quinta-feira, 24 de maio de 2018

O Louvor e a Devoção na vida diária




Uma verdade que é bem sólida para nós é que a salvação é uma via de mão-única. É um presente de Deus para o homem. Não há nada que nós possamos fazer para merecer este dom. Disto, uma consequência imediata desta teologia é o questionamento do posicionamento especial do clero. Ter os sacerdotes como intermediários entre o divino e o povo, advogando em favor do povo, que padece e se compadece dos sacrifícios oferecidos. Mas, se a salvação não depende em nada destas obras de intermediação e penitência por parte dos sacerdotes, eles não são indispensáveis para o estudo da Palavra entre as famílias cristãs. Todo cristão se torna um pequeno sacerdote em seu próprio lar. Este é o sacerdócio de todos os crentes, o sacerdócio universal.

Todos os que receberam a salvação por Graça e fé experimentam este contato com o Deus presente na Palavra de modo direto. Esta, inclusive, foi a razão pela qual a Bíblia foi traduzida para a língua alemã (a língua do povo).

Nosso conceito de vocação, neste sentido é bem diferente. Nenhuma vocação arrecada mais méritos diante de Deus. Uma vida de regime de trabalhos específicos não te levará mais próximo de Deus.

A palavra “vocação”, que vem de “chamar” no latim, fez, durante muito tempo as pessoas entenderem que sacerdotes tinham uma posição especial, um estado de graça maior que os demais, pois estes era literalmente “chamados” ao ministério.

Para Lutero, cada profissão era uma vocação. Deus vocaciona de seus ministros, mas também de donas de casa, padeiros, sapateiros, banqueiros, e todos os demais para servirem no corpo de Cristo. Deus vocaciona pais, colegas e amigos para caminharem juntos. Todas estas são vocações. (e isto mais tarde, especialmente sob o modelo calvinista irá inaugurar o que Max Weber chamaria da “ética protestante”, que foi a base para a migração do antigo feudalismo para a sociedade capitalista.

Em suma, isto significa que a vida diária não é formada de atividades religiosas e outras não-religiosas. Nenhuma delas é comum, mas todas são vocação divina.

Portanto, o que leva um jovem a decidir largar sua família e um bom emprego e partir para um seminário de forma alguma o torna mais próximo de Deus senão apenas o tempo que passará em contato devocional com a Palavra. Esta decisão, nada mais será que a absoluta convicção de que nenhum outro caminho o realizaria nesta vida.

Na Alemanha, Philip Spener (1635-1705) e alguns que o acompanharam encorajavam então os fiéis a não apenas participarem nos cultos, mas também em pequenos grupos (Collegia Pietatis) para estudo bíblicos regulares e entoarem hinos. 

Quando entendemos então que buscar a Deus em família ou mesmo a sós é privilégio de todos os filhos e filhas de Deus, mesmo quando não há um ministro ordenado para tal, então surge esta bela forma de devoção que são os altares domésticos.

Um lugar visível na casa destinado a oração e leitura da Palavra que nos ajuda a mantermos a frequência e nos inspira.

Por certo que a igreja é o lugar próprio da oração litúrgica e um local privilegiado para a dignidade do sacramento do altar, a presença real de Cristo. Para a oração pessoal, esta antiga tradição dos recantos de oração, um pequeno altar doméstico pode servir para se estar no segredo diante do Pai. Em família, o altar doméstico favorece a oração em comum.

Na vocação de nossas casas, nossas famílias são uma verdadeira igreja, a ecclesia domestica. Nossos pais são nossos primeiros arautos da fé ao serviço da vocação própria de cada um.

Como bem diz o catecismo romano: §1666. O lar cristão é o lugar onde os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. É por isso que a casa de família se chama, com razão, «Igreja doméstica», comunidade de graça e de oração, escola de virtudes humanas e de caridade cristã.


Com isto, entendemos certamente que a ideia de um pastor, presbítero, diácono, ou outro nome que se dê possuir uma proximidade maior com Deus, ou um mérito por suas ações não é o melhor pensamento cristão. Deus ama seus vocacionados, tanto os bispos quanto os sapateiros!

Ao deixarmos nossa vida devocional apenas nas mãos de um pastor não é a melhor medida de uma vida cristã. Lembro-me com tristeza de um pastor amigo me confidenciando de uma mãe que tinha lhe perguntado quando ela deveria começar a falar de Jesus para seu filho. O menino já tinha cerca de seus cinco anos.

Certamente que a salvação daquela pequena criança não depende da ecclesia domestica, mas sem dúvidas, esta família deixava de gozar do privilégio de serem para o filho seus primeiros ministros e catequistas. De fato, ao professarmos a salvação somente pela fé e pela graça, entendemos que a prática de se ter um altar doméstico não fará de qualquer pessoa mais ou menos santa. Mas sem dúvidas, ter um centro de devoção todos os dias ao alcance dos olhos não nos deixa esquecermos que somos todos chamados por Deus e temos o prazer de poder estar com o Pai pelos méritos de Cristo, na unidade do Espírito.



COMO MONTAR UM ALTAR DOMÉSTICO?

A boa notícia é que não há uma lista de itens que você precisa anotar e comprar, nem um local onde deva ser obrigatoriamente posicionado. Não importa se está na sala, ou num quarto, nem se é repleto de itens e coisas bonitas.

Há quem mantenha um altar liturgicamente completo, velas, bíblia, crucifixo, flores, paramentos, incenso, ícones, dependendo da tradição religiosa que se segue. Há quem tenha apenas uma bíblia e um hinário, há quem tenha uma mensa montada constantemente, há quem possua um pequeno oratório, e aqueles que no momento da devoção tiram os itens guardados e se reúnem. Realmente, a estética não é o foco, mas seu uso.

Não importa qual a vocação de sua vida profissional, lembre-se que também há uma vocação na sua vida espiritual e desenvolvê-la em família em torno de um pequeno altar é uma bela forma de manter viva a igreja doméstica.

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