e odioso em ambos. 

2. Essa apostasia (pois não era nada menos), foi, inicialmente, gerada no coração e depois manifestada pela ingestão do fruto proibido. Embora o homem fosse contado com os filhos de Deus; embora ele tenha saído das mãos do Todo-Poderoso imaculado, tanto no corpo como na alma, e foi o objeto mais glorioso da criação; embora, para coroar tudo, ele não era apenas um filho, mas o deleite de Deus; ainda não sabendo como se satisfazer com esses altos privilégios, ele tentou invadir o Céu, para que pudesse ser ainda mais alto; e nada menos seria suficiente para ele do que se exaltar como Deus. Por isso, ele concebeu em seu coração inimizade e ódio contra o Ser Divino, seu Criador e Pai, a quem, se estivesse em seu poder, estava disposto a desfazer completamente. Quem poderia cometer um pecado mais detestável que isso? Ou, que maior abominação existe que se possa meditar? 

3. Portanto, o homem se tornou interiormente como o próprio Satanás, tendo sua semelhança no coração; já que ambos haviam cometido o mesmo pecado, tendo se rebelado contra a majestade do céu. O homem não mais exibe uma imagem de Deus, mas a do Diabo; ele não é mais um instrumento nas mãos de Deus, mas tornou-se um órgão de Satanás, tornando-se assim capaz de todas as espécies de maldade diabólica: de modo que, tendo perdido a imagem que era celestial, espiritual e divina, ele é totalmente terreno, sensual e brutal. Pois o diabo, planejando imprimir sua própria imagem no homem, o fascinou tão inteiramente por um conjunto de palavras atraentes e enganosas, que o homem permitiu que ele semeasse aquela semente odiosa em sua alma, que é, portanto, denominada semente da serpente; e pelo que se entende principalmente amor próprio, vontade própria e a ambição de ser como Deus. Por esse motivo, as Escrituras denominam aqueles que estão intoxicados pelo amor próprio, "uma geração de víboras". Mt. 3:7. E todos aqueles que são de natureza orgulhosa e diabólica, "a semente (descendência) da serpente". Assim, o Todo-Poderoso, dirigindo-se à serpente, diz: "Colocarei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente". Gênesis 3:15. 

4. A partir desta semente da serpente, nada além de frutos mortais e horríveis pode prosseguir; a saber, a imagem de Satanás, os filhos de Belial, os filhos do diabo. João 8:44. Como em toda semente natural, quão minuciosa pode ser, estão contidas, da maneira mais maravilhosa e oculta, a natureza e as propriedades da futura planta, todas as suas partes e proporções, seus galhos, folhas e flores, em miniatura; assim, naquela semente da serpente, a flor e a desobediência de Adão (que passaram a toda a sua posteridade por uma geração carnal), jaz, como no embrião, a árvore da morte, com seus galhos, folhas e flores, e aqueles inúmeros frutos da injustiça que crescem sobre ela. Em suma, toda a imagem de Satanás é secretamente traçada por aí, com todas as suas marcas, características e propriedades. 

5. Se observarmos uma criança com atenção, veremos como essa corrupção natural se manifesta desde o nascimento; e como a vontade própria e a desobediência se descobrem especialmente e se transformam em ações que testemunham efetivamente a raiz oculta da qual elas brotam. Vamos considerar ainda mais a criança, à medida que ela cresce até a maturidade. Observe o egoísmo natural da juventude, sua ambição pura, sua sede de glória mundana, seu amor por aplausos, sua busca por vingança e sua propensão a enganar e falsificar. E agora esses males se multiplicam. Logo poderá descobrir nele vaidade, arrogância, orgulho, blasfêmia, juramentos vãos, maldições terríveis, fraudes, ceticismo, infidelidade, desprezo a Deus e à sua santa Palavra e desobediência aos pais e magistrados: ira e contenciosidade; ódio e inveja; vingança e assassinato, e todo tipo de crueldade; especialmente se as ocasiões externas se oferecerem a acionar essa semente latente e mortal, e os vários males da natureza depravada de Adão. Na proporção em que essas ocasiões continuarem a se apresentar, observaremos o aparecimento de outros vícios; devassidão, pensamentos adúlteros, imaginações obscenas, discursos obscenos, gestos lascivos e todas as "obras da carne": veremos embriaguez, tumultos e toda espécie de intemperança; inconstância, devassidão excessiva e tudo o que pode agradar o apetite, a luxúria dos olhos e o orgulho da vida. E além desses, em breve poderá ser descoberto cobiça, extorsão, trapaça, sofisma, impostura e toda descrição de prática sinistra; juntamente com a facada, o comércio exagerado e, em suma, toda a tropa, ou melhor, exército de pecados, iniqüidades e crimes, tão variados e tantos, que é impossível contar ou declarar o número deles; de acordo com as palavras do profeta Jeremias, “o coração é enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente mau; quem o pode conhecer? ” Cap. 17: 9. E se aos já enumerados se acrescentam, em último lugar, os espíritos sedutores e falsos; então podem ser observados cismas na igreja, heresias perversas e perigosas, sim, a abjeção de Deus e Cristo, idolatria, negação da fé, ódio e perseguição da verdade, o pecado contra o Espírito Santo, com todo tipo de corrupção em doutrina, perversão das Escrituras e forte ilusão. Agora, o que são tudo isso, senão a imagem de Satanás, e os frutos da semente da serpente semeados no homem? 

6. Quem poderia imaginar que uma profundidade tão má e depravada pudesse ser encontrada em uma criança tão fraca e desamparada; que um princípio tão venenoso, um coração tão corrupto, estava escondido em um bebê aparentemente tão inofensivo? Quem poderia ter acreditado nisso, não tivesse o próprio homem, por sua vida pecaminosa e abominável, pela imaginação de seus pensamentos (sendo "mal continuamente" e desesperadamente inclinado ao que é ruim), por sua própria vontade o trouxe à luz e expressou, desde a infância, o que antes era oculto como uma semente? Gênesis 6: 5; 8:21. 

Oh! raiz mais vil e mais amaldiçoada! De onde brota a árvore venenosa que é tão frutífera na produção de todo tipo de praga. Oh, semente da serpente, mais odiosa, mais terrível! A partir da qual é gerada uma imagem ao mesmo tempo tão deformada e suja; e que se amplia continuamente, pois é excitada pelas tentações externas e pelos escândalos do mundo. Bem poderia o abençoado Jesus proibir tão solene e estritamente que qualquer, por mau exemplo, ofenda as crianças pequenas; sabendo que a semente da serpente espreita neles, como o veneno mortal no verme venenoso, pronto para irromper em atos abertos de pecado, sempre que uma ocasião se apresentar. 

8. Aprenda, então, ó homem, conhecer a queda de Adão e a verdadeira natureza do pecado original. Aprenda, se for sábio, a discernir em si mesmo. Examine-o não de maneira leve e descuidada, mas profundamente, e como a importância do assunto merece; pois essa infecção é maior, essa depravação é mais profunda e mais mortal do que pode ser expressa por palavras, ou mesmo concebida em idéia. "Conhece a ti mesmo!" e considere profundamente o que és, ó homem, desde a queda de seu primeiro pai; como tu, que eras à imagem de Deus, tornaste-te a imagem de Satanás, uma epítome de todas as suas tendências perversas, e conformadas a Satanás em toda a malícia e impiedade. Pois, como na imagem de Deus, todas as virtudes e propriedades divinas estão contidas, assim na imagem do diabo, que o homem, ao se afastar de Deus, contraiu, todos os vícios e propriedades são encontrados, e a própria natureza do próprio diabo. Pois, como o homem, antes da queda, apresentava a imagem do Adão celestial, isto é, era totalmente celestial, espiritual e divino; assim, desde a primeira apostasia, ele carrega consigo a imagem do Adão terrestre, sendo interiormente terrestre, carnal e corrupto. 

9. Ele se tornou um dos animais do campo. Por que, ó homem caído, a tua ira? A quem pertence mais apropriadamente, ao leão ou ao homem? E a tua inveja e a tua ganância não revelam a natureza do cão e do lobo? E no que diz respeito à tua impureza e gula, não são essas evidências de natureza suína? De fato, se você examinasse corretamente seu seio, descobriria um mundo de bestas impuras e nocivas. Mesmo na língua, esse “pequeno membro” pode ser encontrado, segundo São Tiago, um lago de coisas pestilentas e rastejantes, um porão de todo espírito imundo, a gaiola de todo pássaro imundo e odioso (Isaías 13:21 ; Ap. 18: 2) e, em uma palavra, um “mundo de iniqüidade”. Tiago 3: 6. Muitas vezes, infelizmente, progredimos na iniquidade de forma a superar a ira e a fúria das bestas de rapina; em voracidade e violência, o lobo; em sutileza e astúcia, a raposa; na malícia e virulência, a serpente; e na imundície e obscenidade, os porcos. Por isso, nosso Senhor chamou Herodes de raposa e os ímpios, em geral, cães e porcos; a quem o que é santo não deve ser dado. 13:32; Mt. 7: 6. 

10. Todo aquele que, portanto, falha em corrigir essa corrupção da natureza, sendo verdadeiramente convertido e renovado em Cristo Jesus, mas morre no estado que foi descrito, deve manter para sempre essa natureza bestial e satânica. Ele deve ser arrogante, altivo, orgulhoso e diabólico, por toda a eternidade. E quando ele tiver negligenciado o tempo de sua purificação aqui, levará consigo a imagem de Satanás na escuridão das trevas para sempre; como testemunho, de que enquanto ele estava no mundo, ele não viveu em Cristo, nem foi renovado à imagem de Deus. Pois de fora são cães e feiticeiros, e todo aquele que ama e pratica a mentira." Ap 21: 8; 22:15. 





Parte II - O Evangelho 


(...)
2. Por fé cordial e inabalável, o homem dedica totalmente seu coração ao Todo-Poderoso, em quem ele busca seu descanso exclusivamente. Pois ele agora ele está unido, e com ele entra em deliciosa comunhão. Ele participa de todas as coisas que são de Deus e de Cristo, e é feito um espírito com o Senhor. Dele ele recebe poder e força divinos; juntamente com uma nova vida, acompanhada de novas alegrias, novos prazeres, novas consolações, nas quais se encontra paz, tranqüilidade interior e satisfação duradoura, juntamente com retidão e santidade. E assim o homem nasce de novo por Deus pela fé. Pois onde quer que haja verdadeira fé, Cristo está verdadeiramente presente com toda a sua justiça, santidade e remissão de pecados; com todos os seus méritos, justificação, graça, adoção e herança da vida eterna. Este é o novo nascimento e a nova criatura, nascendo da fé em Cristo. Por isso, o apóstolo chama a fé de substância (Hb 11:1); compreendendo por ela, uma confiança segura, sólida e inabalável em "coisas esperadas" e uma convicção viva de "coisas não vistas". Pois o consolo transmitido por uma fé vital é tão poderoso que convence o coração da verdade divina pela experiência interior e pelo gosto da bondade celestial na alma e da paz de Deus que ultrapassa todo entendimento; sim, é tão poderoso que permite que seus possuidores morram com um coração alegre. Nisto consiste a força do espírito, o poder do homem interior, o vigor da fé, a santa ousadia; essa é a confiança em Deus, a segurança excedente e abundante, que são copiosamente demonstradas pelos santos apóstolos. 2Tm. 2:1; Ef. 3:12, 16; Fp. 1:14; 1Jo 3:21; 1Ts. 1: 5; 2; 2. 

3. Aquilo pelo qual um homem ousa morrer deve estar enraizado na alma e, pela operação do Espírito de Deus, proporcionar uma garantia interior. Deve ser um conforto cordial, poderoso e eterno, infundindo força celestial e sobrenatural na alma, pela qual o medo da morte e o amor do mundo podem ser subjugados. Agora, tudo isso gera uma confiança tão sólida em Cristo e uma união tão estreita com ele, que nem a morte nem a vida são capazes de dissolver. Rm. 8:38; 2 Tm. 1:12. Por isso, São João diz: "Todo o que é nascido de Deus vence o mundo". 1 João 5: 4. 

4. Nascer de Deus não é na verdade figura vã, nem nome vazio; deve necessariamente ser uma mudança viva e poderosa, digna da majestade de um Deus onipotente. Crer que o Deus vivo poderia gerar uma descendência morta, que membros sem vida e órgãos inúteis pudessem proceder dele seria muita maldade. É certo e indubitável que Deus, sendo um Deus vivo, não pode deixar de gerar um homem vivo, mesmo o novo homem em Cristo Jesus. E nossa fé é a vitória que vence o mundo. 1 João 5: 4. Quem pode questionar se é dotado de força suficiente para a conquista? É um princípio vivo, vigoroso, potente, divino e vitorioso; mas todo o seu poder deriva daquele que é abraçado por ela, Cristo. Por meio da fé, retornamos a Deus novamente e nos tornamos um com ele; e de Adão, como de uma videira amaldiçoada, somos transplantados para Cristo, a videira viva e abençoada. João 15: 4. Em Cristo, possuímos tudo que é bom, e nele somos justificados. 

5. Como enxerto, quando enxertado em uma boa árvore, cresce, floresce e dá frutos, mas, sem ela, murcha; assim, o homem, quando fora de Cristo, é como uma videira amaldiçoada, cujas uvas são amargas e fel; e todas as suas obras são pecado. Dt. 32:32, 33; Rm. 14:23. Mas quando ele está em Cristo, ele é justo e abençoado; porque "ele foi feito pecado por nós, que não conhecia pecado, para que sejamos feitos a justiça de Deus nele". 2 Co. 5:21. 

6. É mais evidente, que as obras não podem justificar um pecador; porque, antes que possamos realizar qualquer boa obra, devemos ser enxertados em Cristo pela fé: e é igualmente claro que a justificação é inteiramente um dom de Deus, livremente conferido ao homem e precedendo todo mérito humano. Como um morto vê, ouve, se levanta, anda ou faz alguma coisa boa, a menos que seja ressuscitado dentre os mortos e dotado de um novo princípio de vida? Assim também, ó homem, que está morto em pecados, não pode fazer nenhuma obra que seja boa ou aceitável, a menos que você tenha sido ressuscitado para vida por Jesus Cristo. Assim, a justiça procede somente da fé em Cristo. A fé é como um bebê recém-nascido, fraco e nu, pobre e indigente, e posto diante dos olhos do Salvador; de quem, como de seu autor, recebe justiça e santificação, piedade, graça e o Espírito Santo. 

7. A criança nua é assim vestida com a misericórdia de Deus. Ele levanta as mãos, recebe tudo de Deus e é um participante da graça e saúde, verdade e santidade. É, portanto, esse recebimento de Cristo no coração, que torna um homem santo e feliz. 

8. A justiça procede, portanto, unicamente da fé, e não das obras. De fato, a fé recebe todo o Cristo e o aceita, juntamente com tudo o que ele tem. Então o pecado e a morte, o diabo e o inferno, devem fugir e não podem mais preservar sua base. Não! De maneira tão eficaz e poderosa os méritos de Cristo justificam o pecador, que se os pecados do mundo inteiro fossem cobrados de um homem, eles não teriam a menor utilidade de condená-lo, se ele cresse em Cristo. 

9. Visto que Cristo vive e habita em seu coração pela fé (Ef 3:17), nunca, ó crente, sacia o pensamento de que sua habitação em ti é uma obra morta, sem vigilância, com qualquer poder vital. Antes, acredite que é um princípio vivificante, uma obra poderosa e uma transformação eficaz de sua mente. A fé produz duas coisas: primeiro te envolve em Cristo e o dá livremente a você, com tudo o que ele tem; e então, renova-te em Cristo, para que cresças, floresças e vivas nele. O enxerto silvestre é introduzido na estaca, para que possa florescer e dar frutos. Como pela apostasia de Adão e pela tentação do diabo, a semente da serpente foi semeada no homem, crescendo em uma árvore e dando os frutos da morte; mesmo assim, pela palavra divina e pelo Espírito Santo, é a fé semeada no homem, como a semente de Deus. Nesta semente, todas as virtudes e propriedades divinas são, da maneira mais maravilhosa, compreendidas; que se expandem gradualmente dia a dia. Esta árvore é adornada com uma profusão de frutos celestes; como amor, paciência, humildade, mansidão, paz, castidade, justiça. E assim todo o reino de Deus desce ao homem. Pois a fé verdadeira e salvadora renova todo o homem, purifica o coração, santifica a alma e livra do amor do mundo. Ele se une a Deus; tem fome e sede de justiça; opera amor; e traz paz, alegria, paciência e conforto à adversidade: vence o mundo; faz de nós filhos de Deus e herdeiros dos tesouros do céu; e constitui-nos co-herdeiros com o Senhor Jesus Cristo. Mas, se alguém não estiver consciente dessa alegria que a fé transmite e não experimenta suas influências consoladoras, não deixe, por isso, se desesperar; antes, confie na graça que é prometida em Cristo; pois essa promessa permanece sempre certa, imóvel e eterna. E, apesar das enfermidades incidentes à natureza humana, ele deveria tropeçar e cair; todavia, se o pecador retornar por arrependimento não fingido, e observar com mais cautela o pecado que o acomete tão facilmente, a graça de Deus não será retirada. Pois Cristo é, e sempre será Cristo, Salvador, quer a fé que o abraça seja forte ou fraca. Uma fé fraca tem uma parte igual em Cristo que uma fé forte, pois a fé, seja ela fraca ou forte, possui todo o Cristo. A graça que é prometida é comum a todos os cristãos e é eterna, e nessa graça a fé deve confiar, seja fraca ou forte. O Senhor visitará sua alma em seu próprio tempo, com um senso de seu favor gracioso e de suas abundantes consolações. 

Wayne Grudem – uma avaliação crítica parte 1


Wayne Grudem – uma avaliação crítica à luz da teologia bíblica luterana. Breve comentário sobre leitura de TEOLOGIA SISTEMÁTICA, Wayne Grudem, p. 801 a 813.


Este é um breve comentário sobre a leitura deste famoso livro de Teologia Sistemática de linha reformada no objetivo único de expor as diferenças teológicas, especialemente tendo-se em vista que a reforma luterana e a calvinista foram movimentos não apenas separados, mas antagônicos entre si desde o início. 
A lista abaixo talvez não seja exaustiva, mas inclui a maioria dos meios de graça a que os salvos têm acesso na comunhão da igreja: 1. O ensino da Palavra 2. O batismo 3. A ceia do Senhor 4. A oração uns pelos outros 5. A adoração 6. A disciplina da igreja 7. A oferta 8. Os dons espirituais 9. A comunhão 10. A evangelização 11. O ministério individual (grifo nosso)
Na lista de Grudem a disciplina e a oferta são colocados como canais da graça divina, entretanto, sem a correta distinção entre lei e evangelho, (ou com uma visão mais próxima de Agrícola) expressões da lei são apresentados em meio aos meios evangélicos.
Mas segundo o ponto de vista protestante, os meios de graça são simplesmente meios de os cristãos receberem mais bênçãos e nada acrescentam à nossa aptidão de receber a justificação divina.
Grudem, alem de erradamente colocar esta posição como sendo a posição “protestante”, e com isto escondendo o fato de que isto não representa o totum das igrejas da reforma também nega a justificação objetiva, classificando o que é sacramento com a característica própria do sacrifício, a saber, aquilo que o homem oferece a Deus. 
Os católicos pregam que esses meios ou sacramentos dispensam graça independentemente da fé do ministro ou do crente,5 (sic) enquanto os protestantes sustentam que Deus só dispensa a graça quando há fé da parte das pessoas que administram ou recebem esses meios.
De fato, ao fazer-se tal postulação, Grudem se coloca ao lado dos Donatistas por crer que a dignidade dos ministros é o que valida o sacramento.
O crescimento e a força da igreja estão de tal forma ligados à regência da Palavra de Deus na vida das pessoas que mais de uma vez o livro de Atos chega a igualar o crescimento da igreja ao crescimento da Palavra de Deus: "Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos” (At 6.7); “Entretanto, a palavra do Senhor crescia e se multiplicava ”(At 12.24); “E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região” (At 13.49).
Tão importante é a Bíblia como meio fundamental da graça que Deus dá ao seu povo, que Charles Hodge nos lem bra que ao longo da história o verdadeiro cristianismo floresceu “proporcionalmente ao grau de conhecimento da Bíblia, ao grau de difusão das suas verdades entre as pessoas”. (grifo nosso)
Neste ponto, erra o autor ao identificar o que é a Igreja – local onde a Palavra é pregada, e onde os sacramentos são corretametne administrados. A palavra de Deus está presente no crescimento da igreja, entretanto, a Palavra completa estava presente, tanto no ensino das Sagradas Letras, como a mesma Palavra era comida no sacramento da comunhão (Atos 2:42) e derramada sobre os pecadores (Atos 22:16). Talvez, por reduzir a palavra de Deus à sua forma escrita, o autor não queira considerar as instiuições do próprio Cristo como contingentes da Palavra, muito embora o próprio livro da Palavra assim o afirme.
Quando o batismo acontece logo depois da profissão de fé inicial da pessoa e é de fato a forma exterior que a profissão de fé assume, há certamente um vínculo entre o batismo e o recebimento do dom do Espírito Santo, pois Pedro diz aos seus ouvintes no Pentecostes: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome dejesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38). Além disso, diz Paulo: “[Fostes] sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.12). A declaração de que é “mediante a fé no poder de Deus” que isso acontece nos faz lembrar que não há propriedade mágica no ato do batismo em si que provoque o resultado espiritual; mas o versículo tam bém indica que quando a fé acom panha o batismo, há verdadeira obra espiritual na vida da pessoa batizada. (grifo nosso)
Sobre o batismo aqui anunciado, o autor o coloca apenas como ato exterior resultante da a fé, sem fazer distinção entre fé reflexa ou não. Como resultado, ele vincula o dom sobrenatural de Deus que é a fé, onde o próprio Cristo é seu autor e consumador, e a epístola aos Gálatas a coloca como fruto do Espírito, com uma capacidade da inteligência humana iluminada pela luz da razão, a saber, o ato de se poder organizar em palavras aquilo que recebeu. Portanto nesta vinculação há um erro essencial quanto à origem da fé e a origem do ato proclamatório da mesma. Em segundo plano, ao citar o texto de Atos, perverte a Palavra de Deus, ao colocar a conjunção e (Kai) como indicativa de eventos diferentes, ao passo que a própria palavra é contra ele. Seu uso não pode ser outro que o de cumular eventos, o ato da remissão dos pecados tem uma origem dúplice no arrependimento e (kai) no batismo. Ao usar esta expressão, quiz o Espírito Santo vincular arrependimento e batismo à remissão dos pecados, portanto, erra o autor ao chamar este vínculo da água do batismo com a Palavra que redime Pecados de “propriedade mágica”
Existe uma união espiritual entre os salvos e com o Senhor, que se fortalece e se solidifica na ceia do Senhor, e ela não deve ser desprezada.
De fato, não se pode negar que o comer e beber da Ceia do Senhor seja um comer memorial, como querem os zwinglianos, e um comer espiritual, como diz o autor, onde nossos corações são elevados à presença de Deus e o abraça pela fé, mas ao enfatizar o tipo de comer como espiritual, nega o autor o terceiro tipo de comer, o sacramental, com o qual Cristo institui a comunhão na noite em que foi traído. Esse argumento usado por ele é absolutamente inconclusivo em provar qualquer coisa contra o significado apropriado e natural dessas palavras: “Tome, coma; isto é o Meu corpo...”pois o mesmo Cristo na mesma instituição, não só falou sobre o pão e o vinho, mas ao mesmo tempo Ele também afirmou o que recebemos nesta Ceia comendo e bebendo: “Isto é o Meu corpo, isto é o Meu sangue ...” E certamente a presença do corpo e o sangue de Cristo na Ceia é mais importante do que a presença do pão e do vinho. Certamente, é uma coisa incomparavelmente maior se, na Ceia, nossa boca receber o corpo e o sangue de Cristo do que receber apenas o pão e o vinho. Portanto, se por causa da alimentação espiritual não estamos dispostos a remover o que é menos importante na Ceia, ou seja, os elementos do pão e do vinho, porque temos uma palavra a respeito deles, como podemos então condenar e rejeitar, por causa disso o significado natural do testamento de Cristo em relação à presença e recepção substancial de Seu corpo e sangue na Ceia?
Se a adoração é verdadeiramente uma aproximação de Deus, é chegar-se à sua presença rendendo-lhe o louvor que ele merece, então certamente devemos tê-la como um dos principais “meios de graça” disponíveis à igreja. Por intermédio da genuína adoração conjunta, Deus muitas vezes dispensa maiores graças ao seu povo, tanto individual quanto coletivamente.
É interessante notar aqui que o autor não faz reservas em colocar a adoração por oração e jejum da congregação como meios da graça, ao passo que na mesma linguagem ele chama o batismo e a ceia de “magia” De fato, tal ato de culto é meio da graça, entretanto, também não é a adoração ex opere operato que manifestará o favor de Deus, mas é de fato verdadeira adoração, quando derramamos nosso coração diante de Deus (Sl 62:8; 25:1-2; 86:4; 143:8) e, chegando assim ao trono da graça (Hb 4:16), nos dirigimos, com submissão filial e verdadeira devoção do coração, a Deus, nosso Pai, que está presente e ouve (Gl 4:6) e, por Seu comando e confiando em Sua promessa, definindo diante dele nossos problemas e desejos, na verdadeira fé, através e por Cristo, buscando misericórdia, graça e ajuda nas coisas que pertencem a Sua glória e são necessárias, úteis e salutares para nós (Hb 4:16; Jo 16:23-24) ou dar-lhe agradecimentos pelas bênçãos recebidas, e louvor e glorificar seu nome (1 Tm 2:1; 1 Co 14:16).
Parece correto, então, considerar a imposição de mãos como outro elemento da rica diversidade dos “meios de graça” que Deus concedeu à igreja para distribuir bênçãos ao seu povo.
Além dos outros dons de milagres, os apóstolos também tinham este, que na imposição de suas mãos não apenas curavam os enfermos (Mc 16:18), mas o Espírito Santo também era conferido aos crentes sob a forma externa e visível de dons como línguas e profecia (At 19: 6). Mas essa prerrogativa dada aos apóstolos para confirmar a doutrina era apenas temporária. Na Palavra divina, não temos nenhum mandamento pelo qual somos ordenados a seguir o exemplo dos apóstolos, nem a promessa divina que Deus deseja enviar, dar e conferir ao Espírito Santo pela imposição de nossas mãos. Os apóstolos usaram essa cerimônia como adiáforo, por causa das orações públicas.
Ao final deste exame dos meios de graça na igreja, convém perceber antes de tudo que quando qualquer um desses meios é utilizado com fé e obediência, os cristãos devem esperar e procurar evidências de que o Espírito Santo está de fato ministrando às pessoas simultaneamente à utilização dos meios. (grifo nosso)
Na parte conclusiva o autor novamente parece por Deus à prova. Não bastando a promessa de Deus que acompanha cada meio da graça como meios que efetivamente concedem ou aumentam a fé e ao qual o próprio Espírito está vinculado, aqui o autor estimula seus leitores a sondar uma manifestação do agir do Espírito Santo, não considerando então que os próprios meios são per se o próprio agir.


sábado, 4 de abril de 2020

Livros Traduzidos e em tradução...


Esta postagem é um breve comentário de apresentação das obras que já foram publicadas e das que estão em processo de tradução.
Por que traduzir? Estas obras tem algo em comum: todas elas são peças que pessoalmente me ajudaram na caminhada de modo especial. Cada uma delas foi lida por um motivo, e ele é bem pessoal! Havia uma carência em algum ponto que estes livros supriram. Então, de modo simples, eles me ajudaram. O sengundo ponto, é que muitos livros fazem parte desta caminhada, mas estes são os que chamaria de "livros de cabeceira", aqueles que eu pretendo sempre voltar, consultar denovo e denovo. O terceiro motivo é: Certamente podemos aprender com a mera leitura, mas certamente, ler cuidadosamente, criar uma lista de verbetes que o autor utiliza e como ele os utiliza em suas obras, entender o que o caracteriza linguísticamente, literariamente, buscar entender todo o Sits im leben que leva o autor a escrever suas obras, e por fim, iniciar um processo de examinar cada frase e transportar toda esta informação para o português, certamente é a forma como estes livros marcaram um aprendizado valioso, poder ler cada um com os olhos do autor me foi um processo instigante. Por fim, por que não publicar? Certamente, disponibilizar obras desta relevância para todos que falam o português é uma forma de desejar: Assim como estes me abençoaram, que possam abençoar a outros tantos!


Confutatio Pontificia 

O que é: É um documento católico, escrito por John Eck para enfrentar a doutrina luterana, é importante pois quando Melanchton escreveu a famosa “Confissão de Ausburgo” contendo os pontos específicos que nós, enquanto luteranos discordávamos das práticas de Roma, Eck, na função de núncio papal, ou seja, um enviado do papa, escreveu esta confutação para analisar ponto por ponto se a igreja concorda ou não com cada um. Depois disso, Melanchton escreve um outro documento, a “Apologia da Confissão de Ausburgo”, justamente respondendo ao que foi afirmado nesta Confutação, portanto, sem este texto, é muito difícil entender a própria Apologia, que é também um documento que guardamos como confessional e legítima exposição da doutrina bíblica 


Número de páginas 97 
Edição 1 (2019) 
Formato A5 (148x210) 
Coloração Preto e branco 
Tipo de papel Couche 150g 





De Coena Domini - A Ceia do Senhor 

O que é: logo no início da Reforma,visões diferentes surgiram sobre o significado e importância da Ceia do Senhor, não por causa da sua prática, mas a grande discussão era sobre a pessoa de Cristo, se o homem-Deus estaria ou não presente em sua celebração, e isto não é matéria secundária, mas reflete diretamente sobre como se dá a própria salvação. Nos dias de Lutero, um debate para resolver as controvérsias foi marcado, mas sem sucesso, cada reformador tinha um linguajar próprio, o que fazia que termos iguais fossem entendidos de modo diferente. Foi somente nos dias de Chemnits que um livro desta importância poderia ser escrito, Roma já havia definido claramente seus termos sobre o tema no Concílio de Trento, Os reformadores de Genebra: Zwínglio e Calvino tinham obras em que explicavam bem como entendiam, então coube a Chemnitz, nesta obra, analisar cada uma destas vertentes, comparar com o texto bíblico e explicar a questão de modo definitivo e claro 

Número de páginas 554 
Edição 2 (2019) 
Formato A5 (148x210) 
Coloração Preto e branco 
Tipo de papel Polen 






Enchiridion- As doutrinas fundamentais do Ministério, Palavra e Sacramento: 

O que é: este é um pequeno livro para tirar dúvidas frequentes. No passado ele foi material para avaliar os pastores, também foi material de estudo preparatório para o concílio ordinatório (para se ordenar pastores), hoje ele é um pequeno tesouro que coloca em linguagem clara e de modo bem objetivo respostas à dúvidas que frequentemente temos sobre os mais diversos tópicos, indicado para leigos e pastores também! 

Número de páginas 374 
Edição 1 (2020) 
Formato A5 (148x210) 
Coloração Preto e branco 
Tipo de papel Polen 




Escritos Selecionados – Ortodoxia e Unidade da fé: 

O que é: dois temas que levantam questionamentos. Se existe Ortodoxia (literalmente um caminho correto), isto implica que todos os demais caminhos estão errados. Quando Pieper fala em ortodoxia, ele não está dizendo do Cristianismo versus qualquer outra coisa, mas que dentro deste grande bloco, e de muitas visões diferentes, com todas as denominações à volta, ainda assim, é possível afirmar: existe um caminho de ortodoxia.
O segundo ponto é a unidade da fé: Se existe uma Igreja Ortodoxa, como andar em unidade com dos demais cristãos? Até que ponto podemos ser ecumênicos? Como fazer uma comunhão de igrejas ortodoxas? 

Número de páginas 166 
Edição 1 (2020) 
Formato A5 (148x210) 
Coloração Preto e branco 
Tipo de papel Offset 90g 


Dois Sermões sobre a Lei:

Teonomia, guarda do sábado, a igreja mudou os mandamentos, proibição de imagens, salvação por obedecer aos mandamentos... Quantos temas atuais que surgem quando se conversa sobre a Bíblia, mais especificamente, se o assunto for: Qual o papel das leis de Moisés, no Antigo Testamento para os cristãos hoje? Muitas vezes uma resposta clara faz falta. Ler Lutero não é apenas um conhecimento histórico, mas perceber que as respostas que procuramos hoje não são novas, e por isto mesmo, quase 500 anos depois destes escritos serem publicados, estamos aqui, lendo-os em bom e claro português, em termos bem objetivos e em linguagem acessível, trazendo respostas à questões com as quais hoje convivemos, como se Lutero escrevesse de próprio punho a cada um de nós, trazendo alívio a consciências perturbadas pelas dúvidas.


Edição 1 (2020) 
Formato A5 (148x210) 
Coloração Preto e branco 
Tipo de papel Offset 90g 


Locus III - O Espírito Santo:

O que é: Esta visão teológica é um comentário sobre os Loci Communes de Felipe Melanchthon pelo autor principal da Fórmula de Concórdia. Baseando-se na tradição luterana, Chemnitz explora todas as principais categorias teológicas, neste locus, o Espírito Santo é tratado, segundo seu conceito, seus atributos, uma argumentação contra as heresias e extensa pesquisa nos Pais da Igreja. Contém a transcrição completa dos ditos de Melanchton em seus Loci Communes no que tange ao tema deste locus na edição de 1525, também traduzido para o Portugues no corpo do texto.





Edição 1 (2020) 
Formato A5 (148x210) 
Coloração Preto e branco 
Tipo de papel Offset 90g 


Cristianismo Verdadeiro 

O que é: o venerável Johann Arndt tem uma obra difícil de classificar, para alguns, ele é o último dos escolásticos alemães, um pilar de ortodoxia, para outros, ele é o primeiro dos pietistas, aqueles que olhavam para a relação do indivíduo com Deus com destaque especial, ainda há quem o classifique como um místico: aquele que olha para o mistério e contempla a união do homem no corpo místico de Cristo. Seja como for, Arndt nos brinda com uma exposição firme de doutrina cristã, não como algo frio e distante, mas como esta doutrina é vivida e experimentada no viver prático de cada cristão, e ainda assim, ao fazê-lo, sua mística nos faz ler em sua obra cada um de nossos pecados, desnudado diante de Cristo, lamentar a miséria de nossa alma, a lei implacável é posta como uma pedra em nossos corações, para na sequência, Arndt nos transportar para o Evangelho puro de um Cristo de braços abertos que vive em nós e nós nEle, e nesta união temos a base para o agir na vida diária. 

**Obra ainda não publicada**