sexta-feira, 22 de junho de 2018

Luteranos não são protestantes



foto 1- criação da página Orthodox Lutheran, tomei a liberdade de traduzir
foto 2- Corpus Christi Conference
Desta vez não trago nenhuma reflexão teológica, ou textos complicados, mas apenas uma reflexão pessoal sobre identidade. Estes dias atrás fui marcado por um amigo em uma página de um evento chamado “Corpus Christi Conference”, fiquei interessado, fui ler sobre, em suma é um evento direcionado a jovens com vistas à renovação bíblica e da igreja (palavras do próprio site).
Fiquei curioso sobre qual visão teriam de um evento para atrair jovens. As informações literalmente foram “oferecemos: ensino Bíblico, Alta liturgia, louvor cristocêntrico, comunhão com outros grupos jovens luteranos. 

Basicamente, a proposta do evento para atrair jovens é fazer apenas aquilo que historicamente é nossa identidade. 

Martinho Lutero e seus companheiros obviamente tiveram uma parte significativa no movimento que a história chama de Reforma Protestante. Não é de admirar, então, que os luteranos sejam apropriadamente chamados de protestantes. Com um aceno para nossos irmãos anglicanos, nós luteranos estávamos entre os primeiros "manifestantes" dos abusos teológicos que ocorreram na igreja cristã ocidental no início do século XVI. Mas hoje, 500 anos após esta reforma, o termo “protestante” parece ter mudado muito sua acepção. 

Tirem os crucifixos do altar! Vela é só quando falta energia! Imagens de santos é idolatria! Como assim você usa um crucifixo no pescoço? Vamos tirar a liturgia para não ficar com cara de missa! Pra que se prostrar toda vez que a trindade é mencionada? Hoje, alguns estão ativamente se esforçando em perder sua identidade luterana. Há várias razões que contribuem para esse movimento, mas por trás disso, eu acho, está um profundo desejo de se assemelhar a si mesmos com o movimento atualmente conhecido como Protestantismo (que de histórico já não tem nada). É como se não pudessem se livrar de seu fardo rápido o suficiente 

Mas, apesar dessas interações, não há dúvida de que não sou protestante, pois meus pares entendem o termo. Enquanto meus irmãos protestantes acreditam que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, eles não compartilham da compreensão bíblica, entre outras coisas, da justificação somente pela fé, dos Sacramentos e da presença real, etc. Para alguns, nem mesmo confessar o Credo dos Apóstolos é possível. O Credo Atanasiano então nem se fale. Para muitos, a teologia do Livro de Concórdia é insignificante ou ofensiva. Em outras palavras, meus irmãos protestantes não se identificam como nós. E nem deveriam. Por que então alguns de dentro querem identificar a si mesmos e suas congregações com o protestantismo atual? 

O que os atrai a se identificar com aqueles que compartilham tão pouco do que as nossas confissões proclamam, se entendemos serem elas fiel exposição das Escrituras? Rejeitam o que se ensina sobre o pecado original e o livre arbítrio, já que grande parte de sua nova linguagem teológica promove uma afeição de si contra a realidade bíblica de que somos pobres e miseráveis ​​pecadores necessitados da graça de Deus. 

Será que eles não mais acreditam que a justificação pela graça através da fé é o artigo sobre o qual a Igreja permanece ou cai? Esses que se empenham em desconstruir a identidade eclesiológica, creem que a Confissão de Augsburgo ensina que a Igreja é a congregação dos santos, na qual o evangelho é corretamente ensinado e os Sacramentos são corretamente administrados? Em caso afirmativo, como eles entendem sua redefinição do Evangelho e dos Sacramentos em termos que não têm fundamento nas Escrituras, nas Confissões ou na tradição da igreja católica? Quando o altar vira palco, como estes entendem a dignidade do Sacramento do Altar? 

Falando sobre os sacramentos, como aqueles que estão tão ansiosos para abandonar seu rótulo luterano justificam a falta de fontes batismais e altares em seus lugares de culto modernos? Quanto à adoração, eu me pergunto como esses luteranos interpretam o Artigo XXIV da Confissão de Augsburgo: “A missa é realizada entre nós e celebrada com a mais alta importância”. Pois quando alguém assiste à sua “adoração”, há poucos, se algum, sinais daquilo que a igreja católica define como adoração. 

A música, para alguns destes, parece ter se tornado um novo sacramento, transmitindo como intermediário a presença e experiência de Deus, estabelecendo um elo místico entre Deus e o adorador. Com os olhos fechados e as mãos no ar, os participantes repetem frases simples que se tornam mantras cristãos. Realmente, Deus habita entre os louvores de seu povo (Sl22.3), mas na medida em que Sua Palavra está presente. Não é o solo de guitarra, mas o Evangelho que manifesta a presença de Deus. Estes cânticos que se tem usado estão realmente trazendo a presença de Deus? Há anúncio da Palavra em todos eles, todo o tempo, são Cristocêntricos? 

Aqueles que tão desesperadamente querem se identificar com a igreja protestante - a igreja em constante mudança e em constante evolução. A igreja que precisa mudar. Precisa ficar em um estado de protesto sem fim. Contra o que? Tudo, parece. Qualquer coisa que possa ser percebida como antiga, fora do toque ou diferente da cultura contemporânea. A eterna verdade do Evangelho? A promessa de Cristo e Sua Igreja? Eu acho que não é o suficiente... 

A estratégia para atrair jovens em alguns lugares tem sido mudar uma verdade histórica como uma ferramenta de Evangelização. Mas me pregunto, que Evangelho? A Igreja que creio é a igreja de Atos, fundada por Cristo e que dia a dia o Senhor ia acrescentando os que haveriam de se Salvar (At2.47). Eu ainda creio na igreja que cresce com a Palavra e os Sacramentos. Não creio na igreja que cresce com estratégias humanas quando isto significa abandonar a fé católica, aquela confessada por nós em todos os lugares, em todas as épocas. 

Mas os as ordens de culto são adiáforos (indiferentes) dizem alguns. Ouvimos "que não é necessário", "que é inútil". Rejeita-se muito da riqueza da liturgia, com o pretexto de que não há nenhum benefício em zelar por ela, especialmente se não quisermos fazê-lo. E ai de quem se atreva a invocar os benefícios de algo que simplesmente podemos rejeitar. "Adiáforo", como nossas confissões e nossos dogmáticos sustentam, não é sinônimo de "é proibido". Realmente, há muitas coisas que não somos obrigados a fazer (ou não fazer), mas isso não significa que elas não sejam benéficas, boas ou significativas. 

Já para os que advogam transformar a nossa liturgia Cristocêntrica em shows de música que apenas repetem um mesmo refrão infinitas vezes e danças e tudo o mais para “sentir” a presença de Deus, bom: 

Espetáculos inúteis, pueris, sem proveito para a boa ordem, a disciplina cristã ou o decoro evangélico na igreja, igualmente não são adiáforos ou coisas indiferentes. 
Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, artigo X. 7 

A igreja pode mudar seus ritos? Sim, como de fato o faz, mas mudar as roupas não nos faz pessoas diferentes. Seja por qual rito que for, oriental, prussiano, Bávaro, LCMS, ou ainda de baixa liturgia, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais! Nós, luteranos, podemos ter iniciado toda essa coisa "protestante", mas qualquer afiliação com o protestantismo do século 21 pode ter que terminar. Não somos os mesmos. Nós não somos protestantes. Nós somos luteranos!

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