sábado, 11 de abril de 2020

Wayne Grudem – uma avaliação crítica parte 2 (Batismo)





Wayne Grudem – uma avaliação crítica à luz da teologia bíblica luterana. Breve comentário sobre leitura de TEOLOGIA SISTEMÁTICA, Wayne Grudem, p. 814 a 833.


Este é um breve comentário sobre a leitura deste famoso livro de Teologia Sistemática de linha reformada no objetivo único de expor as diferenças teológicas, especialmente tendo-se em vista que a reforma luterana e a calvinista foram movimentos não apenas separados, mas antagônicos entre si desde o início.

Em uma leitura da obra de Grudem, alguns erros essenciais podem ser identificados, mas em especial, o capítulo referente ao batismo já se inicia com uma exegese inadequada do texto, diz o livro: 
A palavra grega baptizo significa “mergulhar, afundar, imergir” algo na água. Isso é normalmente reconhecido, sendo esse o significado padrão do termo na literatura grega antiga tanto na Bíblia como fora dela.
(2) O sentido “imergir” é adequado e provavelmente exigido para a palavra nos vários textos do Novo Testamento. Em Marcos 1.5, o povo era batizado porjoão “no riojordão” (o texto grego traz en,“em”, e não “ao lado” ou “próximo” ou “perto” do rio).6 Marcos também nos diz que quandojesus foi batizado “ele saiu da água”(Mc 1.10). O texto grego especifica que ele saiu “para fora da” (ek)água, e não que ele veio da água (mais bem comunicado pelo gr. apo).O fato de quejoão ejesus entraram no rio e saíram dele sugere enfaticamente imersão, já que a aspersão ou a afusão de água poderiam muito mais facilmente ter sido feitas junto ao rio, especialmente pelo fato de que multidões estavam vindo para o batismo. O evangelho de João nos diz depois q u ejo ão Batista “estava também batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas” (Jo 3.23). Novamente, não era necessário muita água para batizar pessoas por aspersão, mas isso seria preciso para batizar por imersão. (Grudem, p.814) 
Em que pese este argumento, uma correção é necessária neste ponto. 

Platão já empregava o termo em sua obra "Eutidemo" no sentido de alguém estar sobrecarregado de perguntas. Por esta praxe já vemos então que o entendimento histórico da palavra batismo não era exclusivamente de mergulhar algo. 
Na leitura do Santo Evangelho segundo Marcos, lemos que os fariseus lavavam as mãos antes de comer. Niptein era comumente usado quando apenas uma parte do corpo era lavada, não o banho total do corpo. Mas nessa passagem o lavar parcial também é chamado de batismo, de maneira que se apenas parte do corpo é lavada temos um verdadeiro batismo: 
Porque os fariseus, e todos os judeus, conservando a tradição dos antigos, não comem sem lavar (νίψωνται) as mãos muitas vezes; Marcos 7:3 E, quando voltam do mercado, se não se lavarem (βαπτίσωνται), não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal e as camas. Marcos 7:4 
Assim, o texto nos mostra que, muito embora “batismo” seja associado à submersão, o texto bíblico o usa também para expressar o lavar parcial do corpo, sem diferenciar a extensão do corpo em que se aplica a água. O texto de Lucas 11:38 também reforça esta ideia, aplicando a mesma fórmula. 
Mais adiante, lemos no texto aos Hebreus sobre diversas abluções, ou seja, batismos: 
Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções (βαπτισμοῖς) e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção. Hebreus 9:10 
Cientes então de que abluções são literalmente batismos pelo texto, devemos então conferir, também pelo texto bíblico como estes batismos eram feitos: 
O homem puro aspergirá o impuro ao terceiro e ao sétimo dia e o purificará no sétimo dia. Lavará as suas vestes e a si mesmo, e à tarde será puro. Números 19:19 
Desta forma, o texto bíblico tem mostrado que de acordo com as normas das abluções descritas no capítulo 19 de Números, temos que a algumas formas são pela imersão propriamente, como o purificar das vestes, e outras formas são pela aspersão de água. 
O que temos nos texto de Hebreus 9:10 é que tanto a ablução de imersão em água quanto a aspersão são chamadas pelo texto bíblico de “batismo”. Este é um ponto relevante. Não se trata de erro de escrita, ou má colocação de palavras por parte dos autores bíblicos. Se o Cristão reconhece que a Bíblia é a Palavra de Deus e que foi escrita pela inspiração divina, então creremos que toda a Escritura é perfeita em seu ensino. O que temos então é o texto bíblico mostrando que a palavra “batismo” inclui o lavar parcial do corpo e a aspersão tanto quanto a imersão completa, sem fazer diferença entre os termos e na corrente oposta, temos uma corrente que afirma que a palavra “baptizein” no grego significa apenas imergir, e portanto, declarando que somente a imersão completa é válida. Se o texto inspirado das Escrituras chama de batismo o aspergir e o lavar parcial do corpo, bem sabe o Espirito Santo como deseja se comunicar, logo, restringir o termo para uma forma específica do derramar de água, será uma exegese que manca em identificar o termo, ou, a expressão dos que desejam retorquir a Deus. 
Como o texto não termina neste ponto, podemos ir mais além: 
E eu, em verdade, vos batizo (βαπτιζω) com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará (βαπτισει) com o Espírito Santo, e com fogo. Mateus 3:11 
Novamente o texto bíblico nos aponta que o Espírito Santo vem com um “batismo”. Então vejamos biblicamente a forma como ele veio: 
Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Atos 2:3 
O batismo não foi uma imersão neste texto, e desta forma, não há, biblicamente falando, uma única forma de se usar o termo “batismo”, este termo não indica apenas a imersão, mas também indica o lavar parcial do corpo, a aspersão, o derramamento, ainda temos uma forma sui generis, em 1 Coríntios 10.2, um batismo feito por Deus de forma singular: 
todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar; 1 Coríntios 10:2 
Ao atravessar a nuvem e o mar todo o povo foi batizado. Neste texto é patente que nenhum do povo foi “submerso” no mar, o texto nos informa que cruzaram com os pés secos, não houve sequer uma pessoa que fosse submersa que seguia com Moisés, mas todos receberam o batismo ao passar pelas águas. 
Em contra-partida, Grudem, em sua obra demonstra que este batismo realizado mesmo no texto bíblico de variadas formas, apenas encontra sua validade se na forma específica que lhe apraz ao afirmar: 
Mesmo o lavar é muito mais eficazmente simbolizado pela imersão do que pela aspersão ou afusão, e a morte e ressurreição com Cristo são simbolizados apenas pela imersão e de modo nenhum pela aspersão ou pela afusão. (Grudem, p.816) 
Temos portanto, pelo texto bíblico, uma exposição clara de que, ao contrário do que querem alguns, batizar não exige uma forma específica e a própria Palavra cita diversas formas como este batismo pode ser realizado. O que temos, de certo sobre o batismo é que ele deve ser feito com água, assim como João batizou com água (Jo 1.33), Filipe batizou o eunuco com água (At 8:36), Pedro batizou Cornélio com água (At 10:47), Paulo chama o batismo de “lavar de água pela Palavra” (Ef 5:26), Cristo diz que devemos nascer pela água e pelo espírito (Jo 3:5). 
O batismo é corretamente ministrado a todas as crianças que sejam filhas de pais cristãos. Essa posição é muito comum em muitos igrejas protestantes (especialmente luteranas, episcopais, metodistas, presbiterianas e reformadas). Essa posição é às vezes conhecida como o argumento da aliança em favor do pedobatismo. E chamada argumento da “aliança” porque depende de interpretar que os filhos dos cristãos fazem parte da “comunidade da aliança” do povo de Deus. O termo “pedobatismo” significa que o costume de batizar crianças (o prefixo paidoexpressa a idéia de “criança” e é derivado da palavra grega pais,“criança”). Estarei interagindo principalmente com os argumentos de Louis Berkhof, que explica com clareza e defende bem a posição pedobatista. (grudem, p.821) 
Outro problema na exposição de Grudem se constitui o problema intrínseco dos sistemáticos em referenciarem-se entre si, com pouco ou nenhum conhecimento de causa da teologia de outras áreas. Na presente citação, o autor repete o argumento de Berkhof sobre um ponto-de-vista protestante, e nisto ecoa a voz de Strong também, entre outros notáveis deste campo. Nesta área o autor realmente cumpre o papel de ser sistemático apresentando construções de grandes grupos, mas não se pode dizer que houve uma construção mais dogmática, afinal, Cristo declara sobre crianças pequenas, Mt 19:14; Mc 10:14: De tais é o reino do céu, ou o reino de Deus. E ninguém que nasce da carne pode entrar no reino de Deus a menos que renasça, Jo 3:3. E esta regeneração e renascimento ocorre pela água e pelo Espírito, Jo 3:5. O batismo é a lavagem da regeneração do Espírito Santo, Tt 3:5. Uma vez que, então, Cristo quer que as criancinhas se tornem participantes do reino do céu, o que deve ocorrer através do batismo, é certamente intenção de Cristo, vontade e comando, que as crianças pequenas sejam batizadas. 
A promessa do reino de Deus deve ser aplicada através de um certo meio ou instrumento instituído pelo próprio Deus. Portanto, também a promessa do reino do céu, que é dada aos bebês (Mc 10:14) deve ser aplicada a eles através de um certo meio. Agora, as Escrituras declaram que isso significa o batismo. Jo 3:5; Tt 3:5. 
Em segundo lugar, Cristo também quer que as crianças sejam salvas, pois Ele diz: Não é a vontade do Pai celestial que um desses pequeirinhos pereça, Mt 18:14. Mas o Pai Celestial salvou-nos pelo lavar regenerador, Tt 3:5. É, portanto, a vontade de Deus que os bebês sejam batizados e que não pereçam, mas sejam salvos. 
Em terceiro lugar, os bebês são concebidos e nascidos em pecados, de modo que por natureza eles são filhos de ira, Sl 51:5; Ef 2:3. Portanto, eles devem obter o perdão dos pecados, para que eles não pereçam, mas sejam salvos, Lc1:77; Rm 4:7. 
Sobre o ingresso no corpo de Cristo, Grudem declara: 
Mas como alguém se torna membro da igreja? O meio de ingresso na igreja é voluntário, espiritual e interior. Alguém toma-se membro da verdadeira igreja através do novo nascimentoe da fé salvadora,e não de um nascimento físico. Isso ocorre não por um ato externo, mas pela fé interior do coração. Com certeza é verdade que o batismo é o sinal de ingresso na igreja, mas isso significa que este deve ser ministrado aos que dão provade serem membros da igreja, somente os que professam fé em Cristo. (Grudem, p.823) 
Is 49:22 profetiza que no Novo Testamento não só os adultos seriam implantados na igreja, mas eis que, diz ele, eles vão trazer seus filhos em seus braços e suas filhas em seus ombros. E Pedro diz (Atos 2:39) depois que ele tinha batizado adultos: Esta promessa foi feita para você e para seus filhos. Dessa forma, também os apóstolos batizaram domicílios inteiros, Atos 16:33; 1 Co 1:16. Onde uma casa ou família é mencionada, bebês certamente não são excluídos. E quando os adultos são convertidos pela primeira vez, o ensino precede e segue o batismo. Atos 2:41; 8:12, 35-38; 10:44-48. Mister se faz salientar que o Batismo não é apenas símbolo da presença de Cristo, mas que por ele, Cristo se faz verdadeiramente presente. Ef 5:25-26: Cristo deu-se para a igreja, para que Ele pudesse santificá-la, limpá-la com a lavagem de água pela Palavra. Da mesma forma, ele diz que somos batizados na morte de Cristo (Rm 6:3) e na ressurreição de Cristo (I Pe 3:21). Na verdade, no batismo vestimos Cristo (Gl 3:27). E é isso que se diz nos Atos: ser batizado em nome de Cristo. 
Na verdade, há outros exemplos em que o batismo não é mencionado, nos quais vemos testemunho explícito do fato de que uma família inteira demonstrou fé. Depois que Jesus curou o filho de um oficial, lemos que o próprio pai “creu e toda a sua casa ” (Jo 4.53). Semelhantemente, quando Paulo pregou em Corinto, “Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa (At 18.8). (Grudem, p. 824) 
A problemática deste ponto se apresenta justamente no fato de considerar o autor a “fé”, dom sobrenatural de Deus, como um sinônimo de “fé reflexa”, ou a consciência de se haver fé. As palavras da instituição do batismo e muitas outras passagens das Escrituras nos mostram isso, por exemplo, Mc 16:16; Atos 2:38; 22:16; Ef 5:25-26; Tt 3:5, 7; Jo 3:5; 1 Pe 3:21. Daí Lutero justamente diz em seu catecismo: 
O batismo opera o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá salvação eterna a todos os que crêem nisso, como declaram as palavras da promessa divina. 
Se Cristo é separado do batismo, ou batismo de Cristo, então, de fato, a lavagem de água de si mesma não pode operar ou conferir qualquer dessas coisas, mas é e continua a ser apenas um sinal simples. 
Mas como Cristo está no e com o ato do batismo, para que sejamos batizados em Sua morte e ressurreição (Rm 6:3; 1 Pe 3:21), no batismo nos revestimos de Cristo (Gl 3:27), e ele mesmo nos purifica por essa lavagem (Ef 5:25-26), da mesma forma, como Deus o Pai dá, apresenta e sela aos crentes o mérito de Cristo através de Seu Espírito Santo no Batismo e através do batismo (Tt 3:5-6). 
Finalmente, os que defendem o batismo de convertidos com freqüência expressam preocupação diante das conseqüências práticas do pedobatismo. Eles argumentam que a prática do pedobatismo na igreja de hoje muitas vezes leva pessoas batizadas na infância a presumir que foram regeneradas, e assim não sentem a urgência da necessidade que têm de virem a ter fé pessoal em Cristo. Em alguns anos, essa tendência provavelmente resultará em número crescente de membros não convertidosna “comunidade da aliança”, os quais não são verdadeiramente membros da igreja de Cristo. Naturalmente, isso não fará de uma igreja pedobatista uma falsa igreja, mas a tomará uma igreja menos pura, que com freqüência estará enfrentando tendências doutrinárias liberais ou outros sinais de incredulidade trazidos para a igreja pelos membros não regenerados. (Grudem, p.826) 
Neste ponto, ao meditar sobre os efeitos do batismo, Grudem esbalha não apenas na doutrina do batismo, mas em sua doutrina sobre a igreja, desconsiderando-a como um corpus permixtus. Nem todos são praticantes da Palavra, e nem todos os que ouvem a Palavra a mantém (Lc 8:15; 11:28; Mt 7:26). As parábolas dos evangelhos também mostram isso claramente (Mt 13:24-30, 47-48; 22:1-14). Portanto, Onde há pessoas que usam os Sacramentos (Mc 16:16; 1 Co 10:17; 11:33), ouvem a Palavra de Deus (Jo10:27, recebem-a (1 Ts 1:6; 1 Co 15:1, confessam Cristo (Mt 10:32), seguem-o (Jo10:27), invocam a Deus,como ele ordenou na Palavra (Lc19:46; 1 Co 1:2; Sl 79:6). E esses sinais às vezes estão mais em evidência, às vezes menos evidentes. Pois neste fundamento alguns constroem o ouro, algums restolho (1 Co 3:12-13). E, no entanto, se a fundação permanece intacta, Deus tem Sua igreja lá (1 Rs 19:18). 
Justamente por ser a verdadeira igreja este corpo misto, e entendendo-se a questão do Simul na natureza humana, a resposta a Grudem precisamente escriturística deve ser que a regeneração de fato, isto é, adoção e o perdão dos pecados é ato completo e terminado nos crentes imediatamente após o batismo, e ainda assim se estende por toda a vida de um homem. Mas a renovação é de fato iniciada no batismo e cresce diariamente, é finalmente concluída na vida que está por vir. Pois nesta presente vida a renovação ainda é imperfeita e deve crescer e aumentar dia após dia. 2 Co 4:16; Ef 4:22-23; Cl 3:10; 1 Pe 2:1-2.



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