domingo, 20 de maio de 2018

Como Lutero ainda desafia os protestantes




Martinho Lutero desafiou e continua a desafiar a teologia romana de modo profundo, mas ele também desafiou e continua a desafiar diversas vertentes protestantes que se levantaram. Na verdade, na visão de alguns, Lutero parece desafiar o protestantismo muito mais que o catolicismo romano. 

A maioria dos escritos não luteranos sobre a vida e obra de Lutero, até onde os tenho lido, parecem não compreender exatamente os pontos centrais. 

Protestantes em geral amam falar em “aceitar Jesus pela fé”, o que certamente parece remeter a um dos grandes ensinos luteranos, Sola Fide. Normalmente, entretanto, isto é apresentado como uma decisão que precisamos tomar, como se por nosso próprio livre-arbítrio. Lutero, em contrapartida, repudiava qualquer ideia de livre-arbítrio em matéria de salvação, já que nossa confiança em nosso próprio livre-arbítrio está no centro de toda tentativa de se buscar justificação por boas obras ao invés de ser somente pela fé. A grande meta pastoral do pensamento cristão de Lutero sobre a justificação pela fé é de nos libertar do jugo da ideia de que nossa salvação dependa em qualquer parte de nós, nosso coração, nossa vontade, nossas obras, o mesmo de nossa decisão em “aceitar Jesus”. 

Para tudo que nos dispomos a fazer neste sentido, poderíamos nos perguntar “Eu estou fazendo o suficiente?”, E a resposta de Lutero será sempre: “Não o suficiente para te livrar da condenação”. Nenhum ato de nosso livre-arbítrio, e consequentemente nenhuma decisão nossa, será uma exceção a esta resposta. 

Deus já prometeu estas coisas para nós em sua Palavra, e pessoalmente nos dá a cada um que somos batizados, nos dizendo a cada um em particular “EU TE batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Aqui, “EU”, literalmente significa Cristo, que fala através da boca do ministrante, e “TE”, literalmente significa a mim em particular; a cada um a quem é dirigida em particular estas palavras em cada tempo e lugar. 

Logo, pensar que eu devo fazer uma decisão pessoal se eu pertenço ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, é duvidar da palavra de Deus dada a mim no batismo, e, com efeito, ter Deus por mentiroso. 

Falta de fé permanece como um problema na vida cristã, e é importante para nós sentirmos nossa carência à medida que somos assaltados por tentações, as quais Lutero costumava chamar “anfechtungen”, e as considerava uma parte essencial da caminhada com Cristo. Seríamos loucos em confiar durante as tentações em nosso próprio livre-arbítrio, ou nossa habilidade de crer. 

Para Lutero, devemos crer que somos cristãos porque Cristo assim o disse em nosso batismo, não porque tenhamos feito uma decisão, ou tivéssemos uma experiência de conversão, ou feito algo para nos tornarmos cristãos. Se me perguntassem se sou um verdadeiro cristão, a resposta invariavelmente seria “Sim, eu sou batizado!” 

Quando Lutero ensina a justificação somente pela fé, ele não está nos dizendo para termos fé na nossa fé, ao contrário, ele fala de colocarmos a nossa fé sobre a Palavra de Deus somente( Sola Scriptura). Qualquer relato de fé que se baseie em experiência humana, ou qualquer tentativa de tornar a fé algo subjetivo (relativo ao próprio indivíduo), como a moderna teologia liberal tem feito, certamente perdeu o ponto que Lutero se referia.
O que experimentamos, na maior parte é o nosso próprio pecado e a falta de fé 

Fé verdadeira significa justamente nos afastarmos da experiência pessoal e nos aproximarmos de Cristo pela Palavra, contra toda dúvida e tentação, de que toda a Palavra de Deus dada a nós por seu Filho (Solus Christus) é certamente verdade. 

Justificação somente pela fé(Sola Fide), e consequentemente, Somente por Cristo (Solus Christus)!
Isto tem total relação com o ouvirmos Cristo chamando a cada um de nós dizendo “te batizo”, de forma que isto me inclui. 

Quando ouvimos “Este é meu Corpo, dado por vós”, falado em linguagem litúrgica própria, é mera incredulidade negar que Cristo seja verdadeiramente meu. De mesmo modo, também é somente crendo que estas palavras são direcionadas a mim é que sei que verdadeiramente sou Cristão, que tenho um salvador, que eu sou co-herdeiro em sua vida eternamente, não por que eu sei que eu tenho fé ( e francamente, isto não é algo que eu possa comprovar por mim), mas porque eu sei que Cristo não mente. 

Nosso cristianismo não seja de termos fé em nossa fé, mas pela Palavra daquele que não pode mentir, sabemos que estamos seguros com ele, e que ele nos guardará, porque assim ele prometeu.

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