quinta-feira, 7 de junho de 2018

Por que Cristo precisava se tornar homem?



Mesmo que sobre várias passagens este tema poderia ser trazido, uma das mais significantes ainda é: “Ele, estando na forma de Deus, não usou de seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem, abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, a morte sobre uma cruz. Por isso Deus soberanamente o elevou e lhe conferiu o nome que está acima de todo nome, a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, sobre a terra e sob a terra, e toda língua proclame que o Senhor é Jesus Cristo para a glória de Deus Pai” (Fl 2,6-11)

Para evitar qualquer achismo, nos apeguemos ao texto: “Estando na forma de Deus” (Fl 2,6). Se Cristo fosse apenas um homem, teria sido dito que ele estava na imagem de Deus, não na forma de Deus. Sabemos que o homem foi feito à imagem (Gn 1,26-27.), não à forma de Deus. Quem foi gerado na forma de Deus? Um anjo? Mas sequer lemos que haja forma de Deus nos anjos, apenas no Filho de Deus, o Verbo de Deus, imitador de todas as obras de Deus Pai ao agir assim como o próprio Pai (Jo 5,19), Jesus é a forma de Deus! Nesta forma Jesus também está sobre todas as coisas e com poder divino sobre toda criatura ele é igualmente Deus! Sabemos então que ele é Deus e Senhor de tudo: é Deus segundo a forma de Deus Pai. 

Embora na forma de Deus, (o que testifica que Cristo é verdadeiro Deus), “não usou de seu direito de ser tratado como um deus”. Embora divino e acima de todas as coisas, jamais se comparou a Deus Pai, nem se equiparou a ele, lembrando-se que ele é eternamente gerado de Deus Pai e todo o seu ser é da mesma substância que o Pai. Daí que, enfim, não só antes de assumir da carne, mas também depois da própria ressurreição, ele prestou e presta ao Pai toda obediência em todas as coisas. Assim, sendo Deus, sempre foi obediente e submisso a todo poder e a toda vontade do Pai. Ainda aqui cabe colocarmos que a submissão de Cristo à vontade do Pai não é como a submissão humana, onde obedecemos por estarmos em posição inferior numa cadeia de comando. Cristo executa todas as obras do Pai, ele compartilha da mesma natureza e da mesma substância de Deus Pai. Sua submissão consiste no próprio fundamento de seu reino, numa união perfeita (hipostática) marcada não pela dominação de uns sobre os outros, mas na capacidade de servir ao outro (Mt 20.21-28)

Assim, de bom grado assumiu a forma de escravo, ou seja, se fez homem e da carne e corpo que tomou ao nascer segundo a natureza humana, da escravidão do pecado, um corpo carregado com suas dores, sofrido pelo trabalho, enfraquecido e limitado.

Cristo despojou-se (abriu mão), naquela ocasião, a si mesmo, ao assumir a fragilidade humana dessa condição. Porque, se tivesse nascido apenas homem, não teria como ter se despojado de algo. Um homem ao nascer desenvolve-se, não se despoja. Não há do que se despojar quando se começa uma vida. Como Cristo se despoja por nascer e tomar a forma de escravo, como diz o texto, se ele é apenas um homem? Então ele teria se enriquecido, se desenvolvido, ao invés de, nas palavras do texto, se despojado.

Então vemos o fruto de sua obra de, sendo Deus, ter se despojado para assumir a nossa humanidade: recebeu um “nome que está acima de todo nome”,(Fl 2,9) nome que não pode ser outro senão o de Deus. Pois, se estar acima de tudo é próprio de Deus apenas, logicamente estar sobre tudo é próprio de Deus! Assim, existe um nome que está acima de todo nome, e é o nome daquele que, tendo estado na forma de Deus, não usou de seu direito de ser tratado como um deus.( Fl 2,10) Se Cristo, não fosse também Deus, tudo o que existe, dentre os seres celestes, terrestres e infernais, não dobraria o joelho ao seu nome, nem estaria submetido ou posto aos pés de um homem,( Cl 1,16; Ef 1,21-22) as realidades visíveis ou invisíveis de todas as coisas, as quais existiam antes do homem. 

Com tudo isto, ao se dizer que Cristo estava na forma de Deus,( Fl 2,6) ao se mostrar que, em seu nascimento segundo a carne, ele se despojou, ao se afirmar que ele recebeu do Pai esse nome que está acima de todo nome, ao se revelar que, a seu nome, todo joelho das criaturas celestes, terrestres e infernais se dobra, e ainda, ao se dizer que isso mesmo ocorre para a glória de Deus Pai, ele não é apenas um homem pelo fato de que se tenha feito “obediente até a morte, a morte sobre uma cruz”, mas, por tudo o que o texto nos expõe, reconhecemos a divindade de Cristo! Jesus Cristo é um só Senhor, gerado do Pai antes de todos os tempos, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas, o qual por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu, e encarnou por obra do Espírito Santo, da Virgem Maria, e foi feito homem. Foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. E, ao terceiro dia, ressuscitou, segundo as Escrituras, e subiu ao céu, e está sentado à mão direita do Pai, e virá outra vez com glória a julgar os vivos e os mortos, e o seu Reino não terá fim.

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