sábado, 11 de abril de 2020

Wayne Grudem – uma avaliação crítica parte 1


Wayne Grudem – uma avaliação crítica à luz da teologia bíblica luterana. Breve comentário sobre leitura de TEOLOGIA SISTEMÁTICA, Wayne Grudem, p. 801 a 813.


Este é um breve comentário sobre a leitura deste famoso livro de Teologia Sistemática de linha reformada no objetivo único de expor as diferenças teológicas, especialemente tendo-se em vista que a reforma luterana e a calvinista foram movimentos não apenas separados, mas antagônicos entre si desde o início. 
A lista abaixo talvez não seja exaustiva, mas inclui a maioria dos meios de graça a que os salvos têm acesso na comunhão da igreja: 1. O ensino da Palavra 2. O batismo 3. A ceia do Senhor 4. A oração uns pelos outros 5. A adoração 6. A disciplina da igreja 7. A oferta 8. Os dons espirituais 9. A comunhão 10. A evangelização 11. O ministério individual (grifo nosso)
Na lista de Grudem a disciplina e a oferta são colocados como canais da graça divina, entretanto, sem a correta distinção entre lei e evangelho, (ou com uma visão mais próxima de Agrícola) expressões da lei são apresentados em meio aos meios evangélicos.
Mas segundo o ponto de vista protestante, os meios de graça são simplesmente meios de os cristãos receberem mais bênçãos e nada acrescentam à nossa aptidão de receber a justificação divina.
Grudem, alem de erradamente colocar esta posição como sendo a posição “protestante”, e com isto escondendo o fato de que isto não representa o totum das igrejas da reforma também nega a justificação objetiva, classificando o que é sacramento com a característica própria do sacrifício, a saber, aquilo que o homem oferece a Deus. 
Os católicos pregam que esses meios ou sacramentos dispensam graça independentemente da fé do ministro ou do crente,5 (sic) enquanto os protestantes sustentam que Deus só dispensa a graça quando há fé da parte das pessoas que administram ou recebem esses meios.
De fato, ao fazer-se tal postulação, Grudem se coloca ao lado dos Donatistas por crer que a dignidade dos ministros é o que valida o sacramento.
O crescimento e a força da igreja estão de tal forma ligados à regência da Palavra de Deus na vida das pessoas que mais de uma vez o livro de Atos chega a igualar o crescimento da igreja ao crescimento da Palavra de Deus: "Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos” (At 6.7); “Entretanto, a palavra do Senhor crescia e se multiplicava ”(At 12.24); “E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região” (At 13.49).
Tão importante é a Bíblia como meio fundamental da graça que Deus dá ao seu povo, que Charles Hodge nos lem bra que ao longo da história o verdadeiro cristianismo floresceu “proporcionalmente ao grau de conhecimento da Bíblia, ao grau de difusão das suas verdades entre as pessoas”. (grifo nosso)
Neste ponto, erra o autor ao identificar o que é a Igreja – local onde a Palavra é pregada, e onde os sacramentos são corretametne administrados. A palavra de Deus está presente no crescimento da igreja, entretanto, a Palavra completa estava presente, tanto no ensino das Sagradas Letras, como a mesma Palavra era comida no sacramento da comunhão (Atos 2:42) e derramada sobre os pecadores (Atos 22:16). Talvez, por reduzir a palavra de Deus à sua forma escrita, o autor não queira considerar as instiuições do próprio Cristo como contingentes da Palavra, muito embora o próprio livro da Palavra assim o afirme.
Quando o batismo acontece logo depois da profissão de fé inicial da pessoa e é de fato a forma exterior que a profissão de fé assume, há certamente um vínculo entre o batismo e o recebimento do dom do Espírito Santo, pois Pedro diz aos seus ouvintes no Pentecostes: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome dejesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38). Além disso, diz Paulo: “[Fostes] sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.12). A declaração de que é “mediante a fé no poder de Deus” que isso acontece nos faz lembrar que não há propriedade mágica no ato do batismo em si que provoque o resultado espiritual; mas o versículo tam bém indica que quando a fé acom panha o batismo, há verdadeira obra espiritual na vida da pessoa batizada. (grifo nosso)
Sobre o batismo aqui anunciado, o autor o coloca apenas como ato exterior resultante da a fé, sem fazer distinção entre fé reflexa ou não. Como resultado, ele vincula o dom sobrenatural de Deus que é a fé, onde o próprio Cristo é seu autor e consumador, e a epístola aos Gálatas a coloca como fruto do Espírito, com uma capacidade da inteligência humana iluminada pela luz da razão, a saber, o ato de se poder organizar em palavras aquilo que recebeu. Portanto nesta vinculação há um erro essencial quanto à origem da fé e a origem do ato proclamatório da mesma. Em segundo plano, ao citar o texto de Atos, perverte a Palavra de Deus, ao colocar a conjunção e (Kai) como indicativa de eventos diferentes, ao passo que a própria palavra é contra ele. Seu uso não pode ser outro que o de cumular eventos, o ato da remissão dos pecados tem uma origem dúplice no arrependimento e (kai) no batismo. Ao usar esta expressão, quiz o Espírito Santo vincular arrependimento e batismo à remissão dos pecados, portanto, erra o autor ao chamar este vínculo da água do batismo com a Palavra que redime Pecados de “propriedade mágica”
Existe uma união espiritual entre os salvos e com o Senhor, que se fortalece e se solidifica na ceia do Senhor, e ela não deve ser desprezada.
De fato, não se pode negar que o comer e beber da Ceia do Senhor seja um comer memorial, como querem os zwinglianos, e um comer espiritual, como diz o autor, onde nossos corações são elevados à presença de Deus e o abraça pela fé, mas ao enfatizar o tipo de comer como espiritual, nega o autor o terceiro tipo de comer, o sacramental, com o qual Cristo institui a comunhão na noite em que foi traído. Esse argumento usado por ele é absolutamente inconclusivo em provar qualquer coisa contra o significado apropriado e natural dessas palavras: “Tome, coma; isto é o Meu corpo...”pois o mesmo Cristo na mesma instituição, não só falou sobre o pão e o vinho, mas ao mesmo tempo Ele também afirmou o que recebemos nesta Ceia comendo e bebendo: “Isto é o Meu corpo, isto é o Meu sangue ...” E certamente a presença do corpo e o sangue de Cristo na Ceia é mais importante do que a presença do pão e do vinho. Certamente, é uma coisa incomparavelmente maior se, na Ceia, nossa boca receber o corpo e o sangue de Cristo do que receber apenas o pão e o vinho. Portanto, se por causa da alimentação espiritual não estamos dispostos a remover o que é menos importante na Ceia, ou seja, os elementos do pão e do vinho, porque temos uma palavra a respeito deles, como podemos então condenar e rejeitar, por causa disso o significado natural do testamento de Cristo em relação à presença e recepção substancial de Seu corpo e sangue na Ceia?
Se a adoração é verdadeiramente uma aproximação de Deus, é chegar-se à sua presença rendendo-lhe o louvor que ele merece, então certamente devemos tê-la como um dos principais “meios de graça” disponíveis à igreja. Por intermédio da genuína adoração conjunta, Deus muitas vezes dispensa maiores graças ao seu povo, tanto individual quanto coletivamente.
É interessante notar aqui que o autor não faz reservas em colocar a adoração por oração e jejum da congregação como meios da graça, ao passo que na mesma linguagem ele chama o batismo e a ceia de “magia” De fato, tal ato de culto é meio da graça, entretanto, também não é a adoração ex opere operato que manifestará o favor de Deus, mas é de fato verdadeira adoração, quando derramamos nosso coração diante de Deus (Sl 62:8; 25:1-2; 86:4; 143:8) e, chegando assim ao trono da graça (Hb 4:16), nos dirigimos, com submissão filial e verdadeira devoção do coração, a Deus, nosso Pai, que está presente e ouve (Gl 4:6) e, por Seu comando e confiando em Sua promessa, definindo diante dele nossos problemas e desejos, na verdadeira fé, através e por Cristo, buscando misericórdia, graça e ajuda nas coisas que pertencem a Sua glória e são necessárias, úteis e salutares para nós (Hb 4:16; Jo 16:23-24) ou dar-lhe agradecimentos pelas bênçãos recebidas, e louvor e glorificar seu nome (1 Tm 2:1; 1 Co 14:16).
Parece correto, então, considerar a imposição de mãos como outro elemento da rica diversidade dos “meios de graça” que Deus concedeu à igreja para distribuir bênçãos ao seu povo.
Além dos outros dons de milagres, os apóstolos também tinham este, que na imposição de suas mãos não apenas curavam os enfermos (Mc 16:18), mas o Espírito Santo também era conferido aos crentes sob a forma externa e visível de dons como línguas e profecia (At 19: 6). Mas essa prerrogativa dada aos apóstolos para confirmar a doutrina era apenas temporária. Na Palavra divina, não temos nenhum mandamento pelo qual somos ordenados a seguir o exemplo dos apóstolos, nem a promessa divina que Deus deseja enviar, dar e conferir ao Espírito Santo pela imposição de nossas mãos. Os apóstolos usaram essa cerimônia como adiáforo, por causa das orações públicas.
Ao final deste exame dos meios de graça na igreja, convém perceber antes de tudo que quando qualquer um desses meios é utilizado com fé e obediência, os cristãos devem esperar e procurar evidências de que o Espírito Santo está de fato ministrando às pessoas simultaneamente à utilização dos meios. (grifo nosso)
Na parte conclusiva o autor novamente parece por Deus à prova. Não bastando a promessa de Deus que acompanha cada meio da graça como meios que efetivamente concedem ou aumentam a fé e ao qual o próprio Espírito está vinculado, aqui o autor estimula seus leitores a sondar uma manifestação do agir do Espírito Santo, não considerando então que os próprios meios são per se o próprio agir.


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