domingo, 24 de junho de 2018

São João Batista, a voz no tempo!


Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 293,1-3: PL 38,1327-1328)

Voz do que clama no deserto

A Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado. Dentre os  nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente. Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo: tal fato tem, sem dúvida, uma explicação. E se não a soubermos dar tão bem, como exige a importância desta solenidade, pelo menos meditemos nela mais frutuosa e profundamente. João nasce de uma anciã estéril; Cristo nasce de uma jovem virgem.

O pai de João não acredita que ele possa nascer e fica mudo; Maria acredita, e Cristo é concebido pela fé. Eis o assunto que quisemos meditar e prometemos tratar. E se não formos capazes de perscrutar toda a profundeza de tão grande mistério, por falta de aptidão ou de tempo, aquele que fala dentro de vós, mesmo em nossa ausência, vos ensinará melhor. Nele pensais com amor filial,a ele recebestes no coração, dele vos tornastes templos.

João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o antigo e o novo. O próprio Senhor o chama de limite quando diz: A lei e os profetas até João Batista (Lc 16,16). Ele representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o Antigo Testamento, nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, é declarado profeta ainda estando nas entranhas da mãe. Na verdade, antes mesmo de nascer, exultou de alegria no ventre materno, à chegada de Maria. Antes de nascer, já é designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por ele. Tudo isto são coisas divinas, que ultrapassam a limitação humana. Por fim, nasce. Recebe o nome e solta-se a língua do pai. Relacionemos o acontecido com o simbolismo de todos estes fatos.

Zacarias emudece e perde a voz até o nascimento de João, o precursor do Senhor; só então recupera a voz. Que significa o silêncio de Zacarias? Não seria o sentido da profecia que, antes da pregação de Cristo, estava, de certo modo, velado, oculto, fechado? Mas com a vinda daquele a quem elas se referiam, tudo se abre e torna-se claro. O fato de Zacarias recuperar a voz no nascimento de João tem o mesmo significado que o rasgar-se o véu do templo, quando Cristo morreu na cruz. Se João se anunciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta-se a língua, porque nasce aquele que é a voz. Com efeito, quando João já anunciava o Senhor, perguntaram-lhe:

Quem és tu? (Jo 1,19). E ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23).

João é a voz; o Senhor, porém, no princípio era a Palavra (Jo 1,1). João é a voz no tempo; Cristo é, desde o princípio, a Palavra eterna.

Oração 
Cristo, sol nascente, iluminai os nossos caminhos! Vós fizestes João Batista exultar de alegria no seio de Isabel; fazei que sempre nos alegremos com a vossa vinda a este mundo. Vós nos indicastes o caminho da penitência pela palavra e pela vida de João Batista; convertei os nossos corações aos mandamentos do vosso reino. Vós quisestes ser anunciado pela voz de um homem; enviai pelo mundo inteiro mensageiros do vosso evangelho. Ó Deus, que suscitastes São João Batista, a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito, concedei à vossa Igreja as alegrias espirituais e dirigi nossos passos no caminho da salvação e da paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Luteranos não são protestantes



foto 1- criação da página Orthodox Lutheran, tomei a liberdade de traduzir
foto 2- Corpus Christi Conference
Desta vez não trago nenhuma reflexão teológica, ou textos complicados, mas apenas uma reflexão pessoal sobre identidade. Estes dias atrás fui marcado por um amigo em uma página de um evento chamado “Corpus Christi Conference”, fiquei interessado, fui ler sobre, em suma é um evento direcionado a jovens com vistas à renovação bíblica e da igreja (palavras do próprio site).
Fiquei curioso sobre qual visão teriam de um evento para atrair jovens. As informações literalmente foram “oferecemos: ensino Bíblico, Alta liturgia, louvor cristocêntrico, comunhão com outros grupos jovens luteranos. 

Basicamente, a proposta do evento para atrair jovens é fazer apenas aquilo que historicamente é nossa identidade. 

Martinho Lutero e seus companheiros obviamente tiveram uma parte significativa no movimento que a história chama de Reforma Protestante. Não é de admirar, então, que os luteranos sejam apropriadamente chamados de protestantes. Com um aceno para nossos irmãos anglicanos, nós luteranos estávamos entre os primeiros "manifestantes" dos abusos teológicos que ocorreram na igreja cristã ocidental no início do século XVI. Mas hoje, 500 anos após esta reforma, o termo “protestante” parece ter mudado muito sua acepção. 

Tirem os crucifixos do altar! Vela é só quando falta energia! Imagens de santos é idolatria! Como assim você usa um crucifixo no pescoço? Vamos tirar a liturgia para não ficar com cara de missa! Pra que se prostrar toda vez que a trindade é mencionada? Hoje, alguns estão ativamente se esforçando em perder sua identidade luterana. Há várias razões que contribuem para esse movimento, mas por trás disso, eu acho, está um profundo desejo de se assemelhar a si mesmos com o movimento atualmente conhecido como Protestantismo (que de histórico já não tem nada). É como se não pudessem se livrar de seu fardo rápido o suficiente 

Mas, apesar dessas interações, não há dúvida de que não sou protestante, pois meus pares entendem o termo. Enquanto meus irmãos protestantes acreditam que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, eles não compartilham da compreensão bíblica, entre outras coisas, da justificação somente pela fé, dos Sacramentos e da presença real, etc. Para alguns, nem mesmo confessar o Credo dos Apóstolos é possível. O Credo Atanasiano então nem se fale. Para muitos, a teologia do Livro de Concórdia é insignificante ou ofensiva. Em outras palavras, meus irmãos protestantes não se identificam como nós. E nem deveriam. Por que então alguns de dentro querem identificar a si mesmos e suas congregações com o protestantismo atual? 

O que os atrai a se identificar com aqueles que compartilham tão pouco do que as nossas confissões proclamam, se entendemos serem elas fiel exposição das Escrituras? Rejeitam o que se ensina sobre o pecado original e o livre arbítrio, já que grande parte de sua nova linguagem teológica promove uma afeição de si contra a realidade bíblica de que somos pobres e miseráveis ​​pecadores necessitados da graça de Deus. 

Será que eles não mais acreditam que a justificação pela graça através da fé é o artigo sobre o qual a Igreja permanece ou cai? Esses que se empenham em desconstruir a identidade eclesiológica, creem que a Confissão de Augsburgo ensina que a Igreja é a congregação dos santos, na qual o evangelho é corretamente ensinado e os Sacramentos são corretamente administrados? Em caso afirmativo, como eles entendem sua redefinição do Evangelho e dos Sacramentos em termos que não têm fundamento nas Escrituras, nas Confissões ou na tradição da igreja católica? Quando o altar vira palco, como estes entendem a dignidade do Sacramento do Altar? 

Falando sobre os sacramentos, como aqueles que estão tão ansiosos para abandonar seu rótulo luterano justificam a falta de fontes batismais e altares em seus lugares de culto modernos? Quanto à adoração, eu me pergunto como esses luteranos interpretam o Artigo XXIV da Confissão de Augsburgo: “A missa é realizada entre nós e celebrada com a mais alta importância”. Pois quando alguém assiste à sua “adoração”, há poucos, se algum, sinais daquilo que a igreja católica define como adoração. 

A música, para alguns destes, parece ter se tornado um novo sacramento, transmitindo como intermediário a presença e experiência de Deus, estabelecendo um elo místico entre Deus e o adorador. Com os olhos fechados e as mãos no ar, os participantes repetem frases simples que se tornam mantras cristãos. Realmente, Deus habita entre os louvores de seu povo (Sl22.3), mas na medida em que Sua Palavra está presente. Não é o solo de guitarra, mas o Evangelho que manifesta a presença de Deus. Estes cânticos que se tem usado estão realmente trazendo a presença de Deus? Há anúncio da Palavra em todos eles, todo o tempo, são Cristocêntricos? 

Aqueles que tão desesperadamente querem se identificar com a igreja protestante - a igreja em constante mudança e em constante evolução. A igreja que precisa mudar. Precisa ficar em um estado de protesto sem fim. Contra o que? Tudo, parece. Qualquer coisa que possa ser percebida como antiga, fora do toque ou diferente da cultura contemporânea. A eterna verdade do Evangelho? A promessa de Cristo e Sua Igreja? Eu acho que não é o suficiente... 

A estratégia para atrair jovens em alguns lugares tem sido mudar uma verdade histórica como uma ferramenta de Evangelização. Mas me pregunto, que Evangelho? A Igreja que creio é a igreja de Atos, fundada por Cristo e que dia a dia o Senhor ia acrescentando os que haveriam de se Salvar (At2.47). Eu ainda creio na igreja que cresce com a Palavra e os Sacramentos. Não creio na igreja que cresce com estratégias humanas quando isto significa abandonar a fé católica, aquela confessada por nós em todos os lugares, em todas as épocas. 

Mas os as ordens de culto são adiáforos (indiferentes) dizem alguns. Ouvimos "que não é necessário", "que é inútil". Rejeita-se muito da riqueza da liturgia, com o pretexto de que não há nenhum benefício em zelar por ela, especialmente se não quisermos fazê-lo. E ai de quem se atreva a invocar os benefícios de algo que simplesmente podemos rejeitar. "Adiáforo", como nossas confissões e nossos dogmáticos sustentam, não é sinônimo de "é proibido". Realmente, há muitas coisas que não somos obrigados a fazer (ou não fazer), mas isso não significa que elas não sejam benéficas, boas ou significativas. 

Já para os que advogam transformar a nossa liturgia Cristocêntrica em shows de música que apenas repetem um mesmo refrão infinitas vezes e danças e tudo o mais para “sentir” a presença de Deus, bom: 

Espetáculos inúteis, pueris, sem proveito para a boa ordem, a disciplina cristã ou o decoro evangélico na igreja, igualmente não são adiáforos ou coisas indiferentes. 
Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, artigo X. 7 

A igreja pode mudar seus ritos? Sim, como de fato o faz, mas mudar as roupas não nos faz pessoas diferentes. Seja por qual rito que for, oriental, prussiano, Bávaro, LCMS, ou ainda de baixa liturgia, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais! Nós, luteranos, podemos ter iniciado toda essa coisa "protestante", mas qualquer afiliação com o protestantismo do século 21 pode ter que terminar. Não somos os mesmos. Nós não somos protestantes. Nós somos luteranos!

domingo, 10 de junho de 2018

O que é o Dogma de Calcedônia?




A doutrina Bíblica e ortodoxa promulgada em calcedônia em 451d.C., sustenta que na pessoa de Cristo há duas naturezas, uma humana e uma Divina, cada uma em sua plenitude e integridade e que essas duas naturezas são orgânica e indissoluvelmente unidas sem resultarem daí uma terceira natureza. Em resumo, para usar o dito artigo a doutrina Ortodoxa nos proíbe tanto dividir a pessoa quanto confundir as duas naturezas. Este posicionamento foi necessário para firmar as verdades Bíblicas frente aos ataques dos hereges, suas principais frentes já foram expostas em outro artigo no blog, intitulado “Quem não é Jesus”. 

A fórmula de calcedônia é negativa com exceção da sua declaração de um enosis hipostatikh (união hipostática). Ela procede das naturezas e considera que o resultado da união é pessoa. Considera-se cada uma das duas naturezas em movimento recíproco. O símbolo nada diz de uma anipostasia da natureza humana, nem diz que o Logos fornece o ego da personalidade. Contudo firmaram-se assim os pontos de vista da igreja no ocidente na Idade Média. Essas decisões tão somente expressam, em uma nova forma, sem qualquer acréscimo substancial, o ensino apostólico apresentado no Novo Testamento. Expressam-no numa nova forma, tendo em vista a proteção dos propósitos, do mesmo modo que a lei protege um princípio moral pré-existente. São desenvolvimentos apenas no sentido de que representam o ensino apostólico elaborado em formulas com auxílio de uma terminologia alimentada pela dialética grega: O que a igreja tomou emprestado do pensamento grego é a sua terminologia, não a substância do seu credo. Mesmo com relação a sua terminologia devemos fazer uma importante ressalva; pois o cristianismo deu ênfase a personalidade de Deus e do homem que o helenismo pouco se preocupou. 



O que é Anipostasia? 

Leôncio combateu heresias afirmando que, uma vez que Jesus era verdadeiro homem, Ele tinha um corpo humano e uma alma humana. Caso contrário, sua natureza humana seria incompleta, Ele seria meio homem. logo Jesus, por ter uma alma humana, tinha uma autoconsciência humana, mas esta não possuía existência própria. Ela existia apenas no âmbito da união hipostática, isto é, da união perfeita entre a natureza humana e a divina em uma única pessoa, o Cristo. 

O termo usado por Leôncio para se referir à impossibilidade de a autoconsciência humana de Cristo viver à parte de sua divindade chama-se anipostasia. 



Prova dessa união 

1) Cristo fala uniformemente de si mesmo e fala-se dele como uma só pessoa. Não é nenhum intercâmbio de “eu” e “tu” entre as naturezas divinas e humanas como as achamos entre as pessoas da Trindade como em Jo 17.23. Cristo nunca se refere a si mesmo no plural, a não ser em Jo 3:11, “nós falamos do que sabemos”, e mesmo aqui o é mais provavelmente usado como incluindo os discípulos. 1Jo 4.2, S. João 1. 14, carne, nesses textos juntos nos asseguram que Cristo veio assim na natureza humana para tomar essa natureza um elemento em sua pessoalidade única. S. Jo 17.23 “eu neles e tu em mim para que eles sejam perfeitos em unidade e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim e que tens amado a eles como me tens amado a mim”. Assim também, 3.11, 1 Jo 4.2, Jo 1.14, ele entrou na natureza humana para que a natureza humana e ele formassem não mais duas pessoas, mas uma. 

Ele não é tanto Deus quanto Homem, mas Deus no homem e por intermédio do homem e como homem! Ele é uma pessoa totalmente indivisível. Devemos olhar o elemento Divino no humano e por meio deste. Erramos quando dizemos que algumas palavras de Jesus relativas ao não conhecimento dele de quando seria o dia final (Marcos 13.32) se referem a natureza humana, enquanto outras palavras relativas aos seu ser no céu ao mesmo tempo em que ele estava na terra (João 3.13) se referem a natureza Divina. Nunca há separação da natureza humana para com a Divina, ou da divina para com a humana. Todas as palavras de Cristo foram proferidas e todas as obras de Cristo foram feitas por uma pessoa o Deus-homem 


2) Os atributos e poderes das duas naturezas de Cristo são aplicáveis a Cristo e, às avessas, as obras e dignidades de Cristo são aplicáveis a quaisquer das naturezas, de modo inexplicável, a não ser com base no princípio de que essas duas naturezas são orgânica e indissoluvelmente unidas em uma só pessoa (Rm 13, 1Pedro 3. 18, 1Tim 2.5, Heb 1. 2, 3). Por isso podemos dizer que o Deus-homem existiu antes de Abraão, contudo, nasceu no reino de César Augusto, e que Jesus Cristo chorou, cansou-se, sofreu, morreu, e, ainda é o mesmo ontem, hoje e eternamente, e, por outro lado podemos dizer que Deus nos redimiu em uma cruz e que o Cristo humano está presente com seu povo até o fim do mundo (Ef 1.23; 4.10; Mt 28.20) 


3) As constantes representações escriturística sobre o infinito valor da expiação de Cristo e da união da raça humana com Deus que tem sido asseguradas nele só são compreensíveis quando Cristo é considerado não como um homem de Deus mas como Homem-Deus, em quem as duas naturezas são de tal modo unidas que o que cada uma faz, tem valor em ambas. 
1Jo 2. 2 “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”, como prova João em seu Evangelho, Jesus é o filho de Deus, o Verbo, Deus, em sua primeira epístola, ele prova que o Filho de Deus. Não podemos separar os atos divinos de Cristo dos humanos sem considerarmos, ainda com mais força, a unidade da sua pessoa. 


4) Confirma esse ponto de vista lembrar que a consciência cristã católica (aqui usada em seu sentido real e particular, de ser universal) reconhece em Cristo uma pessoa indivisível expressa esse reconhecimento em seus trabalhos de cântico e louvor. 

Na encarnação incluem-se três ideias: 
a) A aceitação da natureza Divina pelo Logos (2Cor 5.19 “Deus estava em Cristo”; Cl 2.9 
b) Nova criatura do segundo Adão por intermédio do Espírito Santo e do Poder do Altíssimo Rm 5.14; 1Cor 15:22; 15.45; Lc 1.35; ) 
c) Fazer-se carne SEM DIMINUIR A DIVINDADE OU A HUMANIDADE ( 1Tim 3.16; 1Jo 4.2; Jo 6. 41,51; 2Jo7 e Jo 1.14 “o Verbo se fez carne”. Esse último texto não pode significar que o Logos deixou de ser o que era e começou a ser apenas homem, não pode ser uma simples teofania na forma humana. Deve-se ter o elemento real da humanidade bem como a realidade do Logos.


sexta-feira, 8 de junho de 2018

Jesus é Deus que envia o Espírito Santo



Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. João 16:13,14. 

Se Cristo é apenas um homem, como querem alguns dizer, como o Próprio Cristo diz então que o Espírito Santo receberia do que é dele e que o anunciaria? (Jo 16,14) O Espírito Santo não recebe o que quer que seja de homem algum, mas oferece ao homem; nem aprende de um homem, mas o instrui a respeito das realidades futuras. Logo, ou o Espírito Santo não recebe de Cristo o que anuncia, e Cristo, nesta passagem, engana e ilude ao dizer que o Espírito Santo receberia dele, um homem, o que anuncia, ou então não nos engana, e o Espírito recebe de Cristo o que anuncia. 

Porém, se de Cristo recebeu o que anuncia, Cristo não é tão somente um homem, mas Deus, não menor, porque também o Espírito Santo não receberia algo de Cristo se Cristo não fosse Deus. Cristo prova, com isso, que é Deus, porque o Espírito recebeu dele o que anuncia. Assim é de grande testemunho da divindade de Cristo, ao receber de Cristo o Espírito Santo, o que entrega aos outros, considerando que, se Cristo fosse apenas um homem, receberia do Espírito Santo o que teria de dizer, nunca o contrário.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Por que Cristo precisava se tornar homem?



Mesmo que sobre várias passagens este tema poderia ser trazido, uma das mais significantes ainda é: “Ele, estando na forma de Deus, não usou de seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem, abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, a morte sobre uma cruz. Por isso Deus soberanamente o elevou e lhe conferiu o nome que está acima de todo nome, a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, sobre a terra e sob a terra, e toda língua proclame que o Senhor é Jesus Cristo para a glória de Deus Pai” (Fl 2,6-11)

Para evitar qualquer achismo, nos apeguemos ao texto: “Estando na forma de Deus” (Fl 2,6). Se Cristo fosse apenas um homem, teria sido dito que ele estava na imagem de Deus, não na forma de Deus. Sabemos que o homem foi feito à imagem (Gn 1,26-27.), não à forma de Deus. Quem foi gerado na forma de Deus? Um anjo? Mas sequer lemos que haja forma de Deus nos anjos, apenas no Filho de Deus, o Verbo de Deus, imitador de todas as obras de Deus Pai ao agir assim como o próprio Pai (Jo 5,19), Jesus é a forma de Deus! Nesta forma Jesus também está sobre todas as coisas e com poder divino sobre toda criatura ele é igualmente Deus! Sabemos então que ele é Deus e Senhor de tudo: é Deus segundo a forma de Deus Pai. 

Embora na forma de Deus, (o que testifica que Cristo é verdadeiro Deus), “não usou de seu direito de ser tratado como um deus”. Embora divino e acima de todas as coisas, jamais se comparou a Deus Pai, nem se equiparou a ele, lembrando-se que ele é eternamente gerado de Deus Pai e todo o seu ser é da mesma substância que o Pai. Daí que, enfim, não só antes de assumir da carne, mas também depois da própria ressurreição, ele prestou e presta ao Pai toda obediência em todas as coisas. Assim, sendo Deus, sempre foi obediente e submisso a todo poder e a toda vontade do Pai. Ainda aqui cabe colocarmos que a submissão de Cristo à vontade do Pai não é como a submissão humana, onde obedecemos por estarmos em posição inferior numa cadeia de comando. Cristo executa todas as obras do Pai, ele compartilha da mesma natureza e da mesma substância de Deus Pai. Sua submissão consiste no próprio fundamento de seu reino, numa união perfeita (hipostática) marcada não pela dominação de uns sobre os outros, mas na capacidade de servir ao outro (Mt 20.21-28)

Assim, de bom grado assumiu a forma de escravo, ou seja, se fez homem e da carne e corpo que tomou ao nascer segundo a natureza humana, da escravidão do pecado, um corpo carregado com suas dores, sofrido pelo trabalho, enfraquecido e limitado.

Cristo despojou-se (abriu mão), naquela ocasião, a si mesmo, ao assumir a fragilidade humana dessa condição. Porque, se tivesse nascido apenas homem, não teria como ter se despojado de algo. Um homem ao nascer desenvolve-se, não se despoja. Não há do que se despojar quando se começa uma vida. Como Cristo se despoja por nascer e tomar a forma de escravo, como diz o texto, se ele é apenas um homem? Então ele teria se enriquecido, se desenvolvido, ao invés de, nas palavras do texto, se despojado.

Então vemos o fruto de sua obra de, sendo Deus, ter se despojado para assumir a nossa humanidade: recebeu um “nome que está acima de todo nome”,(Fl 2,9) nome que não pode ser outro senão o de Deus. Pois, se estar acima de tudo é próprio de Deus apenas, logicamente estar sobre tudo é próprio de Deus! Assim, existe um nome que está acima de todo nome, e é o nome daquele que, tendo estado na forma de Deus, não usou de seu direito de ser tratado como um deus.( Fl 2,10) Se Cristo, não fosse também Deus, tudo o que existe, dentre os seres celestes, terrestres e infernais, não dobraria o joelho ao seu nome, nem estaria submetido ou posto aos pés de um homem,( Cl 1,16; Ef 1,21-22) as realidades visíveis ou invisíveis de todas as coisas, as quais existiam antes do homem. 

Com tudo isto, ao se dizer que Cristo estava na forma de Deus,( Fl 2,6) ao se mostrar que, em seu nascimento segundo a carne, ele se despojou, ao se afirmar que ele recebeu do Pai esse nome que está acima de todo nome, ao se revelar que, a seu nome, todo joelho das criaturas celestes, terrestres e infernais se dobra, e ainda, ao se dizer que isso mesmo ocorre para a glória de Deus Pai, ele não é apenas um homem pelo fato de que se tenha feito “obediente até a morte, a morte sobre uma cruz”, mas, por tudo o que o texto nos expõe, reconhecemos a divindade de Cristo! Jesus Cristo é um só Senhor, gerado do Pai antes de todos os tempos, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas, o qual por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu, e encarnou por obra do Espírito Santo, da Virgem Maria, e foi feito homem. Foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. E, ao terceiro dia, ressuscitou, segundo as Escrituras, e subiu ao céu, e está sentado à mão direita do Pai, e virá outra vez com glória a julgar os vivos e os mortos, e o seu Reino não terá fim.

domingo, 3 de junho de 2018

Quem não é Jesus


( São Nicolau espanca Ário)


Hoje em dia, mais do que nunca temos visto o ressurgimento de velhos pensamentos já condenados pela cristandade. E não é sem motivo, vivemos uma era de muita informação à disposição, mas sem a antiga profundidade do conhecimento. Lembram-se do caso famoso em goiás do Césio-137? Uma pedrinha perigosa que já havia sido descartada é recolhida por alguém sem experiência e leva à desgraça toda uma família ao ser levada para casa, e atinge todos da mesma comunidade em maior ou menor grau. Assim, uma dessas crenças abandonadas pode danificar. Neste artigo, são colocadas algumas delas: 



Ebionistas 

Este grupo negava a natureza divina de Cristo, e sustentavam que ele era apenas homem. Contudo, gozava de uma condição especial com Deus, na qual, desde o batismo, uma plenitude desmedida do Espírito Santo repousava sobre ele. O ebionismo era simplesmente um judaísmo sob o disfarce da Igreja e a negação da divindade de Cristo era uma consequência de sua visão de monoteísmo. 

Há algumas divergências sobre a origem exata do movimento, certo é que o nome deriva do Hebraico, significando “pobres”. Acredita-se que derivam dos refugiados do ano 66 d. C., pouco antes de Jerusalém ser destruída, o movimento ganhou força por volta do ano 100 e durou até por volta do ano 400. Não se tratava de um Cristianismo judaizante, mas de uma vertente à parte do cristianismo. 

Os Ebionistas Nazarenos confessavam o nascimento sobrenatural de Cristo, negando, contudo, que pudesse se tratar da encarnação do Verbo Eterno, antes, Jesus teria nascido puramente humano, reconheciam assim, nada além da hipóstasis do Filho. 

Os Ebionistas de Cerinto negavam o seu nascimento sobrenatural, e em seu lugar consideravam o batismo de Cristo como seu nascimento sobrenatural. 

Para este grupo não havia nenhuma união pessoal entre o elemento divino e o humano em Cristo, ou seja, o Cristo é uma força impessoal que desceu sobre Jesus, ele seria uma força pré-existente acima das forças terrenas criadas. Não havia relação pessoal entre o elemento humano, que era Jesus, com o elemento divino, que era o Cristo.
ou Seja, eram duas naturezas uma criada e uma eterna que viviam sob uma mesma “carcaça”. Evidentemente assim rejeitavam qualquer ideia de adoração e os escritos de São Paulo, principalmente a carta aos Hebreus. 



Donatistas 

Seu nome deriva do grego, significando “aparência” e como muitos gnósticos do século 2 e os maniqueístas no século 3 viriam a fazer mais tarde, este hereges que existiram entre os anos 70 e 170 d. C., negavam a realidade do corpo de Cristo. Este ponto de vista era a sequência lógica da suposição de que o mal é inerente à matéria. Se a matéria é má, e Cristo era puro, então o corpo humano de Cristo deve ter sido meramente uma aparência. Nada mais que uma doutrina pagã inserida no meio da igreja. 

O Donatismo valentiniano tornou o Eon, o Cristo, um corpo puramente espiritual e digno dele, ao passar pelo corpo da Virgem como água através de um duto, sem tomar nada para si da natureza humana por intermédio dela. A vida de Cristo seria então somente uma teofania. A sua forma mortal seria então transitória, passageira, não subsistindo depois disto. 

Contra isto, Hebreus 2.14 se torna contundente. Tanto o erro donatista quanto o ebionista sugiram da falha tentativa de se explicar o Homem-Deus a partir da filosofia Aristotélica. 



Arianismo 

Tem seu nome por conta de Ário, condenado em Nicéia em 325 d.C., este grupo negava a integridade da natureza divina de Cristo. Eles consideravam o Logos que se uniu à humanidade em Cristo, não como cheio de divindade absoluta, mas como o primeiro e mais elevado dos seres Criados. Este ponto de vista originou-se de uma falsa interpretação dos relatos escriturísticos do estado de Humilhação de Cristo. 

Enquanto o erro dos sabelianos (seita entre os docetistas) era de reduzir a encarnação do Filho a um fenômeno temporário, Ário acreditava numa maior fixidez desta união, entretanto, a realidade desta filiação requeria uma subordinação ao Pai, Alegando assim ser o Filho ser gerado pelo Pai, entretanto, não eternamente gerado, como preconiza a fé Cristã, mas gerado no tempo, ou seja, sua divindade era em sentido impróprio, não muito distante do conceito de semi-deuses da cultura helênica, e negava, assim que Pai e Filho fossem Deus de uma só substância. 



Apolinaristas 

Seu nome deriva de Apolinário, condenado em Constantinopla em 381 d.C.. Estes negavam a integridade da natureza humana de Cristo. Segundo esse ponto de vista, Cristo, de modo nenhum, tinha Nous ou Pneuma (espírito) humano. A porção humana de Cristo consistia em Soma (corpo) e Psique (mente), sendo o lugar do Pneuma humano preenchido pelo Logos divino. O apolinarismo é uma tentativa de construir a pessoa de Cristo segundo a teoria tricotomista platônica (que afirma ser o homem composto de 3 partes: Corpo, alma e espírito). 

Com este ensino, Cristo não seria homem completo. Para eles, a impossibilidade de se haver uma combinação da alma humana e divina num mesmo ser resultou em negar a alma humana de Cristo. A ideia presente aqui é que havia uma tendência eterna para o elemento humano no próprio Logos, portanto, que Em Deus estava a perfeição da humanidade, e portanto, não há o Verbo que se fez carne, Deus não se torna homem, ele sempre o foi, e houve apenas uma manifestação na carne daquilo que o Logos já era. Este foi o erro de se interpretar erradamente o fato de termos sido feitos a imagem e semelhança de Deus. 



Nestorianismo 

Seu nome deriva de Nestório, exonerado do patriarcado de Constantinopla em 431 d.C., que considerava a unidade da divindade e da humanidade de Cristo mais como uma unidade moral que orgânica propriamente. 

Nestório não gostava da expressão “Maria, Mãe de Deus”. A Declaração de Calcedônia declarava esta verdade, com o significativo acrécimo: “quanto à sua humanidade”. Nestório fazia Cristo um templo de Deus. Ele acreditava na Synáfeia (Adesão), mas não na Enosis (união), em suma, não aceitava a união absoluta das naturezas humana e divina na pessoa singular de Cristo. A adesão fazia de Cristo homem e Deus, mas não um Deus-Homem. 

Desta forma, na cruz, os golpes desferidos contra a humanidade de Cristo não ferem a sua Deidade. Embora a carne possa sofrer, a deidade de Cristo permanecia impassível. Neste pensamento, não pode haver então eficácia divina alguma nos sofrimentos humanos e não há nenhuma união pessoal do elemento divino com o humano. O erro é na verdade um nominalismo filosófico. Ele tão somente acreditava mais numa união local ou moral, como uma união matrimonial, em que os dois se tornavam um. O nestorianismo sustenta que não há encarnação real, só uma aliança entre Deus e o homem, como se fossem siamesas, juntas, porém de uma união limitada. O Cristo de Nestório era um homem deificado, mas jamais um Deus humanado. 



Eutiquianos 

Seu nome deriva de Eutiques, condenado em Calcedônia em 451 d.C., estes negavam a distinção e a coexistência das duas naturezas e defendiam uma mistura de ambas, o que constituía um tertium quid. Como o Divino deve se sobrepor ao humano, nesta mistura, o humano foi totalmente absorvido pela divindade, apesar de que o divino também não ficou sendo o mesmo. Eles eram mais conhecidos como monofisistas, pois, virtualmente reduziam as duas naturezas de Cristo em uma somente. Toda a humanidade de Cristo era uma pequena gota diluída no oceano da divindade, esta mescla a fazia ser totalmente absorvida. Esta teoria nega o elemento humano, e com isto a expiação torna-se uma impossibilidade assim como uma união do homem com Deus. 


Em tempos modernos, mesmo o trinitário as tende a ser levado a confessar que Jesus é homem E Deus, implicando desta forma duas substâncias. O melhor é dizer que o Deus-Homem manifesta todos os poderes divinos e qualidades de que todos os homens são imbuídos, que dizer que a natureza de Cristo seja formada por corpos parciais. 

Aparentemente, o testemunho histórico parece apontar que as possibilidades de heresias e as futuras negações da doutrina cristã da pessoa de Cristo seja, em essência, repetições ou variações dos pontos já mencionados. Por fim, toda heresia historicamente tem girado em torno de: 

1- A realidade das duas naturezas de Cristo 

2- A integridade das duas naturezas 

3- A união das duas naturezas em uma só pessoa 

O ebionismo e o docetismo negam a realidade das naturezas, o arianismo e o apolinarismo negam sua integridade, o nestorianismo e o eutiquianismo negam a sua união. De fato, os modernos sistemas de crenças que tem negado a histórica doutrina bíblica e cristã da pessoa de Cristo tem, na maioria das vezes, repetido as objeções dos antigos predecessores.