quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O Exorcismo de Lutero



Tarde da noite, em um mosteiro afastado de tudo, ao fim de um longo corredor escuro podia-se ouvir a voz de um homem gritando, ele se dirigia ao diabo! Ele se debatia enquanto recitava em voz alta passagens da Bíblia afim de manter o mal longe de si, afim de afirmar em alta voz a sua fé e sua pertença a Deus: 

Como ele repelia os demônios: 

“tendo invocado o nome de Cristo, pus-me a bater nele, e parece-me que, de fato, bati. Ao ouvir o nome de Cristo, logo esse grande (demônio) desapareceu com todos os seus demônios.(...) Salmodiava contra ele, e tudo desaparecia. Muitas vezes seus golpes me feriram, e eu dizia: ‘Nada me separará do amor de Cristo’ (Rm 8, 35).” 

Parece uma boa trama para um filme de terror, mas é apenas o viver diário de um homem conhecido da história do Cristianismo. 

Lutero travava uma luta diária, muitas vezes pensavam ser ele um louco de ficar gritando palavras sozinho em seu quarto no mosteiro, atribuiam a isto uma instabilidade mental. 

Mas longe de ser isto, o que acontecia realmente não era um homem atormentado por sua mente, mas por seus demônios. Sua luta contra o diabo o levava a recitar as escrituras em alta voz, isto se projetou em sua teologia de tal modo que não se vê sombra de uma teologia de sofrimento ou martírio, mas todo o seu cerne está na firme convicção de que em Cristo não havia temor. Seu mais famoso hino, Castelo Forte, é um testemunho de como ele confiava de modo inabalável. Toda a sua teologia se mostra profundamente sacramental. Nenhuma experiência humana pode ser posta acima das escrituras, e pelas Escrituras, a participação nos sacrametos tem um efeito muito objetivo: um livra do mal, o outro, também! 

Assim Lutero lutou contra o diabo em seus dias, ele buscou refúgio na Palavra, e afastava a dúvida com os sacramentos. 

Seria ele um desequilibrado? Não podemos fazer um diagnóstico com séculos de distância, mas uma coisa sabemos com certeza: diante do ataque do maligno em suas noites no mosteiro, ele sabia bem em quem ter esperança, e isto sempre foi muito claro para ele, porque pela Palavra, ele sabia “nada me separará do amor de Cristo” 

É interessante ver como esta luta diária dele é vista por alguns “apologistas” como uma prova de que ele era um desequilibrado, gritar a palavra de Deus em voz alta no meio da noite como um meio irrefutável de sua desordem mental e fazer disto um motivo para invalidar sua teologia, esquecendo-se, convenientemente, dos santos antes dele que passaram exatamente pela mesma experiência, e são vistos como heróis da fé. Esta citação mesmo, apesar de que poderia ter vindo do próprio Lutero, é apenas um relato da vida de Santo Antão, um dos mais respeitosos pais da igreja cristã (Vida e Conduta de Santo Antão, col. Patrística vol 18, p. 183)

Nenhum comentário:

Postar um comentário